Pular para o conteúdo principal

Uribe pode dar 3° mandato a Lula

Imaginem se o PT ousasse fazer o que fez o partido de Álvaro Uribe, conforme a matéria publicada hoje na Folha de S. Paulo, reproduzida abaixo. A oposição certamente já estaria aos berros, acusando o presidente Lula de tentativa de golpe de Estado. A ultra-direita, então, cairia matando, provavelmente enxergando no maléfico Foro de São Paulo o comando estratégico da operação lulo-petista, em mais um grande passo para implantar a velha e boa ditadura do proletariado em toda a América Latina. Como se pode ver na matéria, porém, lá na Colômbia parece que o povão está mesmo querendo mais quatro anos para Uribe, coisa que pelo visto os direitistas terão que engolir ou tentar justificar com algum argumento um pouco mais sofisticado do que "a Colômbia é a Colômbia, o Brasil é o Brasil". Afinal, se é tão essencial assim para a democracia o limite de uma reeleição, então porque o grande vencedor da guerra contra as Farcs poderia concorrer pela terceira vez?

No fundo, talvez seja bom que Uribe consiga o direito de disputar o terceiro mandato, pois abriria caminho para o PT tentar o mesmo. Este blog não acha que terceiro mandato é sinônimo de ditadura. Ao contrário: como diz o ditado, em time que está ganhando não se mexe. Até para a oposição não há mal nenhum em disputar contra Lula mais uma vez. O debate fica mais direto e o presidente pode responder pelos seus acertos e erros. Quem quiser enfrentá-lo, que se habilite. Tudo bem às claras, tipo pão pão, queijo queijo.

Vale a pena, portanto, acompanhar de perto o processo político da Colômbia. De lá podem vir todas as respostas que o Brasil espera em 2010.


Terceiro mandato de Uribe recebe apoio de 5 milhões

Partido governista apresenta abaixo-assinado pró-referendo que permita reeleição

Número de firmas coletadas é muito superior ao mínimo de 1,4 milhão estabelecido por lei colombiana; próxima fase é debate no Congresso

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O Partido Social da Unidade Nacional (Partido de la U), da base de apoio de Álvaro Uribe, entregou ontem às autoridades eleitorais mais de 5 milhões de assinaturas solicitando a convocação de um referendo para autorizar que o presidente colombiano possa concorrer a um terceiro mandato.
O secretário-geral do partido, Luis Guillermo Giraldo, disse a jornalistas em Bogotá que "sonha acordado com uma Colômbia em 2014, quando o presidente Uribe entregar a Presidência com nenhuma guerrilha e nenhum paramilitar".
O total de 5.021.873 assinaturas, distribuídas em 3.000 planilhas e levadas em três caminhões blindados, supera largamente o 1,4 milhão de firmas exigido pela legislação colombiana (5% do eleitorado do país). Agora, o Registro Nacional do Estado Civil (RNEC) tem 30 dias para certificar ou não as assinaturas.
Caso haja a validação, o próximo passo será apresentar o projeto formalmente no Congresso, onde o tema do terceiro mandato não é consenso na base governista, que tem uma confortável maioria.
"Uma vez que as assinaturas sejam reconhecidas, os partidos se reunirão. Já há um anúncio do partido [governista] Cambio Radical em favor, mas até agora o tema é a validação das firmas", disse à Folha o senador do Partido de La U, Carlos García, ao ser questionado sobre a divisão interna.
Caso seja aprovada pelo Congresso, a nova legislação precisará também do crivo da Corte Constitucional. Após isso, o governo tem oito dias para convocar o referendo, que precisa ser realizado em até três meses. O Partido de La U estima que, se tudo ocorrer dentro do previsto, a consulta será em meados do ano que vem.
Em seu primeiro mandato (2002-2006), Uribe conseguiu no Congresso a aprovação de uma emenda constitucional que lhe permitiu concorrer à reeleição, num processo que hoje está sob investigação após a condenação de uma ex-parlamentar que admitiu ter vendido o seu voto.
Em razão de sua política de segurança, que diminuiu os índices de violência nos grandes centros urbanos e impôs várias derrotas às Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), Uribe mantém um índice de aprovação superior a 80%, segundo pesquisas de opinião. Seu mandato atual vai até 2010.
A oposição e até mesmo setores do uribismo têm criticado a possibilidade de um terceiro mandato. Já Uribe não descarta abertamente a possibilidade. Questionado sobre a posição do presidente, o senador García disse que "isso tem que ser perguntado a ele".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...

Dúvida atroz

A difícil situação em que se encontra hoje o presidente da República, com 51% de avaliação negativa do governo, 54% favoráveis ao impeachment e rejeição eleitoral batendo na casa dos 60%, anima e ao mesmo tempo impõe um dilema aos que articulam candidaturas ditas de centro: bater em quem desde já, Lula ou Bolsonaro?  Há quem já tenha a resposta, como Ciro Gomes (PDT). Há também os que concordam com ele e vejam o ex-presidente como alvo preferencial. Mas há quem prefira investir prioritariamente no derretimento do atual, a ponto de tornar a hipótese de uma desistência — hoje impensável, mas compatível com o apreço presidencial pelo teatro da conturbação — em algo factível. Ao que tudo indica, só o tempo será capaz de construir um consenso. Se for possível chegar a ele, claro. Por ora, cada qual vai seguindo a sua trilha. Os dois personagens posicionados na linha de tiro devido à condição de preferidos nas pesquisas não escondem o desejo de se enfrentar sem os empecilhos de terceira,...