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Crise aérea: na próxima eleição,
ninguém mais vai lembrar do assunto

Já há vários analistas afirmando categoricamente que o presidente Lula teria perdido as eleições se a crise aérea tivesse ocorrido em outubro. Pode até ser, mas basta pensar um pouco para perceber o exagero de tal hipótese. Em primeiro lugar, porque a grande maioria dos brasileiros diretamente afetados pela crise provavelmente já votaria mesmo em Geraldo Alckmin. O resultado, desta forma, seria pouco alterado. E em segundo lugar, é preciso levar em consideração o caráter efêmero da crise. Tão logo ela seja debelada – e isto é questão de negociação, uma vez que o que está a se passar é decididamente uma greve branca dos controladores de vôo –, a verdadeira histeria que se vê hoje na imprensa vai sumir em questão de dias. E na próxima eleição, em 2008, é provável que ninguém mais se lembre do tal "apagão aéreo", salvo o pessoal que foi diretamente afetado pelos transtornos decorrentes dos atrasos e cancelamentos dos vôos. Lula sabe de tudo isto e, com sua experiência de líder sindical, parece estar esticando a corda para conseguir um acordo com os controladores que não seja tão desfavorável ao governo. Afinal, de greve – branca, marrom, colorida – o presidente entende bastante, certamente mais do que os críticos da "crise aérea".

Comentários

  1. Magalhães, o ocorrido seria tão passível de esquecimento se tivesse palco em 2001?

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  2. Carlos,
    Se tivesse sido em 2001, o contexto seria outro - o dos ataques de 11 de setembro, naturalmente. Como não foi em 2001... é muito diferente. Aliás, a mídia está forçando a barra ao usar o termo "apagão" aéreo, porque não é disto que se trata.
    abs. Luiz

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