Pular para o conteúdo principal

As pesquisas e o cenário eleitoral

As rodadas de pesquisas do Datafolha e Ibope sobre as perspectivas dos candidatos em várias capitais de estado já são suficientes para uma análise sobre as tendências que estão se delineando nas eleições municipais deste ano. É claro que toda generalização é temerária, mas alguns fatos podem ser destacados, tendo como ponto de partida a realidade constatada pelos institutos de pesquisa neste momento, faltando pouco mais de um mês para o pleito. Vamos a eles:

Parece bastante claro que os candidatos governistas estão em alta neste momento, especialmente os que procuraram "colar" a imagem ao presidente Lula. É o caso, entre outros, de Marta Suplicy, em São Paulo, Márcio Lacerda, em Belo Horizonte, João da Costa, no Recife, Luizianne Lins, em Fortaleza, e Walter Pinheiro, em Salvador. Nem todos estão liderando as pesquisas, mas todos apresentaram um crescimento bastante rápido e expressivo após o início da campanha, período em que fizeram questão de demonstrar que apóiam o atual governo. No Rio de Janeiro, a situação é bastante curiosa: os três primeiros colocados – o bispo Crivella, a comunista Jandira e o peemedebista Eduardo Paes – se dizem aliados do presidente, que supostamente apóia o postulante de seu partido, o bom moço Alessandro Molon, até agora um autêntico sem-votos.

Não se pode, porém, dizer que tudo se deve ao presidente Lula. Nos casos de Belo Horizonte, Recife, Fortaleza e Salvador, por exemplo, os candidatos que cresceram também são apoiados pelos governadores de seus estados. Tem mais: Luizianne é candidata a reeleição, Lacerda e João da Costa têm o apoio dos prefeitos de BH e Recife. Em Porto Alegre, o líder é o prefeito José Fogaça (PMDB), também candidato à reeleição, que não se posiciona propriamente como um opositor de Lula, pelo contrário. Na segunda colocação na capital gaúcha estão as candidatas do PT e PCdoB, cada qual se dizendo mais próxima do presidente.

No fundo, só em três capitais de estados importantes há a presença de candidatos, com chances reais de vencer o pleito, que se colocam como oposição ao lulo-petismo: São Paulo (com Kassab e Alckmin disputando o espaço do eleitorado conservador), Fortaleza (o democrata Moroni Torgan está em segundo lugar) e Salvador, onde ACM Neto (DEM) luta para manter o espólio político do seu avô e para recuperar a força do "carlismo" na Bahia. No Rio, a oposição, à esquerda e à direita, está em frangalhos; em BH, simplesmente não se pode dizer que há oposição; em Porto Alegre, a direita não conseguiu encontrar uma candidatura que a represente e acaba despejando o voto útil em Fogaça...

Ao que as pesquisas indicam, são tempos difíceis para a oposição. Não é mesmo coisa fácil fazer campanha contra candidatos de um governo que obtém taxas altíssimas de aprovação popular. Dizer que as coisas estão bem, mas vão ficar mal por conta da ação do atual presidente, por exemplo, é quase um tiro no pé, pois ninguém quer ouvir que o futuro será pior que o presente... No fundo, ainda não dá para dizer que a eleição de 2008 será consagradora para o governo, mas ao que parece o resultado não será nem de longe a tragédia que previam alguns analistas no início do ano. Muita gente apostava que as consequências da crise americana já estariam presentes neste momento e seriam suficientes para mudar o humor dos brasileiros com Lula e seu governo. Não é o que está acontecendo, pelo menos até agora.

Comentários

  1. O mais impressonante é que em qualquer lugar da imprensa não lemos : devido aos projetos sociais implantados na sua gestão, no pioneirismo do Bilhete unico, na audacia em levar um equipamento como os CEUs com teatro,cinema,piscina e quadras esportivas integrando a sociedade...na implementação das subprefeituras...NUNCA ESTA IMPRENSA CONSEGUE ADMITIR! Isso demonstra o nivel de distanciamento da midia da população...e o que mais impressiona é ver a população resumir esta falta de coerencia da midia nas pesquisas...e os colunistas continuam bebendo seus vinhos de R$ 200, falando de assitencialismo do governo federal e negando o que foi feito nesta cidade.

    Os jornalistas estão sendo cada vez mais ridiculos...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe