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Bolsonaro vence no Congresso e sepulta tentativas de afastamento

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação desta semana.

A semana começou quente com a eleição para as presidências do Senado, vencida por Rodrigo Pacheco, do DEM de Minas Gerais, e na Câmara, que elegeu o alagoano Arthur Liira, do PP. As duas vitórias foram fruto da articulação do governo e mostraram a força da famosa caneta azul do presidente. Surpreendente foi a vitória de Lira já no primeiro turno, revelando também a fragilidade da oposição, que abandonou seu candidato, o emedebista Baleia Rossi. 

Tudo somado, Jair Bolsonaro saiu muito fortalecido e praticamente garantido até o final do seu mandato, já que Lira deve arquivar os mais de 60 pedidos de impeachment ou simplesmente ignorá-los, salvo alguma catástrofe na saúde, o que não deve ocorrer mais com a chegada da vacina, finalmente.

Impressiona no episódio a tibieza da oposição ao presidente, que parece preferir que ele siga no cargo para tentar uma hoje improvável vitória nas urnas, a menos que o ex-presidente Lula possa se candidatar. Tudo conspira a favor de uma reeleição do atual mandatário, até porque a economia deve retomar, empregos serão gerados neste ano e no próximo, e a pandemia deverá ter sido debelada até meados de 2022, ou antes. 

Apostar nas urnas sem um novo projeto, portanto, é demasiado arriscado. O que as esquerdas e o centro têm para entregar? Nada, ou quase nada, apenas as mesmas propostas de 2018, quando pela primeira vez na história a direita venceu por desejo do povo brasileiro. Sem apresentar novidades, será difícil conquistar o poder. Mesmo o PSOL, grande novidade da eleição do ano passado, se limita a chamar Bolsonaro de genocida, coisa que ele não é, por pior que tenha conduzido a crise sanitária que vivemos.

No fundo, a estratégia de deixar o presidente “sangrar” até 2022 é não apenas arriscada como pouco inteligente. Tudo que Bolsonaro precisa é de antagonismo, do medo da volta do PT ao poder, nada mais. Fará uma campanha no cargo, o que ajuda bastante, com números a seu favor. Terá sido o presidente que atravessou a pior pandemia da história depois da gripe espanhola, e ainda que milhares de pessoas tenham morrido no período, o que ficará na memória é a áura de quem venceu tempos diifíceis. Sua reeleição, hoje, é praticamente certa, mas a história também mostra reviravoltas no cenário, como ocorreu a partir de 2013 no movimento que culminou com a queda de Dilma Rousseff. Agora resta ir acompanhando o jogo, que promete ser disputado, sim, com vantagem para Bolsonaro. (por Luiz Antonio Magalhães em 5/2/21)



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