Em mais uma colaboração para este blog, o professor Wagner Iglecias analisa as recentes pesquisas de opinião que mostram a alta popularidade do presidente Lula e faz também alguns prognósticos sobre o segundo mandato. Vale a pena ler o texto na íntegra, abaixo:
O ano de 2006 está acabando e com ele vai se encerrando o primeiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Parece coisa à toa falar disso agora que a eleição já passou e o presidente-operário foi reconduzido para mais quatro anos a frente do Palácio do Planalto. Citar seu segundo mandato parece o fato mais normal do mundo. Mas quem de nós, em sã consciência, se arriscaria em apostar nisso em meados de 2005, durante o auge da crise política? Quem seria capaz de acreditar numa recuperação tão impressionante da imagem e da força política de Lula, após a enxurrada de problemas que abateu-se sobre seu governo, especialmente nos dois últimos anos?
O fato é que alguma coisa um tanto insondável ocorreu entre o dia em que vieram a tona as primeiras denúncias sobre o mensalão e estes dias quentes a abafados que antecedem o final do ano de 2006. Tarefa que talvez apenas os historiadores do futuro consigam decifrar. Ou talvez nem eles. O fato é que boa parte da sociedade brasileira, especialmente os mais pobres, deu um drible desconcertante em todos nós, intelectuais, jornalistas, homens de negócios, políticos, formadores de opinião etc. Drible da vaca, como se diz em bom futebolês, daqueles que entortam a coluna do adversário. Não bastassem as urnas, que apontaram uma expressiva vitória do petista, agora nos dias que fecham o ano surgem pesquisas de opinião que mostram que existe uma considerável distância entre o que a maioria dos brasileiros acham do governo e de Lula e aquilo que alguns setores formadores de opinião imaginam (ou queiram) que eles achem.
No último domingo o Datafolha divulgou sondagem segundo a qual Lula foi avaliado como o melhor presidente da História do país. Ainda segundo o instituto 52% dos entrevistados consideram seu governo como ótimo ou bom. A pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta segunda-feira, por sua vez, informa que Lula está encerrando seu segundo mandato com avaliação positiva recorde. Consideram sua gestão ótima ou boa 57% dos brasileiros. Confiam que ele fará boa gestão a partir de 2007 68% da população. Outros 57% acham que Lula terá condições de fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro.
Lula não é mais uma novidade, é certo. É natural, desta maneira, que a esperança em relação a seu segundo mandato, embora bastante alta, seja menor do que aquela que havia quatro anos atrás. Os números do Datafolha atestam isso. Se hoje 59% dos brasileiros esperam um governo ótimo ou bom neste segundo mandato, em dezembro de 2002 aquele índice era de 76%. É provável que Lula tenha perdido parcelas importantes de seu eleitorado histórico, que devem ter se decepcionado com os problemas relacionados à corrupção ocorridos no primeiro mandato e mesmo com a postura relativamente moderada de seu governo em termos de política e economia em relação às velhas bandeiras do petismo. Mas ao mesmo tempo Lula ganhou para si o apoio maciço das classes populares, inclusive de setores anteriormente refratários ao discurso petista e há décadas encapsulados por correntes à direita do espectro político.
O que pouco deve ter mudado no cesto eleitoral do presidente e no rol de expectativas positivas em relação a seu governo seja o tamanho da parcela do eleitorado desde sempre inimiga do discurso petista. Uma parcela em grande medida urbana, de classe média, atuante no setor privado. De fato, parecem residir ali os únicos segmentos realmente sensibilizáveis por certos canais de formação de opinião que vêem Lula como um mal a ser combatido incessantemente. O intuito parece ser manter esta gente permanentemente mobilizada em relação ao governo, e se possível, contra ele. Será que dá resultado? Em 2006 não deu. Independentemente disso, cabe a Lula realizar um segundo mandato que não apenas amplie e consolide políticas públicas destinadas a melhorar as condições de vida dos mais pobres, como de fato ocorreu nos quatro primeiros anos, como promover ações que promovam melhoria de vida também para os segmentos médios que lhe são pouco afeitos. Até porque a voz rouca das ruas é implacável com os homens públicos, e muito provavelmente Lula irá querer sustentar ainda por muito tempo, não apenas nas pesquisas de opinião, mas também nos livros de História, a marca de melhor presidente que este país já teve.
Wagner Iglecias é doutor em sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
O ano de 2006 está acabando e com ele vai se encerrando o primeiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. Parece coisa à toa falar disso agora que a eleição já passou e o presidente-operário foi reconduzido para mais quatro anos a frente do Palácio do Planalto. Citar seu segundo mandato parece o fato mais normal do mundo. Mas quem de nós, em sã consciência, se arriscaria em apostar nisso em meados de 2005, durante o auge da crise política? Quem seria capaz de acreditar numa recuperação tão impressionante da imagem e da força política de Lula, após a enxurrada de problemas que abateu-se sobre seu governo, especialmente nos dois últimos anos?
O fato é que alguma coisa um tanto insondável ocorreu entre o dia em que vieram a tona as primeiras denúncias sobre o mensalão e estes dias quentes a abafados que antecedem o final do ano de 2006. Tarefa que talvez apenas os historiadores do futuro consigam decifrar. Ou talvez nem eles. O fato é que boa parte da sociedade brasileira, especialmente os mais pobres, deu um drible desconcertante em todos nós, intelectuais, jornalistas, homens de negócios, políticos, formadores de opinião etc. Drible da vaca, como se diz em bom futebolês, daqueles que entortam a coluna do adversário. Não bastassem as urnas, que apontaram uma expressiva vitória do petista, agora nos dias que fecham o ano surgem pesquisas de opinião que mostram que existe uma considerável distância entre o que a maioria dos brasileiros acham do governo e de Lula e aquilo que alguns setores formadores de opinião imaginam (ou queiram) que eles achem.
No último domingo o Datafolha divulgou sondagem segundo a qual Lula foi avaliado como o melhor presidente da História do país. Ainda segundo o instituto 52% dos entrevistados consideram seu governo como ótimo ou bom. A pesquisa CNI/Ibope, divulgada nesta segunda-feira, por sua vez, informa que Lula está encerrando seu segundo mandato com avaliação positiva recorde. Consideram sua gestão ótima ou boa 57% dos brasileiros. Confiam que ele fará boa gestão a partir de 2007 68% da população. Outros 57% acham que Lula terá condições de fazer um segundo mandato melhor do que o primeiro.
Lula não é mais uma novidade, é certo. É natural, desta maneira, que a esperança em relação a seu segundo mandato, embora bastante alta, seja menor do que aquela que havia quatro anos atrás. Os números do Datafolha atestam isso. Se hoje 59% dos brasileiros esperam um governo ótimo ou bom neste segundo mandato, em dezembro de 2002 aquele índice era de 76%. É provável que Lula tenha perdido parcelas importantes de seu eleitorado histórico, que devem ter se decepcionado com os problemas relacionados à corrupção ocorridos no primeiro mandato e mesmo com a postura relativamente moderada de seu governo em termos de política e economia em relação às velhas bandeiras do petismo. Mas ao mesmo tempo Lula ganhou para si o apoio maciço das classes populares, inclusive de setores anteriormente refratários ao discurso petista e há décadas encapsulados por correntes à direita do espectro político.
O que pouco deve ter mudado no cesto eleitoral do presidente e no rol de expectativas positivas em relação a seu governo seja o tamanho da parcela do eleitorado desde sempre inimiga do discurso petista. Uma parcela em grande medida urbana, de classe média, atuante no setor privado. De fato, parecem residir ali os únicos segmentos realmente sensibilizáveis por certos canais de formação de opinião que vêem Lula como um mal a ser combatido incessantemente. O intuito parece ser manter esta gente permanentemente mobilizada em relação ao governo, e se possível, contra ele. Será que dá resultado? Em 2006 não deu. Independentemente disso, cabe a Lula realizar um segundo mandato que não apenas amplie e consolide políticas públicas destinadas a melhorar as condições de vida dos mais pobres, como de fato ocorreu nos quatro primeiros anos, como promover ações que promovam melhoria de vida também para os segmentos médios que lhe são pouco afeitos. Até porque a voz rouca das ruas é implacável com os homens públicos, e muito provavelmente Lula irá querer sustentar ainda por muito tempo, não apenas nas pesquisas de opinião, mas também nos livros de História, a marca de melhor presidente que este país já teve.
Wagner Iglecias é doutor em sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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