A edição desta quinta-feira da Folha de S. Paulo não deve ter sido bem digerida no ninho tucano. O jornal perguntou de forma bastante direta aos principais candidatos ao governo paulista se eles demitiriam o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, em função do agravamento da crise no Estado. Aloizio Mercadante e Orestes Quércia responderam que sim – o petista fez graça e disse que jamais teria nomeado Saulo para o cargo.
O candidato do PSDB ao governo paulista, ex-prefeito José Serra, não respondeu o que faria. Em política, há evasivas que acabam ganhando mais poder destrutivo do que uma resposta franca. No caso de Serra, corre nos bastidores tucanos a versão de que também ele jamais teria nomeado Saulo para tomar conta da segurança paulista. O candidato, no entanto, não tem coragem suficiente para expor suas divergências com o atual comando da secretaria de Segurança Pública (e com muitos outros secretários nomeados por Geraldo Alckmin) e fica nas evasivas. Não consegue dizer com clareza o que mudaria porque, em tese, defende a continuidade da gestão tucana, agora momentaneamente pefelista, com a substituição de Alckmin por Cláudio Lembo. E também não consegue defender com entusiasmo a postura adotada por Saulo, da qual diverge.
O secretário de Segurança, de sua parte, partiu para a ofensiva e colocou uma parcela da culpa dos acontecimentos na imprensa, mais especificamente na Folha de S. Paulo. Segundo Saulo, a divulgação de uma suposta lista de 40 presos que seriam transferidos para um presídio de segurança máxima foi o estopim da nova onda de ataques. O secretário, no entanto, teve dificuldades para sustentar a versão, pois o jornal foi para a gráfica com a tal lista depois que os ataques já tinham começado. A menos que o PCC tivesse algum jornalista infiltrado na Folha, portanto, a lista não seria de conhecimento das lideranças da organização.
De toda maneira, não deixa de ser interessante notar que a Folha deu um abre de página com título defendendo a demissão de Saulo, o secretário que horas antes havia culpado o jornal pelo início dos ataques criminosos.
Leia abaixo a matéria da Folha em que Saulo acusa o jornal e, depois, a reportagem em que os candidatos pedem a demissão do secretário.
O candidato do PSDB ao governo paulista, ex-prefeito José Serra, não respondeu o que faria. Em política, há evasivas que acabam ganhando mais poder destrutivo do que uma resposta franca. No caso de Serra, corre nos bastidores tucanos a versão de que também ele jamais teria nomeado Saulo para tomar conta da segurança paulista. O candidato, no entanto, não tem coragem suficiente para expor suas divergências com o atual comando da secretaria de Segurança Pública (e com muitos outros secretários nomeados por Geraldo Alckmin) e fica nas evasivas. Não consegue dizer com clareza o que mudaria porque, em tese, defende a continuidade da gestão tucana, agora momentaneamente pefelista, com a substituição de Alckmin por Cláudio Lembo. E também não consegue defender com entusiasmo a postura adotada por Saulo, da qual diverge.
O secretário de Segurança, de sua parte, partiu para a ofensiva e colocou uma parcela da culpa dos acontecimentos na imprensa, mais especificamente na Folha de S. Paulo. Segundo Saulo, a divulgação de uma suposta lista de 40 presos que seriam transferidos para um presídio de segurança máxima foi o estopim da nova onda de ataques. O secretário, no entanto, teve dificuldades para sustentar a versão, pois o jornal foi para a gráfica com a tal lista depois que os ataques já tinham começado. A menos que o PCC tivesse algum jornalista infiltrado na Folha, portanto, a lista não seria de conhecimento das lideranças da organização.
De toda maneira, não deixa de ser interessante notar que a Folha deu um abre de página com título defendendo a demissão de Saulo, o secretário que horas antes havia culpado o jornal pelo início dos ataques criminosos.
Leia abaixo a matéria da Folha em que Saulo acusa o jornal e, depois, a reportagem em que os candidatos pedem a demissão do secretário.
Saulo atribui ataques a divulgação de listaE abaixo, a segunda matéria:LUÍSA BRITO
O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, disse, em entrevista coletiva ontem, que a nova onda de ataques do PCC ocorreu em razão da publicação de uma "falsa lista" com o nome de 40 presos que seriam transferidos para o presídio federal de Catanduvas (PR).
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
"A publicação de uma lista de nomes gerou, vamos dizer, inspirou esse movimento. Como se fosse uma forma de [o preso] dizer "ou isso pára ou não se remove ou vai ter um recrudescimento'", afirmou o secretário. "Eu, de pronto, tenho a dizer que essa lista não existe. Ela é falsa, ela é mentirosa."
A lista foi publicada pela Folha na edição de ontem, após o início dos ataques do PCC. Sem citar nominalmente o jornal, Saulo afirmou que a publicação foi "um desserviço à segurança pública e à sociedade".
Questionado sobre o fato de a lista ter sido publicada na manhã de ontem, enquanto os ataques começaram às 22h30 da noite anterior, o secretário disse que o "jornal deve ter rodado ontem [anteontem], não hoje [ontem] de manhã".
Minutos depois, outro jornalista repetiu a pergunta. Ele respondeu, então, que os presos já estavam na expectativa de uma remoção, pois sabiam da inauguração do presídio federal. "Esse assunto ficou no ar. Então, os presos estavam nervosos ou com uma falsa expectativa. Se vamos [para Catanduvas] ou não vamos."
E continuou: "Não estou dizendo que a imprensa ou alguém chegou para os presos e telefonou dizendo: "Olha, você vai ser removido", mas criou uma expectativa e concretude [com a publicação da lista]. Mas tem telefonemas, inclusive, de órgãos de imprensa para dentro do presídio, conversa com bandido, "olha, parece que tem aí uma lista que tá rolando".
A reportagem da Folha não ouviu presidiários sobre a lista ou sobre a possível transferência. A veracidade dela foi confirmada por três autoridades. O próprio governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), disse, durante um evento anteontem em Campinas, que o governo estava elaborando uma relação de presos que seriam levados para a prisão federal de Catanduvas (PR).
De acordo com Saulo, conversas telefônicas grampeadas pela polícia mostram que os presos falaram sobre a lista durante a madrugada de ontem.
Ontem à tarde, a Folha pediu à assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública, por e-mail, cópia do grampo telefônico que Saulo disse existir com a conversa de presos ligados ao PCC sobre a lista.
De acordo com o assessor de imprensa Ênio Lucciola Lopes Gonçalves, o secretário não pode divulgar o grampo porque não teve acesso ainda ao seu teor e porque isso dependeria de uma autorização judicial.
Em três dos ataques, os responsáveis deixaram cartazes com mensagens contra "a opressão carcerária".
Na entrevista, Saulo admitiu a possibilidade de que a situação pela qual passam os presos nas unidades de Araraquara e de Itirapina -destruídas por rebeliões- pode também ter motivado os ataques.
O secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, que também participou da entrevista, afirmou que não havia feito nenhuma lista e que a relação poderia ser "futurologia de quem estava na secretaria".
Ferreira Pinto afirmou ainda que chegou a pedir 40 vagas no presídio de Catanduvas, mas disse que o governo federal ainda não respondeu se o Estado terá direito a todas essas transferências. O secretário afirmou que os advogados dos detentos serão avisados caso o Estado solicite a remoção à Justiça.
O ex-secretário da Administração Penitenciária Nagashi Furukawa rebateu a declaração de Ferreira Pinto, seu sucessor. "Saí no dia 26 de maio e a penitenciária foi inaugurada no dia 20 de junho. Não faz sentido imaginar que eu tenha feito uma lista sem a penitenciária sequer ter sido inaugurada."
Questionado sobre a afirmação do governador -que declarou anteontem que o PCC não exercia mais comando nas prisões-, Saulo disse que Lembo não havia feito a afirmação no contexto publicado na imprensa. "Não ouvi essa declaração do governador. Na minha leitura ele está contestando a questão. Evidente que o governador não daria uma declaração dessa sem meditar a respeito."
O secretário tentou ainda minimizar os ataques dizendo que, dessa vez, morreram menos pessoas e que as ações foram mais direcionadas a prédios privados. "Se você comparar [a situação de maio] com o que está acontecendo, houve regresso. Há uma continuidade, mas não em intensidade. Isso simboliza que as pessoas não estão obedecendo cegamente, que a tal liderança começou a ser questionada, e, na hora em que começa a ser questionada, a liderança perde a força. Perdendo a força, acabou."
Ele admitiu ainda que, como o governo não consegue evitar a entrada de celulares nas unidades prisionais, a estratégia policial é tentar reverter isso com escutas. "Uma boa parte delas [conversas] nos interessa ouvir. Quando você recebe informação de investigação, percebe que isso serviu."
O secretário também disse que o Estado conta com outra fonte importante de dados sobre o PCC, os delatores, a quem se referiu como "os traidores da facção". "Boa parte da massa carcerária começa a entender que entrou em uma fria [ao seguir ordens do PCC]."
Sobre o combate à facção, Saulo disse que, "uma vez declarada a guerra, você precisa pensar como sair dessa guerra. Só tem uma saída: é vencer. Não tem bandeira branca", em referência à acusação de que o Estado fez acordo, em 14 de maio, para parar os atentados. "À medida que você [Estado] estanca, começa a colocar rigidez, eles têm que dar demonstrações de força, porque os associados começam a falar "puxa vida, não foi um bom negócio"."
Indagado se a situação estava sob controle, Saulo afirmou: "Na visão técnica policial, está". Também voltou a dizer que bandido que enfrentar a polícia pode ser morto ou preso. "Centenas já foram presos, alguns mortos em confronto. Vai ter confronto e eles vão se dar mal, não há hipótese de ganhar", afirmou. "Nós não vamos ficar reféns dessa situação."
Mercadante e Quércia defendem saída de SauloSerra se omite sobre questão e culpa governo federal por corte de verba para a segurança
Dois dos principais candidatos ao governo de São Paulo, Aloizio Mercadante (PT) e Orestes Quércia (PMDB), defendem a demissão do secretário da Segurança de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho.
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
LEANDRO BEGUOCI
DA REDAÇÃO
Os dois responderam a um questionário enviado por escrito pela Folha sobre a crise na segurança e a demissão de Saulo era tema de uma das cinco perguntas. O candidato do PSDB, José Serra, não se pronunciou sobre Saulo. Ele enviou uma declaração por escrito ao jornal, desconsiderando a estrutura de perguntas e respostas. Seu texto abordava apenas três das questões.
Questionado se demitiria o secretário, Mercadante foi irônico e disse que não. "Eu jamais o teria nomeado."
Quércia, por sua vez, para justificar a demissão, lembrou as divergências entre Saulo e o ex-secretário da Administração Penitenciária Nagashi Furukawa. "[Saulo] é o responsável maior pela desmoralização da autoridade pública", disse.
Os dois candidatos também criticaram a política de segurança e a forma como os presos de Araraquara foram tratados. Com as celas destruídas pelas rebeliões, os detentos foram confinados num pátio.
Já Serra, dizendo considerar "lamentável sob todos os pontos de vista" a situação em Araraquara, afirmou que, "se o governo federal tivesse feito os presídios que prometeu, teria havido lugar para enviar os presos".
Sobre uma eventual ajuda do governo federal, Mercadante disse que a aceitaria. "Em momentos como esse, é preciso parceria, uma atitude republicana." Quércia disse admitir que, "em casos especiais", o governador aceite a oferta de ajuda do governo federal.
Serra disse que, "se fosse para valer", a ajuda seria bem-vinda. Mas alfinetou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Cheira mais a oportunismo e demagogia eleitoral do Lula. Quer ajudar? Libere o dinheiro cortado."
O petista e o peemedebista também cobraram maior transparência do governo na divulgação de dados sobre os mortos pela polícia após os primeiros ataques do PCC (leia respostas no quadro ao lado).
Demagogia
Serra disse, em evento em Osasco, que o governo do presidente Lula se vale da "demagogia" e do "trololó" para não resolver o problema da segurança. O tucano também afirmou que o governo Lula corta "sistematicamente" verbas da área.
Serra delimitou o que seriam as responsabilidades do governo federal. Elencou o combate ao contrabando de armas e de drogas e a construção de mais presídios como prioridades.
"Esse combate ao contrabando de drogas e de armas atacaria a base do crime organizado. Mas a atual gestão não faz isso. Prefere a demagogia e o trololó."
Serra procurou não responsabilizar o governo do Estado pela crise na segurança. Questionado sobre o que faltaria na segurança estadual, disse que ainda é preciso integrar os serviços de investigação. "Acho que esse trabalho todo [da polícia] pode render mais ao longo do tempo se nós nos aprofundarmos na área da inteligência", afirmou o tucano.
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