Pular para o conteúdo principal

Até o ombudsman reclama do
favorecimento da Folha a Serra

As notinhas abaixo estão na crítica interna do Ombudsman da Folha de S. Paulo, Mário Magalhães, e são auto-explicativas. Na verdade, funcionam como um complemento ao post "Como manipular uma notícia", publicado neste blog na sexta-feira e que pode ser lido mais abaixo. Eis as notas de Mário Magalhães:

Serra sem gafe

Em discurso na posse do presidente da Fapesp, o governador José Serra trocou ontem a sigla da fundação e pronunciou "Sabesp".
Para a Folha ("Serra pede ênfase na pesquisa básica", pág. A32), foi um "lapso".
Tudo bem, pode ser. Mas por que outros políticos, com enganos semelhantes, cometem "gafes", nas descrições do jornal?
Ou se padroniza ou vão imperar dois pesos e duas medidas.


Notícia pela metade

A Folha dedicou uma retranca inteira a um atraso de ontem do governador ("Serra atrasa 2 h e deixa crianças esperando", pág. C4).
O jornal conta o que ocorreu, dá detalhes. Fez bem.
Por que não perguntou ou apurou o motivo do atraso? Não era um direito de Serra responder e do leitor de saber?


A continuar desta maneira, este blog sugere que a Folha inclua em seu respeitado Manual de Redação os itens abaixo, retirados do famoso Decálogo do Chefe (na verdade, são 15 leis...) e adaptados para o governador e candidato do jornal à presidência da República em 2010. Pelo menos fica mais fácil para os repórteres iniciantes da editoria de política entenderem o espírito da coisa...

1. O Serra tem razão.
2. O Serra tem sempre razão.
3. O Serra não erra, se engana.
4. Ante a improvável hipótese de que ele não tenha razão, entra imediatamente em vigência os artigos 1 e 2.
5. O Serra não dorme, repousa.
6. O Serra não come, se nutre.
7 O Serra não bebe, degusta.
8 . O Serra nunca chega tarde, algo o atrasou.
9. O Serra nunca abandona o trabalho, é requerida sua presença em outro lugar.
10. O Serra nunca lê jornal no gabinete, se informa.
11. O Serra não se familiariza com a secretária... apenas a educa.
12. Quem entrar no gabinete do Serra com idéias próprias, deve ajustá-las às dele.
13. O Serra pensa por todos.
14. Quanto mais se pensa como Serra, mais se sobe na Folha.
15. Qualquer dúvida, vale o artigo 2.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...