O que vai abaixo é o artigo da semana para o Correio da Cidadania, em primeira mão para os leitores do blog.
Mais uma pesquisa sobre a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi divulgada na semana passada, mostrando aumento na aprovação ao modo de Lula governar (65% em dezembro para 73%) e na avaliação positiva do governo (51% para 58%). São números que falam por si e Lula só não pode dizer que "nunca antes neste país" houve um presidente tão popular porque ele próprio conseguiu, em janeiro de 2003, 75% de aprovação.
A explicação para tamanha aprovação é tão óbvia que os jornais nem mais publicam as matérias com cientistas políticos, porque eles nada têm a acrescentar: sim, é a economia, e não poderia mesmo ser outra coisa. Na semana passada, alguns dos dados divulgados estão na raiz da explicação: o emprego formal só faz crescer (ainda que o desemprego tenha subido, o que não é contraditório, porque o desemprego sempre cresce no início do ano e a variação observada em 2008 foi a menor da série histórica, ou seja, o desemprego é o menor para esta época do ano desde a década de 90), o consumo continua bombando, conforme foi possível verificar com o balanço das vendas de supermercado em 2007 (crescimento de 9%) e ocorre uma pequena, mas importante, distribuição da renda, com aumento da classe C, diminuição da D e E, acompanhada de ligeira diminuição da A e B.
Em suma, a equação é simples: o povão está vivendo melhor - comendo mais e comprando bens que facilitam a sua vida (máquinas de lavar roupas, geladeiras, fogões e computadores, especialmente) – e atribui as melhorias ao governo Lula, ainda que apenas em parte o presidente tenha sido responsável pelo que vem ocorrendo. Na avaliação dos eleitores, o que vale é a percepção real das suas condições de vida, a partir de respostas a questões bem pragmáticas. Por exemplo: está mais fácil arrumar trabalho agora do que no tempo de Fernando Henrique? Sim, portanto, ponto para Lula. É mais simples arrumar crédito para comprar aquele bem que fazia falta em casa? Sim, mais um ponto para Lula. E por aí vai. Não há um único quesito que o povão enxergue um melhor desempenho dos governantes anteriores, o que fica claro na pesquisa Ibope sobre as expectativas da população sobre temas econômicos como renda e emprego. Basta olhar a série histórica para perceber que os brasileiros estão muito satisfeitos com o atual governo e bastante otimistas com o futuro, apesar de todo o terrorismo da mídia sobre a possibilidade de contaminação da crise americana nos países emergentes.
Em meio a este cenário tão favorável ao presidente Lula, uma nova "denúncia" contra o governo surgiu, atingindo diretamente a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A história toda ainda está nebulosa, mas em linhas gerais o que se tem é uma acusação contra uma assessora graduada da ministra de montagem de um "dossiê" com os gastos em cartões corporativos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher, a ex-primeira dama Ruth Cardoso.
Dossiê ou "levantamento de dados", como quer Dilma, pouco importa neste momento. O fato é que a oposição conseguiu um tema para bater o seu bumbo histérico e, convenhamos, um tanto desafinado contra o governo Lula. Sem projeto alternativo para o país, sem poder comparar a gestão passada com a atual e cada vez mais dividida internamente, restam aos opositores do governo petista três alternativas: 1. torcer para que a crise americana seja realmente séria e provoque uma recessão mundial, afetando diretamente o Brasil – é o velho mote "quanto pior, melhor; 2. continuar fazendo uma crítica udenista da gestão Lula, torcendo para que apareça algum escândalo que implique o presidente, pessoalmente; e 3. resignar-se com o sucesso do governo e lançar uma candidatura mais "light" em 2010, com perfil ao agrado do eleitorado de esquerda que não terá Lula como referência nas próximas eleições.
A primeira hipótese tem a cara do governador paulista José Serra (PSDB), que se apresentaria então como um líder experimentado e conhecedor dos meandros da economia, apto a resgatar o país da crise. Serra até deve estar torcendo para que a crise tenha alguma conseqüência no Brasil, mas evidentemente não pode fazer de sua torcida uma estratégia política, como aliás ninguém em sã consciência faria. A segunda alternativa é hoje o "modus operandi" dos Democratas, que tentam sobreviver batendo cada vez mais forte em Lula para aparecer em 2010 como os únicos que realmente fizeram oposição ao PT. A terceira alternativa tem nome e sobrenome: Aécio Neves. Pelo PSDB ou pelo PMDB, ele já se lançou como o candidato "pós-Lula", ou seja, que não será o "anti-Lula".
Do ponto de vista do governo, a encrenca com Dilma é coisa simples. Se os fatos mostrarem que a ministra teve alguma culpa no cartório, Lula não terá a menor dificuldade de mandar a mãe do PAC para casa, a fim de que ele prove sua inocência. É o que tem feito este governo desde o primeiro "escândalo" e já foram afastados ministros bem mais poderosos politicamente do que Dilma Rousseff. Se a ministra conseguir se defender a contento nesta semana, ela permanece no primeiro escalão, mas deve tomar chá de sumiço por uns tempos.
Nos dois casos, parece claro que o PT terá que pensar em outro nome para a presidência em 2010 – o que de certa forma pode até ser positivo eleitoralmente, visto que Dilma sairia da casa de 2% das intenções de voto. Aliás, pouca gente no PT fala do assunto em público, mas a verdade é que se Marta Suplicy vencer a eleição na capital paulista, e esta hipótese não é nem de longe desprezível, a atual titular da pasta do Turismo se torna uma pré-candidata fortíssima, saindo de um patamar bem mais elevado do que Dilma. Mas muita água ainda vai correr por debaixo da ponte até 2010 e Lula sabe disto mais do que ningúem.
Mais uma pesquisa sobre a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi divulgada na semana passada, mostrando aumento na aprovação ao modo de Lula governar (65% em dezembro para 73%) e na avaliação positiva do governo (51% para 58%). São números que falam por si e Lula só não pode dizer que "nunca antes neste país" houve um presidente tão popular porque ele próprio conseguiu, em janeiro de 2003, 75% de aprovação.
A explicação para tamanha aprovação é tão óbvia que os jornais nem mais publicam as matérias com cientistas políticos, porque eles nada têm a acrescentar: sim, é a economia, e não poderia mesmo ser outra coisa. Na semana passada, alguns dos dados divulgados estão na raiz da explicação: o emprego formal só faz crescer (ainda que o desemprego tenha subido, o que não é contraditório, porque o desemprego sempre cresce no início do ano e a variação observada em 2008 foi a menor da série histórica, ou seja, o desemprego é o menor para esta época do ano desde a década de 90), o consumo continua bombando, conforme foi possível verificar com o balanço das vendas de supermercado em 2007 (crescimento de 9%) e ocorre uma pequena, mas importante, distribuição da renda, com aumento da classe C, diminuição da D e E, acompanhada de ligeira diminuição da A e B.
Em suma, a equação é simples: o povão está vivendo melhor - comendo mais e comprando bens que facilitam a sua vida (máquinas de lavar roupas, geladeiras, fogões e computadores, especialmente) – e atribui as melhorias ao governo Lula, ainda que apenas em parte o presidente tenha sido responsável pelo que vem ocorrendo. Na avaliação dos eleitores, o que vale é a percepção real das suas condições de vida, a partir de respostas a questões bem pragmáticas. Por exemplo: está mais fácil arrumar trabalho agora do que no tempo de Fernando Henrique? Sim, portanto, ponto para Lula. É mais simples arrumar crédito para comprar aquele bem que fazia falta em casa? Sim, mais um ponto para Lula. E por aí vai. Não há um único quesito que o povão enxergue um melhor desempenho dos governantes anteriores, o que fica claro na pesquisa Ibope sobre as expectativas da população sobre temas econômicos como renda e emprego. Basta olhar a série histórica para perceber que os brasileiros estão muito satisfeitos com o atual governo e bastante otimistas com o futuro, apesar de todo o terrorismo da mídia sobre a possibilidade de contaminação da crise americana nos países emergentes.
Em meio a este cenário tão favorável ao presidente Lula, uma nova "denúncia" contra o governo surgiu, atingindo diretamente a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. A história toda ainda está nebulosa, mas em linhas gerais o que se tem é uma acusação contra uma assessora graduada da ministra de montagem de um "dossiê" com os gastos em cartões corporativos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher, a ex-primeira dama Ruth Cardoso.
Dossiê ou "levantamento de dados", como quer Dilma, pouco importa neste momento. O fato é que a oposição conseguiu um tema para bater o seu bumbo histérico e, convenhamos, um tanto desafinado contra o governo Lula. Sem projeto alternativo para o país, sem poder comparar a gestão passada com a atual e cada vez mais dividida internamente, restam aos opositores do governo petista três alternativas: 1. torcer para que a crise americana seja realmente séria e provoque uma recessão mundial, afetando diretamente o Brasil – é o velho mote "quanto pior, melhor; 2. continuar fazendo uma crítica udenista da gestão Lula, torcendo para que apareça algum escândalo que implique o presidente, pessoalmente; e 3. resignar-se com o sucesso do governo e lançar uma candidatura mais "light" em 2010, com perfil ao agrado do eleitorado de esquerda que não terá Lula como referência nas próximas eleições.
A primeira hipótese tem a cara do governador paulista José Serra (PSDB), que se apresentaria então como um líder experimentado e conhecedor dos meandros da economia, apto a resgatar o país da crise. Serra até deve estar torcendo para que a crise tenha alguma conseqüência no Brasil, mas evidentemente não pode fazer de sua torcida uma estratégia política, como aliás ninguém em sã consciência faria. A segunda alternativa é hoje o "modus operandi" dos Democratas, que tentam sobreviver batendo cada vez mais forte em Lula para aparecer em 2010 como os únicos que realmente fizeram oposição ao PT. A terceira alternativa tem nome e sobrenome: Aécio Neves. Pelo PSDB ou pelo PMDB, ele já se lançou como o candidato "pós-Lula", ou seja, que não será o "anti-Lula".
Do ponto de vista do governo, a encrenca com Dilma é coisa simples. Se os fatos mostrarem que a ministra teve alguma culpa no cartório, Lula não terá a menor dificuldade de mandar a mãe do PAC para casa, a fim de que ele prove sua inocência. É o que tem feito este governo desde o primeiro "escândalo" e já foram afastados ministros bem mais poderosos politicamente do que Dilma Rousseff. Se a ministra conseguir se defender a contento nesta semana, ela permanece no primeiro escalão, mas deve tomar chá de sumiço por uns tempos.
Nos dois casos, parece claro que o PT terá que pensar em outro nome para a presidência em 2010 – o que de certa forma pode até ser positivo eleitoralmente, visto que Dilma sairia da casa de 2% das intenções de voto. Aliás, pouca gente no PT fala do assunto em público, mas a verdade é que se Marta Suplicy vencer a eleição na capital paulista, e esta hipótese não é nem de longe desprezível, a atual titular da pasta do Turismo se torna uma pré-candidata fortíssima, saindo de um patamar bem mais elevado do que Dilma. Mas muita água ainda vai correr por debaixo da ponte até 2010 e Lula sabe disto mais do que ningúem.
Excelente analise.
ResponderExcluirA alternativa Marta para a presidência é de se preocupar...mas quem hoje tem um perfil forte para sentar na caderinha do Lula? A alternativa Serra também é uma icógnita, rs
ResponderExcluirPerguntas não respondidas pelo sr. Josias de Souza:
ResponderExcluir1. Por que pôs na boca da ministra Dilma Roussef, entre aspas, palavras que ela não disse?
2. Por que diz que o TCU não recomendou a criação do SUPRIM, quando o acórdão 230/2006 diz com todas as letras que sim recomendou? [Direto da fonte: "Determina [...] implementar, no Siafi, consulta que, a partir de um dado empenho, apresente as Naturezas de Despesa Detalhadas utilizadas nas respectivas liquidações", e, sobretudo, "A auditoria anteriormente realizada sobre o uso dos cartões de pagamento apontou a dificuldade em se obter informações sobre o detalhamento das despesas realizadas mediante suprimento de fundos (item 11.1 do relatório transcrito no Acórdão 1783/2004-Plenário). No âmbito da SA/PR, essa dificuldade foi remediada com o recente desenvolvimento do SUPRIM."]
3. Por que insiste em dizer que o TCU recomendou que a cobertura de dados se limitasse a 2002, quando não há nada nos acórdãos do TCU a este respeito?