Pular para o conteúdo principal

Gente fina é outra coisa

O jornalista Reinaldo Azevedo foi rápido no gatilho e publicou em seu blog uma nota a respeito do deputado Pastor Amarlido (PSC-TO), que apareceu na lista dos suspeitos de envolvimento no escândalo dos Sanguessugas. É que este mesmo deputado foi quem apresentou, a pedido da Federação Nacional dos Jornalistas o projeto de lei aprovado no Congresso e que regulamenta o exercício da profissão de jornalista. O monstrengo da Fenaj, apresentado pelo sanguessuga Amarildo, inclui diversas funções como privativas dos diplomados em jornalismo. Comentaristas, assessores de imprensa e até chargistas teriam a obrigação de cursar uma faculdade e obter o canudo para trabalhar.

De tão ruim, a proposta da Fenaj conseguiu provocar uma unanimidade: todas as entidades da sociedade civil envolvidas com a questão, com exceção naturalmente da própria Fenaj, se manifestaram contra o projeto. A Associação Brasileira de Imprensa (ABI), por exemplo, já encaminhou um documento ao presidente da República explicando sua posição pelo veto do monstrengo.

O projeto de Lei está na mão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Casa Civil da Presidência está examinando o texto e nesta quarta-feira a Folha de S. Paulo revela que a tendência até agora é realmente pelo veto do projeto. Os defensores da liberdade de expressão poderão respirar aliviados, mas será por pouco tempo. Conforme este blog já antecipou, o próximo passo da Fenaj será relançar o debate sobre o natimorto Conselho Federal de Jornalismo. Essa gente não desiste...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...