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O mínimo de R$ 380: críticas já começaram

A definição de um reajuste para o salário mínimo superior ao que estava sendo aventado na imprensa ajuda a compreender como funcionam as coisas em Pindorama. Foi só o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, anunciar oficialmente que o salário vai subir para R$ 380 e que haverá correção de 4,5% na tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física para as críticas, ainda tímidas, começarem. Nos próximos dias, os leitores podem apostar, essas críticas aumentarão de frequência e intensidade. Não é preciso ser nenhum gênio para prever o que dirão os Carlos Sarndenbergs e as Míriam Leitoas na imprensa: o governo está sendo irresponsável por dar um aumento de espetaculares 8% para o mínimo enquanto a economia cresce apenas 2,8% ao ano.

Os ouvintes e leitores receberão um verdadeiro bombardeio midiático sobre a inconveniência desses R$ 30 adicionais que passarão a valer a partir de abril do próximo ano: a Previdência vai quebrar, as prefeituras não terão como pagar o montante, as pequenas empresas terão dificuldades. Em inglês, há uma palavra perfeita para definir este tipo de argumentação: bullshit.
O leitor deste blog pode dormir tranquilo: nem a Previdência, prefeituras ou pequenas empresas quebrarão no próximo ano, nem o governo Lula está entrando em uma fase "chavista". Basta ler o teor do acordo celebrado entre governo e as centrais sindicais para perceber que os aumentos estão perfeitamente dentro do que é possível conceder no contexto da bastante ortodoxa política econômica vigente, prevendo, inclusive, os aumentos para os próximos 10 anos. Em outras palavras, tanto o reajuste do mínimo como a correção da tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física estão enquadrados no ajuste fiscal que o governo vem realizando desde 2003. Nada disto, porém, será suficiente para conter a sanha dos pitbulls do mercado financeiro, que clamarão por aumentos menores e se prestarão ao serviço (bem remunerados?) de cavaleiros do apocalipse.

Na verdade, a política de Lula para o salário mínimo é das boas coisas de seu governo, melhor até do que o Bolsa Família, porque de fato distribui renda (pouco, é verdade, mas seus antecessores nem isto faziam...). Este blog acredita até que Lula deveria deixar de lado a correção da tabela do IR e se concentrar apenas no salário mínimo, até pelo maior alcance da medida. Ou seja, ao invés de aliviar em 4,5% a classe média, melhor seria aumentar alguns reais a mais no mínimo, o quanto fosse possível com a economia da não-correção da tabela.

Se na mídia as críticas vão aparecer rapidamente, no mundo político talvez as oposições adotem uma postura mais comedida. Afinal, depois de perderem as eleições em boa parte pelas críticas feitas aos programas sociais do presidente, talvez os tucanos e liberais tenham aprendido que criticar aumentos de benefícios para os pobres não é examente o melhor jeito de tentar recuperar o espaço perdido para voltar ao poder...

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