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Cesar Maia: sem crise, Lula seria reeleito

O prefeito do Rio de Janeiro, Cesar Maia (DEM), fala muita bobagem, mas às vezes é capaz de apresentar boas análises políticas, ainda que com um viés partidário. É o caso do texto abaixo, que saiu nesta terça no "ex-blog" do prefeito. Vale a pena ler o que escreve Maia sobre as recentes pesquisas divulgadas na semana passada sobre o quadro sucessório para 2010. A julgar pelo que escreve o prefeito, se a crise americana não cair no colo de Lula nos próximos dois anos, o presidente conseguiria, com muita facilidade, mais um mandato.


PESQUISAS, AVALIAÇÃO E SUCESSÃO DE LULA!

1. O Instituto IPSOS publicou no ESP de domingo, pesquisa de opinião nacional com mil entrevistas. Pesquisas exigem sempre cuidado na análise. O eleitor médio não tem o nível de atenção, racionalidade e informação dos analistas ou dos interessados em política. Hoje, menos ainda pelos escândalos divulgados. Os estudos de maior profundidade que este Ex-Blog tem tido acesso mostram que o quadro não é tão linear como a razão jornalística exige.

2. O bolsa-família é o programa do governo Lula que mais consenso produz, cruzando as respostas por quaisquer perfis do eleitor. A resposta à pergunta ("o que Lula fez de bom no governo?") que dá ao bolsa-família 43%, a estabilidade econômica 20%, a ajuda aos pobres (que poderia ser somada ao bolsa-família), 10%... mostra exatamente isso. Mas isso não quer dizer que seja a principal razão de voto.

3. Estudos econométricos de causalidade mostram que a razão hipotética de se votar em Lula hoje é a questão econômica, estabilidade e crescimento. Por isso não há qualquer contradição do eleitor quando responde sobre o presidente responsável pela estabilidade econômica quando Lula tem 67% e FHC 7%. Essa resposta apenas ratifica o que as razões de causalidade demonstram. O ponto não é a bolsa-família, mas a economia. A boa economia de FHC terminou há 10 anos atrás, na crise de setembro de 1997.

4. Este Ex-Blog publicou uns meses atrás, resumo de um artigo do historiador e politólogo argentino, Natalio Botana, onde mostrava o paradoxal na América Latina entre economia e democracia. Ou seja, aqui, quanto melhor a economia mais autoritários ficam os governos. É o que vemos hoje pela AL afora. Com Lula e PT é exatamente assim: o executivo manda e o legislativo se submete. O caso Renan é exemplo disso. E é isso o que o executivo quer, aqui e alhures. Um quadro econômico inverso, certamente produziria não só a queda da avaliação de Lula, como a fragilização do executivo em relação ao legislativo e aos políticos.

5. Por outro lado, a fragilização do legislativo leva o eleitor a estar cada vez mais desligado da representação política dos partidos e mais ligado aos personagens. Por isso (e por sorte para eles) não existe PT, mas Lula. O problema é que o desenho do personagem Lula, não é clonável entre os políticos destacados hoje. Nenhum deles do PT, ou fora dele é da família Lula. Ao contrário, Serra, Aécio e Alckmin, são da família FHC.

6. Desta forma a eleição presidencial de 2010, parte de duas situações: a) não há personagem sucessor; b) depende da dinâmica econômica daqui para frente. Quando surge no horizonte um crescimento de 5%, o governo vai ao orgasmo, pois sabe que é esse seu pilar de sustentação e de transferência de votos. Mas quando a crise "hipotecária" sinaliza nuvens carregadas para a economia e os índices de preços pululam, todo este quadro se desfaz.

7. E se for assim, teremos uma eleição lotérica de partida na medida que a memória econômica negativa passará a ser de FHC e Lula e não só de FHC -segundo governo. Esta característica estimulará o lançamento de muitas candidaturas, e um quadro eleitoral imprevisível, onde os perdedores no primeiro turno poderão ser decisivos no segundo.

8. Desta forma, a pesquisa que se tem que ficar atento é a projeção de cenários para o futuro. É mais trabalhoso e sofisticado do que pesquisas sobre o que se pensa hoje. Os bons economistas sem partidos sabem como fazer. E a metodologia -que alguns chamam de quali-quantis- está a disposição de todos os interessados de forma a combinar projeção de cenários com os fatores de peso.

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