Os leitores podem achar que o autor destas Entrelinhas andou bebendo ou está sendo irônico ao afirmar que O Estado de S. Paulo fez o que está no título acima. Pois fez, sim, é o caso de matar a cobra e mostrar o pau: abaixo, a íntegra do editorial em questão, publicado na edição desta terça-feira.
Uma pesquisa explica a outra
Em política, dizia o ditador português Antonio de Oliveira Salazar, o que parece é. E a percepção da esmagadora maioria dos brasileiros, com o seu indissociável séquito de conseqüências políticas, é que o pai da estabilidade econômica nacional se chama Luiz Inácio Lula da Silva. O papel do “homem do real”, como os encantados eleitores saudavam na campanha presidencial de 1994 o então ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique, com quem tudo começou, está reduzido a pouco mais do que um vestígio na memória coletiva. Dois em cada três entrevistados na pesquisa inaugural do Estado com o instituto Ipsos Public Affairs, publicada domingo, consideram Lula “o maior responsável” pelo controle da inflação, ante irrisórios 7% que apontaram o seu antecessor.
Não há dúvida de que a deliberada desconstrução da verdade histórica a que ainda agora se dedica o atual presidente contribuiu para aquele monumental equívoco, ao obliterar o fato inconteste de que a maior responsabilidade de Lula consiste, isso sim, em ter mantido e aprofundado o “malanismo”, a política econômica do segundo mandato de Fernando Henrique. Não obstante, Lula não hesitou em cunhar a desonesta expressão “herança maldita”, para designar o legado que iria consolidar e de que iria usufruir em formidável escala. Ao contrário do seu ex-ministro Antonio Palocci, que teve a honestidade de sempre abençoar essa herança.
Mas, para mal dos pecados de Fernando Henrique e da oposição, em geral, quanto mais auspiciosos se revelam os resultados dessa política, maior se torna a hegemonia política do presidente Lula da Silva.
E esses resultados só tendem a melhorar, como mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), cuja versão relativa a 2006 o IBGE divulgou três dias antes de virem a público os números da sondagem do Ipsos para este jornal. O nexo entre os dois conjuntos de resultados é claro como o dia. O deslumbramento com um presidente que para 27% dos entrevistados não fez nada de ruim - ante 8% para os quais ele não fez nada de bom - é inseparável do aumento de 7,2%, o maior em uma década, do poder aquisitivo dos trabalhadores. Adicionando-se aos dados de 2006 os do ano precedente, o ganho acumulado alcança 12,1%. Em 2005, além disso, o desemprego estava em 9,3%. No período seguinte, caiu para 8,4%, com a vantagem de que 60% dos novos postos de trabalho davam direito a carteira assinada.
O IBGE revela ainda que, para a metade mais pobre dos assalariados, o ano passado foi de longe o melhor desde o lançamento do Plano Real. Isso apenas reforçou a tendência, que data de 1993, de lenta e gradual diminuição da desigualdade de renda no País. Naquele ano, o Índice de Gini, que varia de zero (igualdade absoluta) a 1 (desigualdade absoluta), estava em 0,600, considerando apenas os rendimentos do trabalho. Está em 0,541. Parcela ponderável dessa evolução se deve aos aumentos reais do salário mínimo - 20,6% no segundo governo Fernando Henrique e 25,3% no primeiro governo Lula. Os ganhos de qualidade de vida dos brasileiros nos últimos cinco anos não derivam só da posse de bens familiares (geladeiras, máquinas de lavar, aparelhos de TV, computadores). Também se expandiram os bens públicos (serviços de água, saneamento, coleta de lixo, luz e telefonia).
Vá-se dizer aos milhões que passaram a viver menos mal - apesar dos descalabros da saúde e do ensino - que o mundo atravessa o mais duradouro período de expansão econômica já registrado, e que o desempenho da economia brasileira, nesse contexto, é o pior entre os Brics, de que o Brasil faz parte, e é inferior à média dos desempenhos dos países em desenvolvimento. Para eles, herdeiros de uma das piores tradições de injustiça social vigentes em países de nível de desenvolvimento do Brasil, a percepção do ganho obtido, em termos absolutos, é o que conta. O mais é abstração - e o real, que abriu caminho para a doma dos preços, é história antiga. Daí Lula golear Fernando Henrique por 80 a 9, como o presidente que apoiou os mais pobres, e por 73 a 16 como o que mais elevou o poder de compra do povo, nos porcentuais da pesquisa Estado-Ipsos. Contra os 27% que acham que o governo Lula não fez nada de ruim, só 23% acharam ruim a corrupção; 11%, o apagão aéreo; e 10%, os serviços de saúde.
Não é à toa que a oposição está desarvorada.
Uma pesquisa explica a outra
Em política, dizia o ditador português Antonio de Oliveira Salazar, o que parece é. E a percepção da esmagadora maioria dos brasileiros, com o seu indissociável séquito de conseqüências políticas, é que o pai da estabilidade econômica nacional se chama Luiz Inácio Lula da Silva. O papel do “homem do real”, como os encantados eleitores saudavam na campanha presidencial de 1994 o então ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique, com quem tudo começou, está reduzido a pouco mais do que um vestígio na memória coletiva. Dois em cada três entrevistados na pesquisa inaugural do Estado com o instituto Ipsos Public Affairs, publicada domingo, consideram Lula “o maior responsável” pelo controle da inflação, ante irrisórios 7% que apontaram o seu antecessor.
Não há dúvida de que a deliberada desconstrução da verdade histórica a que ainda agora se dedica o atual presidente contribuiu para aquele monumental equívoco, ao obliterar o fato inconteste de que a maior responsabilidade de Lula consiste, isso sim, em ter mantido e aprofundado o “malanismo”, a política econômica do segundo mandato de Fernando Henrique. Não obstante, Lula não hesitou em cunhar a desonesta expressão “herança maldita”, para designar o legado que iria consolidar e de que iria usufruir em formidável escala. Ao contrário do seu ex-ministro Antonio Palocci, que teve a honestidade de sempre abençoar essa herança.
Mas, para mal dos pecados de Fernando Henrique e da oposição, em geral, quanto mais auspiciosos se revelam os resultados dessa política, maior se torna a hegemonia política do presidente Lula da Silva.
E esses resultados só tendem a melhorar, como mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), cuja versão relativa a 2006 o IBGE divulgou três dias antes de virem a público os números da sondagem do Ipsos para este jornal. O nexo entre os dois conjuntos de resultados é claro como o dia. O deslumbramento com um presidente que para 27% dos entrevistados não fez nada de ruim - ante 8% para os quais ele não fez nada de bom - é inseparável do aumento de 7,2%, o maior em uma década, do poder aquisitivo dos trabalhadores. Adicionando-se aos dados de 2006 os do ano precedente, o ganho acumulado alcança 12,1%. Em 2005, além disso, o desemprego estava em 9,3%. No período seguinte, caiu para 8,4%, com a vantagem de que 60% dos novos postos de trabalho davam direito a carteira assinada.
O IBGE revela ainda que, para a metade mais pobre dos assalariados, o ano passado foi de longe o melhor desde o lançamento do Plano Real. Isso apenas reforçou a tendência, que data de 1993, de lenta e gradual diminuição da desigualdade de renda no País. Naquele ano, o Índice de Gini, que varia de zero (igualdade absoluta) a 1 (desigualdade absoluta), estava em 0,600, considerando apenas os rendimentos do trabalho. Está em 0,541. Parcela ponderável dessa evolução se deve aos aumentos reais do salário mínimo - 20,6% no segundo governo Fernando Henrique e 25,3% no primeiro governo Lula. Os ganhos de qualidade de vida dos brasileiros nos últimos cinco anos não derivam só da posse de bens familiares (geladeiras, máquinas de lavar, aparelhos de TV, computadores). Também se expandiram os bens públicos (serviços de água, saneamento, coleta de lixo, luz e telefonia).
Vá-se dizer aos milhões que passaram a viver menos mal - apesar dos descalabros da saúde e do ensino - que o mundo atravessa o mais duradouro período de expansão econômica já registrado, e que o desempenho da economia brasileira, nesse contexto, é o pior entre os Brics, de que o Brasil faz parte, e é inferior à média dos desempenhos dos países em desenvolvimento. Para eles, herdeiros de uma das piores tradições de injustiça social vigentes em países de nível de desenvolvimento do Brasil, a percepção do ganho obtido, em termos absolutos, é o que conta. O mais é abstração - e o real, que abriu caminho para a doma dos preços, é história antiga. Daí Lula golear Fernando Henrique por 80 a 9, como o presidente que apoiou os mais pobres, e por 73 a 16 como o que mais elevou o poder de compra do povo, nos porcentuais da pesquisa Estado-Ipsos. Contra os 27% que acham que o governo Lula não fez nada de ruim, só 23% acharam ruim a corrupção; 11%, o apagão aéreo; e 10%, os serviços de saúde.
Não é à toa que a oposição está desarvorada.
Pelo menos de minha parte, sempre disse que a herança maldita, que houve sim, foi do primeiro mandato e não do segundo.
ResponderExcluirE FHC 2.0 sobre dessa herança maldita; e Lula tb ainda sofre.
Essa herança nos obriga a pagar 150 bilhões de Reais todos os anos só para rolar a dívida, em sua maior parte, criada em FHC 1.0.
Quando era garoto, achava que o Brasil tinha dívida. Não esperava viver FHC 1.0.
Mas para o Estadão, esses 6% do PIB jogados no ralo não significam nada. Preferem pedir para o governo baixar aposentadorias ou serviços sociais.