Pular para o conteúdo principal

Alckmin quer comparar melancia com banana

O ex-governador Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à presidência da República, adora dizer que "eleição é comparação" e que quando os eleitores puderem "comparar", vendo os programas dos partidos na televisão, rejeitarão Lula e o elegerão presidente do Brasil.

Nesta terça-feira de vitória da seleção na Copa, os repórteres de todos os veículos importantes da imprensa brasileira foram perguntar a Alckmin o que ele havia achado do discurso de Lula em que o presidente comparou a gestão petista no governo federal com a gestão tucana de Fernando Henrique Cardoso. Alckmin qualificou a estratégia de Lula como "atrasada" e recusou-se a falar sobre os números do governo FHC. Depois, disse que iria comparar a sua própria gestão no governo de São Paulo com "o que não foi feito" no plano federal.

Com tudo isso, Geraldo Alckmin atentou contra a lógica formal e cometeu dois equivocos: em primeiro lugar, assim como não é possível comparar banana com melancia, não dá para colocar a gestão de um governo de Estado ao lado de uma gestão de governo federal e tentar dizer qual foi melhor.

É possível, sim, usar um mínimo de racionalidade e comparar os números da gestão Lula com os dos dois mandatos de Fernando Henrique – aí estamos comparando melancia com melancia. Da mesma forma que algumas estatísticas não favorecem o governo petista, é errado os tucanos dizerem que tudo de bom que aconteceu nos últimos quatro anos decorre exclusivamente do que foi feito nos oito anos anteriores.

O segundo equivoco cometido por Alckmin foi tentar fugir da pergunta. Todo mundo no meio político sabe que o ex-governador quer "descolar" a sua imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ocorre que FHC decidiu nos últimos dias ocupar espaço político para responder, ele mesmo, ao presidente Lula. Assim, Alckmin tem duas alternativas: alinhar-se com seu correligionário ou deixar claro ao público que o governo Cardoso é passado e que o PSDB tem novas propostas para o Brasil.

Como Alckmin não faz nem uma coisa nem outra, passa a impressão de que não só não quer discutir o que os tucanos fizeram durante 8 anos no comando da República como também não está aí para contar o que o PSDDB pretende fazer se retomar o poder. Em "alquimês", essa estratégia pode ser traduzida em algo como "vamos amassar o barro; comigo é trabalho, trabalho, trabalho"...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe