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Em uma rara semana sem maiores turbulências na política brasileira, a história da menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio e engravidou, realizando um aborto legal no último domingo, chocou o país e mobilizou hordas de militantes anti-aborto nas redes sociais e até mesmo presencialmente, no hospital em que a criança foi internada para realizar o procedimento.
O choque ocorreu porque o caso ganhou visibilidade na mídia depois da reação conservadora durante a semana toda, mas a história não deveria ser motivo de surpresa: todos os dias, no Brasil, acontecem 6 abortos com crianças entre 10 e 14 anos, e boa parte deles, senão a totalidade, é fruto de estupros cometidos por parentes, como aconteceu com a menina em questão, cuja identidade deveria ter sido preservada. Deveria, porque uma militante de extrema-direita expôs os dados da criança em suas redes sociais, causando, aí sim, perplexidade com tamanhã insensibilidade.
Também chamou atenção que a menina tivesse que ser levada do Espírito Santo para Pernambuco para fazer o procedimento. A desculpa foi de que não havia ninguém disponível para realizar o aborto da criança, o que é risível, pois não se trata de uma coisa muito complicada, ao contrário, é básico em medicina.
A sucessão de horrores culminou na prisão do tio da garota, principal suspeito do estupro, e em seu pedido para que fossem realizados exames também no avô e no outro tio dela, o que, se confirmado, mostra uma situação de abuso generalizada na família.
O caso é, no fundo, o retrato de um Brasil que tentamos fingir que não existe, um país com forte ranço escravocrata, extremamente desigual, violento e machista. É claro que muitos avanços já ocorreram, a Lei Maria da Penha vem sendo aplicada, embora como tudo neste país, seja mais aplicada nos casos de violência contra mulheres brancas e ricas. A negras ou brancas quase negras de tão pobres que são espancadas diariamente por maridos ou amantes bêbados ou sóbrios não têm a menor ideia de que poderiam recorrer à polícia para se proteger, até porque têm mais medo da polícia do que de seus cônjuges. É triste, mas é a realidade. O Brasil para dar certo tem que evoluir muito ainda. (por Luiz Antonio Magalhães em 22/8/20)
Em uma rara semana sem maiores turbulências na política brasileira, a história da menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio e engravidou, realizando um aborto legal no último domingo, chocou o país e mobilizou hordas de militantes anti-aborto nas redes sociais e até mesmo presencialmente, no hospital em que a criança foi internada para realizar o procedimento.
O choque ocorreu porque o caso ganhou visibilidade na mídia depois da reação conservadora durante a semana toda, mas a história não deveria ser motivo de surpresa: todos os dias, no Brasil, acontecem 6 abortos com crianças entre 10 e 14 anos, e boa parte deles, senão a totalidade, é fruto de estupros cometidos por parentes, como aconteceu com a menina em questão, cuja identidade deveria ter sido preservada. Deveria, porque uma militante de extrema-direita expôs os dados da criança em suas redes sociais, causando, aí sim, perplexidade com tamanhã insensibilidade.
Também chamou atenção que a menina tivesse que ser levada do Espírito Santo para Pernambuco para fazer o procedimento. A desculpa foi de que não havia ninguém disponível para realizar o aborto da criança, o que é risível, pois não se trata de uma coisa muito complicada, ao contrário, é básico em medicina.
A sucessão de horrores culminou na prisão do tio da garota, principal suspeito do estupro, e em seu pedido para que fossem realizados exames também no avô e no outro tio dela, o que, se confirmado, mostra uma situação de abuso generalizada na família.
O caso é, no fundo, o retrato de um Brasil que tentamos fingir que não existe, um país com forte ranço escravocrata, extremamente desigual, violento e machista. É claro que muitos avanços já ocorreram, a Lei Maria da Penha vem sendo aplicada, embora como tudo neste país, seja mais aplicada nos casos de violência contra mulheres brancas e ricas. A negras ou brancas quase negras de tão pobres que são espancadas diariamente por maridos ou amantes bêbados ou sóbrios não têm a menor ideia de que poderiam recorrer à polícia para se proteger, até porque têm mais medo da polícia do que de seus cônjuges. É triste, mas é a realidade. O Brasil para dar certo tem que evoluir muito ainda. (por Luiz Antonio Magalhães em 22/8/20)
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