Pular para o conteúdo principal

O prefeito observador da imprensa

O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (PFL), é um estudioso das questões de mídia. Gosta do tema, popularizou o conceito de "factóide", cunhado pelo jornalista Alberto Dines, e chegou a iniciar a experiência de ser o primeiro prefeito-blogueiro do Brasil. Abandonou o blog depois que começaram as cobranças sobre a incompatibilidade entre as "funções": afinal, ele estaria postando suas notas em momentos que deveria estar "prefeitando".

Para não deixar vazio o espaço que havia conquistado com a nova atividade, porém, criou uma espécie de newsletter chamada ironicamente de "Ex-blog do Cesar Maia", enviada diariamente, por e-mail, para todos os leitores que se cadastraram no endereço do antigo blog (http://cesarmaia.blogspot.com/, as inscrições permanecem abertas) .

A maior parte das notas versa sobre política e Maia tem utilizado bastante este novo meio que criou para mandar recados à campanha do aliado Geraldo Alckmin e pautar a imprensa. Outros assuntos, no entanto, são tratados pelo prefeito. Pesquisas eleitorais são sempre interpretadas nos e-mails e, vez por outra, Cesar Maia escreve sobre o comportamento da imprensa. Na edição desta terça-feira, o prefeito foi além: resolveu analisar o mercado editorial e destacar o fenômeno da imprensa popular. O que o intriga é o fato de o mercado paulista se manter à parte da nova tendência. Abaixo, a íntegra do comentário do prefeito.


A IMPRENSA POPULAR!

A venda de jornais populares a baixíssimo preço tornou-se um vetor de concorrência da grande imprensa. Sua origem está nos jornais de metrô distribuídos gratuitamente em várias cidades do mundo. A leitura rápida exige formato especial, matérias leves e curtas, fotos atrativas e boxes com os destaques. E muita informação sobre serviços -TV, fofoca de atores, jogadores, cinema, lazer, futebol, emprego, cursos, concursos,...e um escândalo para apimentar. Le-lo é quase como ler o jornal pendurado na banca.

Os jornais com esta característica vão navegando entre o jornalismo e o lazer, cada vez mais se afirmando como jornalismo de lazer. Curiosamente, deixam de justificar a reclamação de tantos, políticos em especial, que dizem que jornal só sabe falar mal. Do ponto de vista econômico ainda não se sabe o resultado, pois não se vê uma publicidade explosiva. Seus custos só não são maiores que as receitas das vendas porque o jornal matriz fornece material e o computador faz o resto. O custo passa a ser, quase só, papel e tinta. A imprensa popular nunca teve a formação de opinião como foco. Agora a própria informação deixa de ser foco também.

Em outubro de 2005 o jornal Super Notícia de MG tinha uma circulação de 30 mil. Em abril de 2006 já tinha 137 mil jornais circulando por dia. No Rio a imprensa popular de lazer caminha para ultrapassar a imprensa popular tradicional. A moda,( febre?), ainda não chegou em SP.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...