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A força de Lula é a nova classe C

Já que as manchetes da Folha de S. Paulo têm sido analisadas com bastante frequência neste blog, vale a pena mostrar que não é todo dia que o jornal pega no pé do presidente Lula ou de seus companheiros do PT. Na edição deste domingo (9/7), a Folha levou para a manchete a reportagem "Lula promove 6 milhões de eleitores para a classe C", publicada no caderno Brasil e reproduzida abaixo (na primeira página, o título foi ligeiramente diferente: "Aumento de renda tira 6 milhões da classe D/E").

A reportagem é baseada em pesquisa do instituto do jornal e revela também um aumento do otimismo com os rumos da economia, além de um recorde histórico: desde 1994, foi a menor taxa verificada de pobres reclamando do poder aquisitivo de seus rendimentos.

A matéria em si não é favorável nem desfavorável ao presidente Lula, mas não deixa de ser curioso que a Folha tenha levado à manchete uma reportagem que ajuda a explicar porque será tão difícil para o tucano Geraldo Alckmin bater Lula nas urnas em outubro. A reportagem revela com precisão quem são os maiores beneficiários com o reforço do governo Lula à política social: as pessoas mais pobres, situadas na base da pirâmide social. Se isto se deve a uma vertente chavista, populista, varguista ou mesmo "lulista" no governo, a Folha não discute, no que fez bem. A intenção era mostrar os fatos, sem maiores arroubos de interpretação.

Com os números conhecidos de todos, uma boa sugestão para o jornal seria tentar ouvir os economistas tucanos para saber deles qual a fórmula que estão pensando em utilizar para levar toda essa gente de volta para as classes D/E...

Leia abaixo a matéria da Folha:

Lula promove 6 milhões de eleitores para a classe C

Datafolha detecta otimismo de 49% com economia; 37% dizem consumir mais alimentos

Desde 94, nunca foi tão baixo o percentual de eleitores que reclamam do seu atual poder aquisitivo; política "pró-pobre" reduz investimento em obras

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O governo Lula produziu uma melhora considerável na classificação econômica dos eleitores a partir de 2003, revela pesquisa Datafolha. Cerca de 6 milhões de eleitores saíram da classe D/E. A maioria migrou para a C. Praticamente a metade dos 125,9 milhões de eleitores (49%) considera hoje que sua situação econômica vai melhorar. Ao mesmo tempo, houve um aumento no consumo, sobretudo de alimentos -37% dos eleitores passaram a consumir mais desde 2003. A melhora na renda se dá por uma combinação de cenário econômico positivo e forte aumento do gasto público dirigido aos mais pobres. Na contramão, há queda nos investimentos em infra-estrutura e dúvidas sobre a sustentabilidade da atual política "pró-pobres". Além disso, os maiores aumentos na renda estão, na verdade, concentrados entre os que têm aplicações financeiras (leia textos nas págs. A6 e A7). Mas, em termos gerais, nunca foi tão baixo, desde 1994, o percentual de brasileiros que reclama da insuficiência do seu poder aquisitivo. Hoje, 28% acham "muito pouco" o que a família ganha. Eles somavam 45% antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva. O Datafolha ouviu 2.828 eleitores no país entre 28 e 29 de junho, quando pesquisou a intenção de voto à Presidência. No levantamento, Lula (PT) aparece com 46% e Geraldo Alckmin (PSDB), com 29%. A melhora no consumo e nas expectativas dos eleitores mais pobres explica em grande medida o favoritismo do petista, que hoje venceria no 1º turno. A pesquisa também questionou hábitos de consumo, percepção da situação econômica, nível de renda, posse de bens e condições de moradia. Foi considerado ainda o grau de escolaridade do chefe da família. O cruzamento dos dados permite agrupar os entrevistados em três classes: A/B (48% têm renda familiar mensal superior a cinco salários mínimos), C (68% têm renda de até três mínimos) e D/E (86% têm renda de até dois mínimos). Um dos principais resultados do levantamento é que o total de eleitores na classe D/E diminuiu de 46% para 38% entre outubro de 2002 e agora. A classe C inchou, passando de 32% para 40%. Já a classe A apenas variou de 20% para 22% -dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais para mais ou menos. São justamente as classes D/ E e C que concentram as maiores taxas de intenção de voto em Lula: 54% e 44%, respectivamente; contra 34% na A/B. A pesquisa também questionou os eleitores sobre a participação em programas sociais do governo, como o Bolsa-Família. Os maiores aumentos de consumo (de alimentos, CDs piratas ou perfume, por exemplo) foram detectados entre membros da classe C que participam ou que têm alguém da família incluído nos programas. Entre esses eleitores, 52% consumiram mais alimentos nos últimos três anos, contra 37% na média geral. Os menores percentuais de aumento de consumo foram detectados na classe D/E. Mesmo assim, é aí que está concentrada a maior força eleitoral de Lula e, segundo algumas análises, a maior taxa de aumento da renda nos últimos anos. Dentre os D/E que participam de algum programa social, Lula chega a ter 65% da preferência dos eleitores, contra 27% de Alckmin. Os D/E e C também são os mais otimistas em relação ao futuro.


Colaborou MATHEUS PICHONELLI , da Redação

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