O editor chefe do Observatório da Imprensa está inspirado nesta semana. O artigo abaixo, publicado no OI, é uma pérola bastante divertida, mas que traz também um lado sério, pois revela quanta besteira é capaz de produzir uma cabeça colonizada (ou várias delas, a bem da verdade, pois o desastre não é culpa exclusiva do repórter). Vale a pena ler na íntegra:
SEXO E HISTÓRIA
O New Journalism precisa de Viagra
"Gay Talese está resfriado." O lead da "Entrevista da 2ª", na Folha de S.Paulo (24/3, pág. A-14), é digno de uma das melhores peças do jornalismo literário, do qual Talese foi um dos expoentes [ver aqui].
O resto é desastroso. O repórter-entrevistador fez o que pôde, o repórter-entrevistado estava com um resfriado cerebral, neurônios congestionados, prostração moral.
Graças a isso, armou uma das doutrinas mais esdrúxulas, mais simplistas, mais amorais e mais cínicas produzidas por uma celebridade lítero-jornalística: nos EUA, os piores presidentes não tiveram amantes.
De olho na cama, o grande Talese articulou um resumo da história contemporânea dos EUA: Richard Nixon e George W. Bush foram funestos porque tiveram que contentar-se com as respectivas. Os demais, inclusive o facínora Lyndon Johnson, saiu-se muito bem porque colocou Lady Bird na gaiola e saiu ciscando por aí.
E como fica Ronald Reagan, o garanhão dos filmes de faroeste – valem as namoradas do celulóide? E Bush Senior, pai do primata que ocupa a Casa Branca?
Local de trabalho
Se a matéria da Folha fosse traduzida para o inglês, Talese nunca mais conseguiria um frila. Aqui, suas sandices encheram uma página inteira e mereceram chamada na capa do primeiro caderno.
Em algum momento, o veterano jornalista deve ter percebido a bobajada que despejava pela boca e se confundia com o muco que botava pelo nariz. Esboçou, então, algumas elucubrações que resultaram tão idiotas quanto o Coeficiente Talese para Aferir Competência Presidencial:
** "Se você está no negócio de publicar jornais, tem que publicar o que é considerado notícia" (o lema do New York Times é precisamente este – "All the news that fit to print").
** "Hoje em dia tudo é notícia, o que não acontecia 30 anos atrás" (evidente: há 30 anos, quando Gay Talese ficava resfriado, metia-se na cama, tomava um suadouro e lia uma novela de Horace MacCoy).
** "A mentalidade da mídia está toda voltada para os escândalos sexuais. A mídia conduz a história" (Karl Marx acaba de ser desbancado).
** "Sexo não é complicado. Política é complicado" [sic]. Talese acaba produzir um paradigma capaz de agitar a campanha eleitoral americana.
Se Hillary, Obama ou McCain desejam entrar para a história como benfeitores da pátria, devem colocar uma cama no Salão Oval e mandar brasa.
SEXO E HISTÓRIA
O New Journalism precisa de Viagra
"Gay Talese está resfriado." O lead da "Entrevista da 2ª", na Folha de S.Paulo (24/3, pág. A-14), é digno de uma das melhores peças do jornalismo literário, do qual Talese foi um dos expoentes [ver aqui].
O resto é desastroso. O repórter-entrevistador fez o que pôde, o repórter-entrevistado estava com um resfriado cerebral, neurônios congestionados, prostração moral.
Graças a isso, armou uma das doutrinas mais esdrúxulas, mais simplistas, mais amorais e mais cínicas produzidas por uma celebridade lítero-jornalística: nos EUA, os piores presidentes não tiveram amantes.
De olho na cama, o grande Talese articulou um resumo da história contemporânea dos EUA: Richard Nixon e George W. Bush foram funestos porque tiveram que contentar-se com as respectivas. Os demais, inclusive o facínora Lyndon Johnson, saiu-se muito bem porque colocou Lady Bird na gaiola e saiu ciscando por aí.
E como fica Ronald Reagan, o garanhão dos filmes de faroeste – valem as namoradas do celulóide? E Bush Senior, pai do primata que ocupa a Casa Branca?
Local de trabalho
Se a matéria da Folha fosse traduzida para o inglês, Talese nunca mais conseguiria um frila. Aqui, suas sandices encheram uma página inteira e mereceram chamada na capa do primeiro caderno.
Em algum momento, o veterano jornalista deve ter percebido a bobajada que despejava pela boca e se confundia com o muco que botava pelo nariz. Esboçou, então, algumas elucubrações que resultaram tão idiotas quanto o Coeficiente Talese para Aferir Competência Presidencial:
** "Se você está no negócio de publicar jornais, tem que publicar o que é considerado notícia" (o lema do New York Times é precisamente este – "All the news that fit to print").
** "Hoje em dia tudo é notícia, o que não acontecia 30 anos atrás" (evidente: há 30 anos, quando Gay Talese ficava resfriado, metia-se na cama, tomava um suadouro e lia uma novela de Horace MacCoy).
** "A mentalidade da mídia está toda voltada para os escândalos sexuais. A mídia conduz a história" (Karl Marx acaba de ser desbancado).
** "Sexo não é complicado. Política é complicado" [sic]. Talese acaba produzir um paradigma capaz de agitar a campanha eleitoral americana.
Se Hillary, Obama ou McCain desejam entrar para a história como benfeitores da pátria, devem colocar uma cama no Salão Oval e mandar brasa.
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