Pular para o conteúdo principal

Day after: agora é a vez da CPMF

Um dia depois da vitória de Renan Calheiros no Senado, começaram as articulações para o que de fato interessa ao governo federal: a prorrogação da CPMF, o famoso imposto do cheque, até 2011. Atualmente, o projeto que prorroga a CPMF está tramitando na Câmara e os especialistas em Congresso Nacional acreditam que entre os deputados não haverá problemas na aprovação da matéria, pois a base governista é sólida na Casa. O problema mesmo é o Senado, onde o clima já não estava dos melhores.

Desolados com a derrota de ontem, quarta-feira, os oposicionistas decidiram engrossar o jogo e prometeram não votar mais nada enquanto Calheiros for o presidente do Senado. Por um lado, é uma atitude arrogante, típica de maus perdedores, gente que não respeita a democracia. Na verdade, porém, a atitude revela um certo endurecimento na negociação sobre a CPMF, pois ninguém em Brasília acredita que DEM e PSDB "não vão votar mais nada" enquanto Renan for presidente. Na última vez que tentaram manobra semelhante, acabaram tendo que voltar atrás para aprovar uma MP que beneficiava os grandes agricultores – público-alvo, digamos assim, da atuações dos atores oposicionistas. Assim, o que está no horizonte é uma negociação mais complicada para o governo aprovar a prorrogação da contribuição, cuja arrecadação é automática e deve somar quase R$ 40 bilhões em 2008.

No fundo, a prorrogação da CPMF é o projeto mais importante para o governo Lula. Uma vez aprovado e tendo em vista que o presidente não pretende enviar novas reformas ao Congresso, o legislativo passará a ter uma agenda secundária – provavelmente as votações mais importantes serão as de Medidas Provisórias. A verdade é que nem a Câmara e muito menos o Senado têm uma agenda propositiva. Ambos caminham a reboque do Executivo. Muitos parlamentares acham que esta legislatura acaba no dia em que a CPMF for aprovda. Devem ter razão.

Comentários

  1. Perguntinha básica.
    Se a Câmara aprova a PEC e o Senado a derruba. A Câmara pode retomar a votação restituindo o que votou antes ou a PEC estaria definitivamente derrotada?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...