Pular para o conteúdo principal

Serra não quer Alckmin na prefeitura de S. Paulo; trio tucano pode se separar em 2010

A montagem do ministério do presidente Lula está centralizando a cobertura política e as atenções dos analistas, mas há um outro jogo muito interessante sendo disputado neste momento, no campo da oposição, que tem sido pouco comentado na mídia. Até agora, os nomes que foram anunciados para o primeiro escalão do governo de São Paulo, que a partir de 1° de janeiro passa para o comando de José Serra (PSDB), revelam uma guerra surda entre os tucanos. Serra, como seria de se esperar, está escalando o seu time, mas é perceptível a má vontade do futuro governador em aproveitar nomes da gestão de Geraldo Alckmin, também tucano. Ao contrário, o que José Serra vem fazendo é justamente colocar para escanteio a turma que serviu Alckmin.

Vingança, como se sabe, é um prato que se serve frio e é isto que Serra está preparando. Nos bastidores do tucanato, também se fala de outra jogada arrojada do futuro governador: ele estaria tentando atrair o prefeito paulistano Gilberto Kassab, hoje no PFL, para o PSDB. Kassab seria então o candidato natural à reeleição, pelo partido tucano, impedindo assim a candidatura de Alckmin a prefeito da capital. De fato, tudo que Serra não deseja é a volta de Alckmin ao cenário político nacional, o que poderia ocorrer se o ex-governador vencesse a disputa eleitoral em 2008. Neste caso, Alckmin poderia mais uma vez pleitear a indicação para a disputa presidencial em 2010 e melar, pela segunda vez, a candidatura de Serra.

A outra variável na equação tucana rumo a 2010 é Aécio Neves, que desde já está montando o seu cacife e se posicionando na disputa pela vaga de candidato à presidência. Aécio evita o confronto com o presidente Lula e assume a postura de oposicionista responsável, que vai trabalhar pelo Brasil, e não contra o sucesso de Lula.

Um observador esperto da cena política, ligado ao tucanato, já fez uma interessante previsão: Serra, Aécio e Alckmin poderão estar, em 2010, em partidos políticos distintos. Este blog não consulta videntes, mas aposta que a configuração poderia ser a seguinte: Serra no PPS, Aécio no PMDB ou PSB, e Alckmin em um PSDB enfraquecido e desitratado.

A banqueirada do PFL, que não é de rasgar nota de cem, está observando os movimentos. No início de 2006, preferiam Serra, mas acabaram no colo de Alckmin e depois reclamaram da fraqueza do candidato. Em 2010, poderão estar com qualquer um dos três ou até disputar, pela segunda vez na história (a primeira foi com Aureliano Chaves, em 1989) a eleição presidencial. Cesar Maia seria epenas um dos nomes disponíveis, mas há outros, em formação. 2006 nem acabou, mas políticos são assim mesmo, é só a urna fechar e já começam a pensar na próxima campanha...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...