A história que vai abaixo é verídica, com os nomes das personagens devidamente trocados.
Joana é uma menina feliz: estuda em um dos colégios da elite paulistana, tem um quarto repleto de brinquedos, é sócia de um belo clube e passa as férias entre a fazenda da família da mãe e a casa de praia da família do pai.
Neste fim de ano, com o início das férias escolares, Joana recebeu a visita de Luiza, a filha empregada que trabalha em sua casa. Como provavelmente não tinha com quem deixar a filhota, Dalva, a empregada, passou a trazê-la, dia sim, dia não, para a casa da patroa. Na antevéspera do Natal, já bem tarde, o pai de Joana atende o telefone. É Dalva, um pouco aflita, que lhe pede um favor. Nada demais, apenas que guardasse o brinquedo que Luiza havia esquecido, para que na manhã seguinte Joana e seu irmão Teodoro não o quebrassem. Dalva temia que os dois não soubessem muito bem como ligar o laptop da Xuxa de sua filha Luiza.
O pai, meio perplexo, assentiu e foi guardar o brinquedo. Joana tem muita coisa, mas de fato ainda não ganhou o tal computadorzinho. Nas boas lojas do ramo, custa R$ 250 à vista e os pais de Joana até tinham pensado em comprá-lo, mas acharam o preço salgado.
Dalva provavelmente comprou o laptop em muitas prestações, quem sabe em 48 ou 36, pois ganha R$ 500 por mês e certamente não usaria metade do salário para dar o presente à filha. Pagando em tantas prestações, o brinquedo certamente saiu pelo menos o dobro do que custaria à vista. Desta forma, porém, a prestação ficou entre R$ 10 e R$ 13 e coube no apertado orçamento de Dalva. Pode parecer pouco, mas, como diz a propaganda do esperto cartão de crédito, para Luiza, ter levado à casa onde sua mãe trabalha um brinquedo que a filha da patroa não possui simplesmente não tem preço.
Tucanos de bico longo torcem o nariz para essas coisas. Diriam que os pobres estão sendo explorados ao pagar por um brinquedo o dobro do que pagariam os ricos. Como diriam os americanos: bullshit. Na verdade, a elite se incomoda com o acesso dos pobres a bens e serviços que ela julgava exclusivos da sua própria classe. A cantilena não muda nunca: o povaréu pode sim ter acesso a tais "luxos", mas é preciso fazer o bolo crescer antes de dividi-lo.
De fato, o argumento não se sustenta e o presidente Lula percebeu o anseio do povão – basicamente, por bens de consumo. O governo atual vem trabalhando para aumentar as possibilidade de acesso a esses bens, seja via expansão do crédito, seja via recuperação do salário mínimo ou programas sociais, como o Bolsa Família. Lula se reelegeu em grande medida por causa disto. Foi gente como Dalva, com a auto-estima em alta, que deu um voto de confiança no presidente. Pragmáticos, as milhares de Dalvas e Luizas não esperam um "governo de esquerda", mas apenas novas chances de ter, ainda nesta encarnação e não na que os tucanos gostam de prometer, alguns dos confortos que a burguesia já conhece faz muito tempo.
O pessoal do PSOL também não gosta muito de ver as coisas desta maneira. Acham tudo isto uma grande armadilha, engendrada talvez nos gabinetes de Washington com o intuito de perpetuar o capitalismo no Brasil. Certamente estão com a razão, mas o problema é que para a menina Luiza o socialismo pode chegar tarde demais. Já o laptop da Xuxa, que a filha da patroa de sua mãe não tem, esse já está garantido. Talvez tenha por isto que Geraldo Alckmin e Heloísa Helena ficaram falando sozinhos e o presidente acabou se reelegendo...
Por hoje é tudo, se não fosse pouco! Bom ano novo a todos os que tiveram a paciência de acompanhar essas Entrelinhas em 2006. O blog faz uma breve pausa e volta a atualizar dia 2. Até 2007, portanto.
Joana é uma menina feliz: estuda em um dos colégios da elite paulistana, tem um quarto repleto de brinquedos, é sócia de um belo clube e passa as férias entre a fazenda da família da mãe e a casa de praia da família do pai.
Neste fim de ano, com o início das férias escolares, Joana recebeu a visita de Luiza, a filha empregada que trabalha em sua casa. Como provavelmente não tinha com quem deixar a filhota, Dalva, a empregada, passou a trazê-la, dia sim, dia não, para a casa da patroa. Na antevéspera do Natal, já bem tarde, o pai de Joana atende o telefone. É Dalva, um pouco aflita, que lhe pede um favor. Nada demais, apenas que guardasse o brinquedo que Luiza havia esquecido, para que na manhã seguinte Joana e seu irmão Teodoro não o quebrassem. Dalva temia que os dois não soubessem muito bem como ligar o laptop da Xuxa de sua filha Luiza.
O pai, meio perplexo, assentiu e foi guardar o brinquedo. Joana tem muita coisa, mas de fato ainda não ganhou o tal computadorzinho. Nas boas lojas do ramo, custa R$ 250 à vista e os pais de Joana até tinham pensado em comprá-lo, mas acharam o preço salgado.
Dalva provavelmente comprou o laptop em muitas prestações, quem sabe em 48 ou 36, pois ganha R$ 500 por mês e certamente não usaria metade do salário para dar o presente à filha. Pagando em tantas prestações, o brinquedo certamente saiu pelo menos o dobro do que custaria à vista. Desta forma, porém, a prestação ficou entre R$ 10 e R$ 13 e coube no apertado orçamento de Dalva. Pode parecer pouco, mas, como diz a propaganda do esperto cartão de crédito, para Luiza, ter levado à casa onde sua mãe trabalha um brinquedo que a filha da patroa não possui simplesmente não tem preço.
Tucanos de bico longo torcem o nariz para essas coisas. Diriam que os pobres estão sendo explorados ao pagar por um brinquedo o dobro do que pagariam os ricos. Como diriam os americanos: bullshit. Na verdade, a elite se incomoda com o acesso dos pobres a bens e serviços que ela julgava exclusivos da sua própria classe. A cantilena não muda nunca: o povaréu pode sim ter acesso a tais "luxos", mas é preciso fazer o bolo crescer antes de dividi-lo.
De fato, o argumento não se sustenta e o presidente Lula percebeu o anseio do povão – basicamente, por bens de consumo. O governo atual vem trabalhando para aumentar as possibilidade de acesso a esses bens, seja via expansão do crédito, seja via recuperação do salário mínimo ou programas sociais, como o Bolsa Família. Lula se reelegeu em grande medida por causa disto. Foi gente como Dalva, com a auto-estima em alta, que deu um voto de confiança no presidente. Pragmáticos, as milhares de Dalvas e Luizas não esperam um "governo de esquerda", mas apenas novas chances de ter, ainda nesta encarnação e não na que os tucanos gostam de prometer, alguns dos confortos que a burguesia já conhece faz muito tempo.
O pessoal do PSOL também não gosta muito de ver as coisas desta maneira. Acham tudo isto uma grande armadilha, engendrada talvez nos gabinetes de Washington com o intuito de perpetuar o capitalismo no Brasil. Certamente estão com a razão, mas o problema é que para a menina Luiza o socialismo pode chegar tarde demais. Já o laptop da Xuxa, que a filha da patroa de sua mãe não tem, esse já está garantido. Talvez tenha por isto que Geraldo Alckmin e Heloísa Helena ficaram falando sozinhos e o presidente acabou se reelegendo...
Por hoje é tudo, se não fosse pouco! Bom ano novo a todos os que tiveram a paciência de acompanhar essas Entrelinhas em 2006. O blog faz uma breve pausa e volta a atualizar dia 2. Até 2007, portanto.
Quero prabenizar pelo blog.
ResponderExcluirPara qu m blog sobreviva, deve sempre estar atualizadíssimo!!! E este sempre está!!!
Abração!!!
www.bahcaroco.blogspot.com