Pular para o conteúdo principal

Paulinho vs. Folha: quem tem razão?

Está engraçada a polêmica provocada pelo deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força (PDT-SP), que ameaça copiar o pessoal da Igreja Universal do Reino de Deus e abrir uma montanha de processos contra dois jornalões – a Folha de S. Paulo e O Globo. Paulinho está irritado com a série de denúncias envolvendo a Força Sindical e o ministério do Trabalho: segundo ele, os jornais, especialmente a Folha, não têm publicado as explicações que ele tem enviado, por meio de cartas. Na semana passada, Paulinho foi bastante sincero e disse que ia iniciar diversos processos não para ganhar, mas "para dar trabalho". E arrematou: "estão fazendo putaria, vamos responder com putaria".

Coincidência ou não, depois da gritaria de Paulinho, a Folha dedicou duas colunas, de alto abaixo, em uma página nobre do primeiro caderno, para a resposta do sindicalista. Evidentemente, isto não impediu que colunistas do jornal aumentassem o tom nas críticas ao líder da Força, como faz na edição desta segunda-feira o editor de Brasil, Fernando de Barros e Silva.

Analisando bem os fatos, Paulinho tem uma certa razão em suas queixas. Ele não nasceu ontem e conhece perfeitamente bem como funciona o jornalismo brasileiro. A Força Sindical sempre foi muito criticada na mídia, que caracteriza a entidade como adepta do "sindicalismo de resultados", deixando no ar a insinuação de corrupção nas negociações das centrais. Paulinho jamais reclamou deste comportamento da imprensa, quando até poderia, sim, ter se sentido ofendido. No caso dos convênios da Força com o ministério do Trabalho, que o deputado pedetista garante que não existem, o argumento não gira em torno de impressões ou críticas genéricas, mas de fatos. Este blog acha muito difícil o sindicalista ter apresentado mentiras para contraditar o jornalão paulista – se há alguma coisa que Paulinho não é, definitivamente, é ingênuo ou burro.

Tudo somado, é bem possível e até provável que a Folha esteja mesmo, na linguagem clara de Paulinho, com "putaria" contra o ministro do Trabalho, Carlos Lupi – um ex-jornaleiro de origem humilde –, e contra o próprio parlamentar e presidente da Força Sindical. Não seria a primeira nem a última vez que o jornalismo brasileiro recorre a tão nobre expediente.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe