Já há vários analistas afirmando categoricamente que o presidente Lula teria perdido as eleições se a crise aérea tivesse ocorrido em outubro. Pode até ser, mas basta pensar um pouco para perceber o exagero de tal hipótese. Em primeiro lugar, porque a grande maioria dos brasileiros diretamente afetados pela crise provavelmente já votaria mesmo em Geraldo Alckmin. O resultado, desta forma, seria pouco alterado. E em segundo lugar, é preciso levar em consideração o caráter efêmero da crise. Tão logo ela seja debelada – e isto é questão de negociação, uma vez que o que está a se passar é decididamente uma greve branca dos controladores de vôo –, a verdadeira histeria que se vê hoje na imprensa vai sumir em questão de dias. E na próxima eleição, em 2008, é provável que ninguém mais se lembre do tal "apagão aéreo", salvo o pessoal que foi diretamente afetado pelos transtornos decorrentes dos atrasos e cancelamentos dos vôos. Lula sabe de tudo isto e, com sua experiência de líder sindical, parece estar esticando a corda para conseguir um acordo com os controladores que não seja tão desfavorável ao governo. Afinal, de greve – branca, marrom, colorida – o presidente entende bastante, certamente mais do que os críticos da "crise aérea".
O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda
Magalhães, o ocorrido seria tão passível de esquecimento se tivesse palco em 2001?
ResponderExcluirCarlos,
ResponderExcluirSe tivesse sido em 2001, o contexto seria outro - o dos ataques de 11 de setembro, naturalmente. Como não foi em 2001... é muito diferente. Aliás, a mídia está forçando a barra ao usar o termo "apagão" aéreo, porque não é disto que se trata.
abs. Luiz