Luciano Buarque de Holanda resenha no Valor a ótima série documental da Netflix, vale assistir e ler a crítica. Publicada no jornal na sexta, 14/8. Abaixo a íntegra.
A máfia em Nova York tem origens na década de 1930 e mantém-se ativa até hoje, mas houve um período, entre os anos 1970 e 1980, em que cinco famílias do crime organizado exerceram pleno controle da cidade.
Suas atividades iam muito além do tráfico de drogas, do circuito de apostas, da agiotagem e prostituição. Hotéis, restaurantes, casas noturnas, o mercado de peixes, a indústria têxtil: praticamente todos os setores do comércio tinham alguma conexão com a máfia. Tal influência estendia-se aos sindicatos, por conseguinte, aos rumos da política americana. O FBI não sabia o que fazer.
Minissérie documental dividida em três capítulos, recheada de imagens de arquivos e áudios inéditos da polícia nova-iorquina, “Nova York Contra a Máfia” retrata essa era que hoje parece distante, encapsulada nos filmes de Martin Scorsese. Aqui, aliás, podemos comprovar o quão realista é a abordagem do cineasta.
O carregado sotaque ítalo-americano, a verborragia pontuada por palavrões começados com a letra “f”, os truculentos tipos físicos, adornados por costeletas e grandes óculos escuros, tudo parece saído de filmes como “Caminhos Perigosos”, “Os Bons Companheiros”, “Cassino” e o recente “O Irlandês”.
O roteiro parte dos esforços do FBI em se nivelar ao mesmo nível de organização das “Cinco Famílias”. As investigações iniciais andavam em círculos. Os chamados “soldados” da máfia, destacados às atividades mais violentas, nas ruas, podiam ser pegos em flagrante, mas jamais denunciavam o alto escalão, temendo pela própria vida. Dessa forma, a “Cosa Nostra” americana permanecia intacta.
Veremos como sistemas de escuta tiveram um papel fundamental no declínio das “Cinco Famílias”. O FBI entendeu que a única forma de desmantelar o crime organizado seria partindo de cima, incriminando chefões e figuras-chave das organizações.
Acordos entre empresas de telefonia e de TV a cabo levaram os agentes federais a implantar grampos em locais estratégicos das (antes impenetráveis) mansões da máfia. Eles ouviriam mais que o necessário, como, por exemplo, o tórrido “affair” entre Paul Castellano, chefão da família Gambino, e sua empregada, registrado numa cozinha, em meio a sons de panelas fumegantes.
A crítica em torno de “Nova York Contra a Máfia” concentra-se no fato de que a minissérie pouco acrescenta a um tema já muito dissecado no cinema, na TV e na literatura (sobretudo de não ficção).
Mas esse é o ponto de vista dos aficionados. Uma grande maioria nunca ouviu falar nas famílias Bonanno, Colombo, Gambino, Genovese ou Lucchese. Ao menos para leigos, trata-se de uma excelente introdução.
“Nova York Contra a Máfia” (minissérie)
EUA - 2020. Dir.: Sam Hobkinson. Netflix / AA+
AAA Excepcional / AA+ Alta qualidade / BBB Acima da média / BB+ Moderado / CCC Baixa qualidade / C Alto risco
A máfia em Nova York tem origens na década de 1930 e mantém-se ativa até hoje, mas houve um período, entre os anos 1970 e 1980, em que cinco famílias do crime organizado exerceram pleno controle da cidade.
Suas atividades iam muito além do tráfico de drogas, do circuito de apostas, da agiotagem e prostituição. Hotéis, restaurantes, casas noturnas, o mercado de peixes, a indústria têxtil: praticamente todos os setores do comércio tinham alguma conexão com a máfia. Tal influência estendia-se aos sindicatos, por conseguinte, aos rumos da política americana. O FBI não sabia o que fazer.
Minissérie documental dividida em três capítulos, recheada de imagens de arquivos e áudios inéditos da polícia nova-iorquina, “Nova York Contra a Máfia” retrata essa era que hoje parece distante, encapsulada nos filmes de Martin Scorsese. Aqui, aliás, podemos comprovar o quão realista é a abordagem do cineasta.
O carregado sotaque ítalo-americano, a verborragia pontuada por palavrões começados com a letra “f”, os truculentos tipos físicos, adornados por costeletas e grandes óculos escuros, tudo parece saído de filmes como “Caminhos Perigosos”, “Os Bons Companheiros”, “Cassino” e o recente “O Irlandês”.
O roteiro parte dos esforços do FBI em se nivelar ao mesmo nível de organização das “Cinco Famílias”. As investigações iniciais andavam em círculos. Os chamados “soldados” da máfia, destacados às atividades mais violentas, nas ruas, podiam ser pegos em flagrante, mas jamais denunciavam o alto escalão, temendo pela própria vida. Dessa forma, a “Cosa Nostra” americana permanecia intacta.
Veremos como sistemas de escuta tiveram um papel fundamental no declínio das “Cinco Famílias”. O FBI entendeu que a única forma de desmantelar o crime organizado seria partindo de cima, incriminando chefões e figuras-chave das organizações.
Acordos entre empresas de telefonia e de TV a cabo levaram os agentes federais a implantar grampos em locais estratégicos das (antes impenetráveis) mansões da máfia. Eles ouviriam mais que o necessário, como, por exemplo, o tórrido “affair” entre Paul Castellano, chefão da família Gambino, e sua empregada, registrado numa cozinha, em meio a sons de panelas fumegantes.
A crítica em torno de “Nova York Contra a Máfia” concentra-se no fato de que a minissérie pouco acrescenta a um tema já muito dissecado no cinema, na TV e na literatura (sobretudo de não ficção).
Mas esse é o ponto de vista dos aficionados. Uma grande maioria nunca ouviu falar nas famílias Bonanno, Colombo, Gambino, Genovese ou Lucchese. Ao menos para leigos, trata-se de uma excelente introdução.
“Nova York Contra a Máfia” (minissérie)
EUA - 2020. Dir.: Sam Hobkinson. Netflix / AA+
AAA Excepcional / AA+ Alta qualidade / BBB Acima da média / BB+ Moderado / CCC Baixa qualidade / C Alto risco
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