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Inflação cai: cadê a crise que estava aqui?

O jornalista Paulo Henrique Amorim gosta de dizer que a grande imprensa brasileira, ou "PIG (Partido da Imprensa Golpista)", como ele qualifica os jornalões e revistonas, criam uma crise por mês para "derrubar o presidente Lula". Este blog não concorda completamente com a tese de Amorim porque acha que Lula serve bem aos interesses dos poderosos, inclusive aos interesses dos barões da mídia.

Apesar disto, é forçoso reconhecer que os oligopólios de mídia e seus sempre mui bem pagos colunistas têm errado muito ao fazer previsões sobre o comportamento da economia brasileira. E têm errado sempre contra o governo, jamais a favor... O caso da inflação ilustra bem o comportamento da imprensa nacional. Dois ou três meses atrás, o que se lia nos jornais sobre a alta dos preços, especialmente dos alimentos, era assustador. O dragão estava voltando com força total e a impressão que se tinha ao ler ou ouvir certos colunistas econômicos era a de que o Brasil caminhava celeremente para um destino semelhante ao do Zimbabwe, onde a taxa supera 11.000.000% (sim, onze milhões) ao ano.

Bem, desta vez durou menos do que a "crise aérea" (por que será que a mídia parou de contar os minutos de atraso dos aviões?). Os preços já começaram a cair e os colunistas dos jornalões estão meio ressabiados, procurando uma desculpa qualquer para o erro nas previsões ("o preço das commodities no mercado internacional começou a cair mais cedo do que o previsto" é um dos mantras que se lê e ouve por aí).

É claro que existe uma grave crise no exterior e que mais dia, menos dia, o Brasil vai ser afetado. O problema todo é que o debate, pelo menos na imprensa, é carregado de wishful thinking dos barões da mídia e seus empregados, que apesar de já não verem em Lula o perigo que viam no passado, gostariam mesmo é de ter "um dos seus" no comando do país. Assim, vale a máxima do "quanto pior, melhor". O problema é que o Brasil, este mesmo país que "só cresceu mais do que o Haiti", como dizia Alckmin na campanha de 2006, insiste em continuar crescendo, apesar de toda a baderna lá fora. O mercado interno está mais dinâmico, em parte graças ao crédito farto, mas também ao aumento da massa salarial, e a economia nacional vai resistindo de maneira mais firme do que os opositores de Lula imaginariam ou desejariam.

A verdade é que o Brasil está hoje muito melhor preparado para enfrentar um momento de crise externa do que jamais esteve. Pode até ser que sofra um pouco mais adiante e também há muito para ser feito com o objetivo de minimizar os problemas. Tudo isto é certo. O que os brasileiros já perceberam é que dificilmente o país passará o sufoco que passou a partir de 1999, quando Fernando Henrique Cardoso deixou o barco correr, a sua própria reeleição passar, para só então tomar providências e evitar o colapso completo do sistema financeiro nacional. Os mais jovens podem não se lembrar, mas entre 1999 e 2002, o Brasil quebrou, ajoelhou no milho do Fundo Monetário Internacional e por meia década (inclusive no primeiro ano do primeiro mandato de Lula) teve a sua política econômica e monetária concebida a partir de Washington. Este cenário, o próximo presidente seguramente não vai enfrentar...

PS: Alguns colunistas já estão falando na "crise do subprime" brasileiro, que envolveria o maior endividamento da população, especialmente na compra de automóveis a prazo e no uso desenfreado de cartões de crédito. Bem, infelizmente, parece que também não é o caso, a julgar pelos números divulgados hoje pela Itaucard, conforme o leitor pode ver abaixo, na versão do portal Terra. É, pelo visto o pessoal vai ter que arrumar uma "crise" em outro setor qualquer para poder aporrinhar o presidente Lula...


Pesquisa: inadimplência com cartões de crédito cai para 4,6%

Um estudo, divulgado nesta terça-feira pela administradora de cartões do Itaú - Itaucard -, apontou que a inadimplência no setor de cartões de crédito no Brasil caiu de 7,6% para 4,6% no período compreendido entre junho de 2006 e junho de 2008. Segundo o levantamento, o consumo no varejo com o meio de pagamento cresceu 38% durante o mesmo intervalo.

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