Pular para o conteúdo principal

É nóis na fita

Não é pouca coisa: o novo correspondente do The New York Times no Brasil, Alexei Barrionuevo, deve andar lendo as coisas que Jorge Rodini, colaborador destas Entrelinhas e diretor do instituto Engrácia Garcia, escreve. Dia 20 de novembro, saiu neste espaço uma junção de dois textos enviados por Rodini. O segundo deles, que originalmente tinha o título "Lula, o resiliente", apresentava um conceito pouco utilizado para falar do presidente da República.

Resiliência, para quem não sabe, tem as seguintes definições no dicionário Houaiss:
1 Rubrica: física. - propriedade que alguns corpos apresentam de retornar à forma original após terem sido submetidos a uma deformação elástica
2 Derivação: sentido figurado - capacidade de se recobrar facilmente ou se adaptar à má sorte ou às mudanças

Foi no segundo sentido que Rodini usou o termo, inovando na análise sobre a reeleição de Lula, conforme pode ser observado mais abaixo. Nove meses depois, não é que Barrionuevo resolve colocar o mesmíssimo conceito já no título da matéria (reproduzida abaixo) com a entrevista do presidente Lula ao jornal? Pode ser coincidência, mas, convenhamos, não é lá muito provável, ainda mais considerando que o artigo de Rodini foi publicado com o título original em outro blog.

Abaixo, o início da matéria do NYT e o artigo de Rodini.

A Resilient Leader Trumpets Brazil’s Potential in Agriculture and Biofuels

Article Tools Sponsored By
By ALEXEI BARRIONUEVO
Published: September 23, 2007

BRASÍLIA, Sept. 21 — In recent months the political climate in Brazil has been a boiling caldron for Luiz Inácio Lula da Silva, the country’s president.

Now serving his second term, President Luiz Inácio Lula da Silva of Brazil said, “What I want is to govern my country well.”

The second deadly airplane crash in 10 months set off a crisis in Brazil’s aviation industry in July, with many critics saying government inaction was at the root of the problem.

Last month, the country’s Supreme Court ordered 40 members of the president’s political party to stand trial on corruption charges in a scandal that has netted some of his closest advisers, including his former chief of staff.

But as Mr. da Silva, now in his second term, sat down for a 75-minute interview here in the presidential palace, those worries hardly seemed to faze him. He was nothing but upbeat, and with good reason.



As razões da vitória de Lula

Jorge Rodini

Com o final da campanha eleitoral e reeleição do Presidente Lula, podemos intuir os motivos da sua vitória incontesti. São cinco características de Lula que, a meu ver, foram absorvidas pelo povo brasileiro.


Lula é carismático A empatia do ex-torneiro mecânico com a população mais carente é quase fenomenal.

Lula é experimentado em eleições. Esta foi a quinta eleição presidencial que disputou.

Lula empolgou a militância. Apesar de todos os problemas que o PT teve, o presidente teve um exército a ajudá-lo.

Lula é o "Messias". Poucas figuras humanas no Brasil foram distinguidas com respeito e consideração dos mais pobres. De Messias Nordestino Lula foi alçado a condição de " Pai dos pobres".

Lula é resiliente. Por mais que sofra crises, ele consegue superá-las. Este conceito em Psicologia mostra como um pessoa pode ser quase imune às crises. Que, aliás, não foram poucas. Esta característica, porém, é diferente de invulnerabilidade ou invencibilidade

O Presidente sabe que tem vulnerabilidades.Tem que ter pressa para desatar o nó das contas públicas, das expectativas de reajustes elevados do salário-mínimo, das contas da previdência e da queda dos juros.
A economia do dia dia e o Bolsa-Família vão passar a ser o calcanhar de Aquiles deste novo mandato. Vai ser muito difícil segurar o preço dos produtos básicos e manter os programas sociais. O Brasil precisa crescer e o governo sabe disso.

Síntese: Lula ganhou porque teve respaldo popular, porque a oposição não conseguiu colar nele todas as trapalhadas de alguns membros do PT. Alckmin fez o que poderia ser feito, mas enfrentou um semi-Deus. Lula só não pode mais errar na questão ética nem impedir o crescimento mais vigoroso do Brasil. Até porque ele é resiliente, mas não invencível.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...