Pular para o conteúdo principal

Folha: quanto pior, melhor

Na sempre mui patriótica tarefa de mostrar aos brasileiros que o país vai de mal a pior, a Folha de S. Paulo destacou, nesta quarta-feira, em "abre de página", como se diz no jargão do jornalismo, uma reportagem que levava o seguinte título: "Cresce inadimplência em escolas de SP". Parece grave, não?

Passemos então aos subtítulos da "reportagem", que em tese deveriam complementar o teor da manchete principal:

"Média na cidade foi de 9,8% nos primeiros seis meses do ano; em 2007, o índice foi de 9,55%, segundo sindicato de estabelecimentos de ensino"

Bem, um crescimento de 0,25 ponto percentual não é exatamente algo muito significativo, de forma que se o título fosse "Inadimplência nas escolas permanece estável", também estaria correto. Mas o mais interessante aparece no segundo subtítulo.

"Em todo o Estado, a média de mensalidades que não foram pagas no primeiro semestre foi de 7,7%; em 2007, o índice foi de 8,1%"

Bem, aqui a variação também é pequena (0,4 ponto percentual), mas neste caso, como o leitor pode reparar, a média de mensalidades não pagas diminuiu em 2008, ou seja, a situação das escolas melhorou (a diferença se explica porque a indadimplência se refere a contas não pagas no prazo de 90 dias e este outro índice diz respeito às mensalidades que não foram pagas em todo o primeiro semestre). Chato, não? O subtítulo desmente o título...

Bem, na soma, fica patente a manipulação da Folha, que só pode ter uma das duas explicações a seguir: ou o jornal se rendeu docemente ao chororô dos donos de escola ou então gosta de pintar de cinza o céu azul da economia brasileira. Este blog tem a impressão que a segunda hipótese é mais crível.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...