Pular para o conteúdo principal

Imprensa deixa o Serra trabalhar...

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciasse as nomeações do ex-ministro Pedro Malan para a pasta da Cultura e de um ex-secretário das gestões de Paulo Maluf e Celso Pitta na prefeitura de São Paulo para, digamos, o ministério das Cidades, não seria difícil imaginar o grau de histeria que tomaria conta da imprensa brasileira, especialmente de certos colunistas. Choveriam "análises" contundentes sobre o fim do segundo mandato do presidente, antes mesmo de seu começo. Afinal, com Lula e o PT, não há segunda chance: a mídia atira primeiro e pergunta depois.

Pois não foi que o governador eleito de São Paulo, o tucano José Serra, completou nesta semana os nomes da sua equipe e anunciou o economista João Sayad, ex-secretário de Finanças da prefeita Marta Suplicy, para a secretaria estadual da Cultura? Outro nome interessante no secretariado de Serra é o de Lair Krahenbuhl, que trabalhou com os prefeitos Maluf e Pitta e foi indicado para a Habitação. Sobre essas nomeações, a imprensa de São Paulo simplesmente calou. Nada contra Sayad e Krahenbuhl – dois excelentes nomes, ambos muito competentes –, mas causa estranheza que jornal algum tenha chamado atenção para o fato de Sayad ter trabalhado com Marta e Lair, com Maluf e Pitta. Aliás, não foi possível ler uma única análise crítica sobre a composição do secretariado de Serra.

A verdade é que após perder para Alckmin a disputa interna pela vaga de candidato à presidência, Serra foi poupado de qualquer tipo de crítica pela imprensa paulista. Ao contrário de 2002, quando o então candidato à presidência recebeu um tratamento duro da mídia, Serra parece ter se tornado um darling dos donos dos grandes veículos. Da Folha de S. Paulo até era de se esperar um tratamento carinhoso ao seu ex-colunista, mas a unanimidade em torno do governador está ficando algo até meio constrangedor. Parodiando o jingle da campanha do presidente Lula, parece que a mídia vai deixar o Serra trabalhar sem incomodá-lo muito pelos próximos quatro anos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...