Pular para o conteúdo principal

Mudança na Petrobras pode mudar apoio dos mercados a Bolsonaro?

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação desta semana. 

Eleito presidente com uma suposta pauta liberal, apresentada durante a campanha eleitoral de 2018 pelo hoje ministro Paulo Guedes, Jair Bolsonaro mostrou na semana que passou, mais uma vez, pouco apreço, para dizer o mínimo, por esta agenda. Ao defender mudanças no comando da Petrobras, indicando o  general Joaquim Silva e Luna – ex-ministro de Michel Temer, vale lembrar -, para a presidência da companhia, Bolsonaro foi explícito em manifestar a sua vontade de intervir nos preços dos combustíveis, contrariando assim os princípios básicos de tudo que prega a cartilha liberal. O impacto da ação do presidente foi imediato, as ações da Petrobras na bolsa despencaram, o que não o impediu de, no dia seguinte, reiterar seu posicionamento.

O que intriga neste episódio é que mesmo sabotando a agenda liberal que o elegeu – não foi a primeira vez e certamente não será a última -, Bolsonaro aparentemente não perde, ou ao menos não perdeu até aqui, o apoio da Faria Lima e Leblon. De fato, o empresariado, salvo poucas exceções, continua, ao lado dos militares, sendo um dos três pilares de apoio do atual governo – o último é a militância de extrema-direita que emergiu do sentimento antipetista durante a gestão de Dilma Rousseff. 

Desta vez foi possível perceber na mídia um aumento no tom das críticas dos representantes da classe empresarial aos atos do presidente, porém sem uma articulação estruturada, como ocorreu, por exemplo, em relação a atos semelhantes da ex-presidente Dilma Rousseff. Pode ser cedo para julgar, será preciso observar os posicionamentos ao longo da próxima semana, ainda não está claro se o presidente vai de fato conseguir intervir diretamente na gestão da companhia, mas, ainda assim, a tentativa já revela seu total desapreço a tudo que vem sendo defendido por Guedes, que de sua parte não parece disposto a comprar briga com o chefe, preferindo sempre atuar como bombeiro junto a seus pares.

Se o antipetismo explica o apoio da militância direitista e, em parte, dos militares, no caso do empresariado isto está fora de questão. O pragmatismo demonstrado pelos mercados durante os dois governos de Lula e mesmo no primeiro mandato de Dilma provam que, ideologias à parte, a classe empresarial brasileira não tem preconceitos e atua sempre de acordo com seus interesses. 

Bolsonaro já deu todos os indicativos de que não vai privatizar coisa alguma, tem alma de estatista, dá muito pouco raio de manobra para Guedes, parece mesmo desafiar o ministro. Ainda assim, por algum motivo obscuro, continua com amplo suporte da classe empresarial. Se a intervenção na Petrobras tiver a força de provocar uma mudança neste cenário, o jogo muda bastante, favorecendo, em uma projeção para 2022, outros projetos, como os de João Doria (PSDB), Luciano Huck, ainda em busca de um partido para chamar de seu, e até mesmo representantes da esquerda. Do ponto de vista do presidente, vale lembrar, sempre há um cálculo político: para o povão, gasolina mais barata significa inflação menor, é uma pauta que tem boa aderência. Resta saber se Guedes vai mais uma vez conseguir colocar os panos quentes ou se desta vez o tiro de Jair teve como alvo seu próprio pé. (por Luiz Antonio Magalhães em 15/2/21)



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe