Pular para o conteúdo principal

E se Paulo Guedes sair?

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação

Os sucessivos discursos do presidente Jair Bolsonaro desautorizando seu ministro da Economia em diversos temas, principalmente no tocante ao novo benefício que ampliará o Bolsa Família, suscitou no mercado a dúvida sobre a continuidade do Posto Ipiranga na condução da política econômica nacional. Alguns analistas avaliaram que uma eventual saída de Guedes do governo poderia fragilizar Bolsonaro, que perderia o apoio da Faria Lima e Leblon. Bobagem, se o ministro deixar o cargo, não vai acontecer absolutamente nada, salvo algum movimento na Bolsa quando e se o fato ocorrer, o que seria até natural.
E por que não faz mais a menor diferença a permanência de Guedes no cargo? Primeiro, porque ele já está realizando uma gestão completamente diferente daquela esperada pelo mercado financeiro, em função da pandemia e das ordens de seu chefe. A agenda ultraliberal foi abandonada, não houve qualquer privatização relevante desde a posse do novo governo nem tampouco foram implementadas medidas mais radicais neste sentido, ao contrário, a reforma tributária em debate é tímida e, a bem da verdade, está sendo conduzida pelo presidente da Câmara e não pela equipe econômica.
Em segundo lugar, o mercado já entendeu que tanto faz quem está no comando dos ministérios, pois é Bolsonaro quem manda e dá a última palavra, o que ficou claro na fala do presidente que não vai tirar benefícios dos pobres para dar aos paupérrimos, contrariando Guedes e sua proposta para conseguir chegar ao valor desejado pelo presidente para o novo auxílio, de R$ 300.
Até mesmo Paulo Guedes parece ter desistido de levar adiante uma queda de braço com o presidente e tem colocado panos quentes na polêmica, fugindo do confronto direto. O ministro, aliás, já perdeu diversos integrantes de sua equipe original justamente pela postura conciliadora e pouco aguerrida na defesa dos valores que o levaram ao ministério.
Aparentemente, o foco agora é a reeleição de Jair Bolsonaro, e para isto nada melhor do que uma política econômica assistencialista na veia. É o que está ocorrendo agora e deve prosseguir até o final do mandato. Liberalismo, só em 2023. (por Luiz Antonio Magalhães em 22/8/20)



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...