Pular para o conteúdo principal

O estilo Serra de governar

A notícia reproduzida abaixo, originalmente publicada no blog do jornalista Lauro Jardim, da revista Veja, revela com perfeição o "estilo Serra" de governar. O tal bônus que será pago aos professores parece humilhante? Sim, é mesmo humilhante. O governador José Serra (PSDB) e sua secretária da Educação, oriunda do time montado por Paulo Renato quando ministro na gestão de Fernando Henrique, realmente acreditam que estão fazendo um bem danado ao professorado paulista. Na verdade, estão colocando uma cenoura para o burro andar e acham que é assim que se melhora o sistema educacional do Estado.

Ora, basta pensar um segundo e fazer algumas perguntas básicas para perceber que a coisa não pode funcionar desta maneira. Ora, se não há um programa de requalificação dos professores, se não estão sendo anunciadas modificações na estrutura do sistema educacional, então como é que vai haver melhoria no ensino? Volutarismo existe, mas tem limite. Se o governador José Serra destinasse os R$ 500 milhões que reservou para tamanha estultice aleatoriamente a, digamos, 500 escolas estaduais, provavelmente os resultados seriam melhores e o professorado não se sentiria humilhado por uma competição mesquinha para obter a melhoria salarial.

Sim, os neoliberais chamam este sistema implantado por Serra de "meritocracia". Este blog avalia que está mais perto dos brilhantes esquemas engendrados pelo apresentador Silvio Santos para premiar a sua audiência. Mais um pouco o governador Serra vai aparecer nas escolas gritando: "Quem quer dinheeirrooo???"


SÃO PAULO
Os bônus de Serra

José Serra lança hoje à tarde uma das pedras de toque de seu governo na área da Educação: o pagamento por desempenho aos funcionários da secretaria, que possui a maior rede de servidores do governo paulista. São 300 000 funcionários. E Serra tem reservado 500 milhões de reais para esses bônus.

As regras que Serra anunciará funcionam assim: cada escola deve atingir metas de aprendizagem anuais. Se a meta for ultrapassada, toda a equipe da escola receberá três salários a mais. Estão incluídos aí dos faxineiros aos professores, passando pelos diretores.

Se a meta for igualada, os servidores botam no bolso 2,4 salários a mais. E se 30% da meta for atingida, os servidores recebem 30% de bônus.

Comentários

  1. Caro Luiz Antonio Magalhães:
    Sou professor ACT(não-concursado) da rede pública estadual paulista e gostei do teu artigo. Esse bônus é uma enganação,pois Serra uusa isso pra não dar aumento real salarial para nós. Têm professor q recebe um bônus bom no final do ano, mas os critérios para o bônus ninguem da rede sabe direito como é feito. Esse bônus não é contado qdo o professor se aposenta, então não adianta esse profissional se matar, mais do q já se mata, para chegar no fim de 30 anos dando aula se aposente com um salário q não chega nos 1.600 reais?? Será q dá pra viver numa cidade como São Paulo ganhando quase 1600reais por mês? Se vc quiser dê uma olhada no meu blog, pois escrevi sobre isso. Foi publicado em um dos jornais da minha cidade (Piracicaba-SP) e incrivelmente eu fui respondido pela próprio secretaria de educação do estado q 3 dias depois tentou rebater minhas críticas e agora saiu a minha tréplica. Se puder dar uma lida, ficaria grato.
    Obrigado

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe