Da Newsletter da LAM Comunicação
Para ver e ler durante a pandemia
O leitor que está ainda isolado em casa deveria aproveitar o final desta fase que parece nunca terminar para ler e assistir Celular. A pandemia deixou livro e filme ainda mais atuais. King, mestre dos mestres de suspense e terror, parece estar sempre à frente de seu tempo. O livro foi lançado em 2006, quando os smartphones já existiam, mas estavam longe de serem dominantes o mercado.
O autor destas linhas é um fã confesso de Stephen King, autor que conheceu tardiamente. Claro, já havia assistido O Iluminado, Carrie, a Estranha e outros filmes baseados na obra do genial escritor norte-americano, mas até três anos atrás, ainda não havia lido nada escrito por ele. Virou autor obrigatório.
Em Celular, King cria uma situação muito interessante: uma tarde de 1º de outubro, todos os celulares do planeta são alvo de um “pulso”, fazendo com que todos que estivessem em ligações se tornassem uma espécie de zumbi, ao passo de que quem não estava interagindo no telefone permanecesse normal. Claro, a maioria esmagadora estava lidando com ligações ou trocando mensagens.
E exatamente por isto o que vem a seguir guarda semelhanças com a pandemia de Covid-19, sendo que a ameaça não é um vírus, mas o próprio comportamento dos humanos-zumbis, que em um primeiro momento se tornam muito agressivos, procurando matar os próximos, sejam eles zumbis ou normais.
A trama acompanha a história de três personagens que não foram afetados pelo pulso e vão aos poucos aprendendo a sobreviver na selva que os Estados Unidos se tornam. Há uma lógica no comportamento dos zumbis, que aos poucos se tornam não inofensivos, mas unidos, marchando ao longo do dia para uma suposta região onde não há sinal de celular e onde haverá um grande encontro (sem spoilers, claro).
Os humanos normais começam a perceber que a marcha se dá durante o dia, com luz do sol, e não ocorre à noite, portanto passam a se refugiar e dormir de dia e marchar à noite. Sim, também os “normais” marcham rumo ao mesmo local que os zumbis, outros apenas fogem em direções opostas. Em determinado momento, os três se encontram com outro grupo de sobreviventes que decidem seguir adiante, juntos, para ver no que vai dar a marcha rumo ao lugar sem sinal.
Uma curiosidade: enquanto lia o livro, meu filho mais novo, então com 7 anos, perguntava sobre o enredo e pesquisou no Google se havia um filme baseado no livro. Achou rapidamente, claro, assistimos juntos (à revelia da mãe dele, claro), ainda bem que o filme é fiel ao livro, não há cenas de grande violência, apenas de suspense, o que o deixou (e me deixou) tranquilo.
O que fica da leitura ou da experiência de assistir a versão cinematográfica é uma reflexão sobre o que nos tornamos. Hoje, todo mundo tem smartphone, passa horas e horas trocando mensagens e áudios, pouca gente usa o aparelho para o que ele foi concebido – telefonemas -, e viramos escravos das respostas imediatas, muitas impensadas. Uma vez, em Punta Cana, em 2011, assistimos, eu, a mãe do pequeno e meus filhos mais velhos, a uma cena que hoje se tornou comum, insólita: um casal conversando por algum aplicativo de mensagens, ambos na mesma mesa, um de frente para o outro. Se não estavam conversando entre si, ainda mais bizarro, pois não trocaram uma única palavra durante todo o tempo em que estiveram “juntos” no restaurante.
Realmente, a vida mudou e celulares modificaram a comunicação humana. Em 2006, King já sabia disto e escreveu uma obra que antecipa o que estamos vendo hoje. Um “pulso” certamente não faria mal à humanidade, para que as pessoas possam recuperar a capacidade de conversar, ao vivo, olhando nos olhos, ouvindo e falando, interagindo de forma mesmo mecânica, mais sensível, com escuta e atenção que a comunicação humana merece. Stephen King é mesmo genial, merece ser lido, e Celular é uma das suas melhores obras recentes, ao lado de It, a Coisa, que virou um novo clássico, com versões cinematográficas maravilhosas. Meu pequeno fã de King não vê a hora de fazer 16 anos para assistir. E espero estar por aqui para ver com ele. #ficaadica (por Luiz Antonio Magalhães, em 2/8/2020)
Para ver e ler durante a pandemia
O leitor que está ainda isolado em casa deveria aproveitar o final desta fase que parece nunca terminar para ler e assistir Celular. A pandemia deixou livro e filme ainda mais atuais. King, mestre dos mestres de suspense e terror, parece estar sempre à frente de seu tempo. O livro foi lançado em 2006, quando os smartphones já existiam, mas estavam longe de serem dominantes o mercado.
O autor destas linhas é um fã confesso de Stephen King, autor que conheceu tardiamente. Claro, já havia assistido O Iluminado, Carrie, a Estranha e outros filmes baseados na obra do genial escritor norte-americano, mas até três anos atrás, ainda não havia lido nada escrito por ele. Virou autor obrigatório.
Em Celular, King cria uma situação muito interessante: uma tarde de 1º de outubro, todos os celulares do planeta são alvo de um “pulso”, fazendo com que todos que estivessem em ligações se tornassem uma espécie de zumbi, ao passo de que quem não estava interagindo no telefone permanecesse normal. Claro, a maioria esmagadora estava lidando com ligações ou trocando mensagens.
E exatamente por isto o que vem a seguir guarda semelhanças com a pandemia de Covid-19, sendo que a ameaça não é um vírus, mas o próprio comportamento dos humanos-zumbis, que em um primeiro momento se tornam muito agressivos, procurando matar os próximos, sejam eles zumbis ou normais.
A trama acompanha a história de três personagens que não foram afetados pelo pulso e vão aos poucos aprendendo a sobreviver na selva que os Estados Unidos se tornam. Há uma lógica no comportamento dos zumbis, que aos poucos se tornam não inofensivos, mas unidos, marchando ao longo do dia para uma suposta região onde não há sinal de celular e onde haverá um grande encontro (sem spoilers, claro).
Os humanos normais começam a perceber que a marcha se dá durante o dia, com luz do sol, e não ocorre à noite, portanto passam a se refugiar e dormir de dia e marchar à noite. Sim, também os “normais” marcham rumo ao mesmo local que os zumbis, outros apenas fogem em direções opostas. Em determinado momento, os três se encontram com outro grupo de sobreviventes que decidem seguir adiante, juntos, para ver no que vai dar a marcha rumo ao lugar sem sinal.
Uma curiosidade: enquanto lia o livro, meu filho mais novo, então com 7 anos, perguntava sobre o enredo e pesquisou no Google se havia um filme baseado no livro. Achou rapidamente, claro, assistimos juntos (à revelia da mãe dele, claro), ainda bem que o filme é fiel ao livro, não há cenas de grande violência, apenas de suspense, o que o deixou (e me deixou) tranquilo.
O que fica da leitura ou da experiência de assistir a versão cinematográfica é uma reflexão sobre o que nos tornamos. Hoje, todo mundo tem smartphone, passa horas e horas trocando mensagens e áudios, pouca gente usa o aparelho para o que ele foi concebido – telefonemas -, e viramos escravos das respostas imediatas, muitas impensadas. Uma vez, em Punta Cana, em 2011, assistimos, eu, a mãe do pequeno e meus filhos mais velhos, a uma cena que hoje se tornou comum, insólita: um casal conversando por algum aplicativo de mensagens, ambos na mesma mesa, um de frente para o outro. Se não estavam conversando entre si, ainda mais bizarro, pois não trocaram uma única palavra durante todo o tempo em que estiveram “juntos” no restaurante.
Realmente, a vida mudou e celulares modificaram a comunicação humana. Em 2006, King já sabia disto e escreveu uma obra que antecipa o que estamos vendo hoje. Um “pulso” certamente não faria mal à humanidade, para que as pessoas possam recuperar a capacidade de conversar, ao vivo, olhando nos olhos, ouvindo e falando, interagindo de forma mesmo mecânica, mais sensível, com escuta e atenção que a comunicação humana merece. Stephen King é mesmo genial, merece ser lido, e Celular é uma das suas melhores obras recentes, ao lado de It, a Coisa, que virou um novo clássico, com versões cinematográficas maravilhosas. Meu pequeno fã de King não vê a hora de fazer 16 anos para assistir. E espero estar por aqui para ver com ele. #ficaadica (por Luiz Antonio Magalhães, em 2/8/2020)
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