Em mais uma colaboração para o blog, o professor Wagner Iglecias escreve sobre o cenário pré-eleitoral em São Paulo. A íntegra do artigo segue abaixo:
Houve um tempo, não faz tantos anos assim, em que a cidade de São Paulo tinha terrenos baldios. Era a época em que os automóveis não tinham monopolizado o espaço, os meninos jogavam futebol na rua e as ruas não eram lugar associado ao perigo. Quando aparecia na rua da gente algum garoto muito bom de bola em geral ele se gabava em cima da molecada com uma frase do tipo “o time sou eu e fulano contra a rapa”. Ou seja, contra os outros meninos, não tão habilidosos assim com a bola nos pés.
A pesquisa Datafolha publicada neste domingo vai mais ou menos neste sentido. Marta Suplicy, do PT, do “relaxa e goza” mas também das altas taxas de aprovação popular a sua gestão na prefeitura, está em ascensão junto ao eleitorado e aparece pela primeira vez liderando a corrida pelo Palácio do Anhangabaú. Passou Geraldo Alckmin, ainda que dentro da margem de erro, e tem mais do que o dobro de intenções de voto destinadas ao atual prefeito, o democrata Gilberto Kassab.
Com a provável ausência de Luiza Erundina na disputa pela prefeitura Marta vai para a eleição enfrentando três candidatos situados bem à direita de sua posição política: Alckmin, Kassab e Maluf. Correrá provavelmente sozinha na faixa progressista do eleitorado. A qual não é nada desprezível. Será Marta contra a rapa.
Se no campo petista a candidatura da ex-prefeita parece irreversível, a divulgação da pesquisa provavelmente só vai fazer acirrar os ânimos no campo conservador, dividido entre as aparentemente inconciliáveis candidaturas daquele que substituiu Serra na prefeitura porque este foi substituir Alckmin no governo do estado. Ou seja, entre Kassab e Alckmin. Tucanos e democrata deverão continuar batendo cabeça, pelo menos por hora, como a gente batia cabeça quando enfrentava o garoto bom de bola que comandava o outro time.
Parece difícil que Alckmin, que está na chuva desde que deixou o governo do estado para disputar com Lula a última eleição presidencial, abra mão de sua candidatura em nome de Kassab. Afinal ele tem considerável experiência administrativa e conta com respeitáveis 28% das intenções de voto, com viés de crescimento.
Kassab, por sua vez, dificilmente abrirá mão de tentar reeleger-se para o cargo que já ocupa, embora se veja às voltas com problemas gravíssimos que São Paulo enfrenta, como o apagão do trânsito, e tenha apenas 13% das intenções de voto.
Pelo andar da carruagem se a eleição fosse hoje teríamos um animado segundo turno do qual o atual prefeito estaria excluído. Não se sabe se Alckmin receberia o apoio real, neste caso, dos democrata e dos tucanos serristas, dadas as tantas divergências que se avolumam no consórcio PSDB-DEM, mas provavelmente herdaria a grande maioria dos eleitores de Kassab. Marta Suplicy, por sua vez, provavelmente contaria, uma vez mais, com um apoio entre envergonhado e esquisito de Paulo Maluf para o embate final.
O resultado, apesar do favoritismo parecer estar mudando de lado, seria imprevisível. Como nas velhas peladas de rua jogadas pelos meninos da periferia da São Paulo dos anos 70 e 80. Muitas vezes perdíamos feio pro garoto bom de bola que chegava botando banca. Mas as vezes ele voltava para casa amargando a derrota.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Houve um tempo, não faz tantos anos assim, em que a cidade de São Paulo tinha terrenos baldios. Era a época em que os automóveis não tinham monopolizado o espaço, os meninos jogavam futebol na rua e as ruas não eram lugar associado ao perigo. Quando aparecia na rua da gente algum garoto muito bom de bola em geral ele se gabava em cima da molecada com uma frase do tipo “o time sou eu e fulano contra a rapa”. Ou seja, contra os outros meninos, não tão habilidosos assim com a bola nos pés.
A pesquisa Datafolha publicada neste domingo vai mais ou menos neste sentido. Marta Suplicy, do PT, do “relaxa e goza” mas também das altas taxas de aprovação popular a sua gestão na prefeitura, está em ascensão junto ao eleitorado e aparece pela primeira vez liderando a corrida pelo Palácio do Anhangabaú. Passou Geraldo Alckmin, ainda que dentro da margem de erro, e tem mais do que o dobro de intenções de voto destinadas ao atual prefeito, o democrata Gilberto Kassab.
Com a provável ausência de Luiza Erundina na disputa pela prefeitura Marta vai para a eleição enfrentando três candidatos situados bem à direita de sua posição política: Alckmin, Kassab e Maluf. Correrá provavelmente sozinha na faixa progressista do eleitorado. A qual não é nada desprezível. Será Marta contra a rapa.
Se no campo petista a candidatura da ex-prefeita parece irreversível, a divulgação da pesquisa provavelmente só vai fazer acirrar os ânimos no campo conservador, dividido entre as aparentemente inconciliáveis candidaturas daquele que substituiu Serra na prefeitura porque este foi substituir Alckmin no governo do estado. Ou seja, entre Kassab e Alckmin. Tucanos e democrata deverão continuar batendo cabeça, pelo menos por hora, como a gente batia cabeça quando enfrentava o garoto bom de bola que comandava o outro time.
Parece difícil que Alckmin, que está na chuva desde que deixou o governo do estado para disputar com Lula a última eleição presidencial, abra mão de sua candidatura em nome de Kassab. Afinal ele tem considerável experiência administrativa e conta com respeitáveis 28% das intenções de voto, com viés de crescimento.
Kassab, por sua vez, dificilmente abrirá mão de tentar reeleger-se para o cargo que já ocupa, embora se veja às voltas com problemas gravíssimos que São Paulo enfrenta, como o apagão do trânsito, e tenha apenas 13% das intenções de voto.
Pelo andar da carruagem se a eleição fosse hoje teríamos um animado segundo turno do qual o atual prefeito estaria excluído. Não se sabe se Alckmin receberia o apoio real, neste caso, dos democrata e dos tucanos serristas, dadas as tantas divergências que se avolumam no consórcio PSDB-DEM, mas provavelmente herdaria a grande maioria dos eleitores de Kassab. Marta Suplicy, por sua vez, provavelmente contaria, uma vez mais, com um apoio entre envergonhado e esquisito de Paulo Maluf para o embate final.
O resultado, apesar do favoritismo parecer estar mudando de lado, seria imprevisível. Como nas velhas peladas de rua jogadas pelos meninos da periferia da São Paulo dos anos 70 e 80. Muitas vezes perdíamos feio pro garoto bom de bola que chegava botando banca. Mas as vezes ele voltava para casa amargando a derrota.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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