Pular para o conteúdo principal

Carro parcelado em 99 vezes, o preconceito
das elites e o 3° mandato do presidente Lula

A reportagem reproduzida abaixo, do Estadão desta segunda-feira, é ilustrativa não apenas para explicar o sucesso do presidente Lula com os pobres mas também para revelar o preconceito dos ricos com o chamado "andar debaixo", como gosta de escrever Elio Gaspari.

Quem tiver interesse de ler a matéria completa, cujo link está abaixo, vai ficar sabendo que a uma taxa de juros menor do que a Selic, os pobres estão comprando carros novos, os chamados zero quilômetro. Vai descobrir também que 46% desses compradores o fazem pela primeira vez na vida. A leitura da matéria, porém, também revela um certo desgosto do pessoal do Estadão com esta verdadeira febre no Brasil que é o consumo dos pobres desde que Lula se tornou presidente e mais especialmente neste início de segundo mandato. Todo o foco da reportagem é na possibilidade de uma situação do tipo "subprime" norte-americano no mercado de venda de automóveis a prazo, hipótese esta que uma análise fria dos números apresentados na própria reportagem já é suficiente para descartar. Afinal, a inadimplência neste setor é de apenas 3% e a legislação permite a rápida retomada dos automóveis dos inadimplentes pelo banco ou financeira que financiou o parcelamento. Na verdade, ao contrário do que diz a matéria, vender carro para pobres é um grande negócio justamente porque eles pagam mais pelo carro e a taxa de inadimplência é baixíssima.

E o que tudo isto tem a ver com o terceiro mandato do presidente Lula? Muito simples: esses brasileiros que compraram carros novos pela primeira vez na vida certamente vão associar os tempos de bonança com o atual presidente. Convoque-se um plebiscito sobre o assunto e como votarão os pobres motorizados da Era Lula? E se a tal emenda vingar, é melhor o DEM e PSDB já começarem a pensar em 2014...

Baixa renda já pode comprar carro zero em até 99 meses

Márcia De Chiara


O brasileiro já pode comprar carro zero parcelado num prazo superior a oito anos ou 99 meses, pagando juros de 0,89% ao mês ou 11,21% ao ano. A taxa é inferior à Selic, a taxa básica de juros, que está em 11,25% ao ano. Isso permitiu que uma fatia expressiva da população de menor renda comprasse pela primeira vez um carro novo.

Comentários

  1. Do jeito que o DEM e PSDB, faz opisição sem responsabilidade nenhuma e sem trocar o discurso é melhor eles irem pensando em 2044 pra frente.

    Com o discurso da década de 90 é bem possível que eles vão tomar muitas bolas nas costas nas próximas eleições.

    ResponderExcluir
  2. Eu gostei bastante da matéria, mas não resumiria a questão a uma análise tão elite x baixa renda. Por um lado, o acesso à compra do primeiro automóvel por parte de pessoas de baixa renda representa sim um grande avanço. Hoje em dia esse feito é possível graças aos avanços no campo da economia alcançados até o momento, mérito não só do governo atual, tampouco do anterior, mas principalmente pelo cenário positivo que vive o país.
    É fato que comparar os índices de endividamento de um brasileiro de baixa renda com um americano e dizer que podemos criar um cenário semelhante ao dos "subprimes" é absurdo no curto e médio prazos. Todavia, o índice de endividamento vem crescendo numa velocidade bem maior que as taxas de crescimento e aumento de renda registradas no mesmo período, logo, sim, isso deveria ser uma preocupação do governo no longo prazo.
    Usando por base uma família com a renda informada na matéria (R$1.384) e descontando um valor (suposto) de R$400 mensais na manutenção do carro e combustível, mais prestação de R$360 (aproximada, considerando um carro de R$12mil), temos um quadro em que mais de 50% dos gastos dessa família estão comprometidos com custos do veículo por mais de 8 anos.
    Dadas essas informações, acredito que podemos sim - e devemos - celebrar o acesso do brasileiro de baixa renda a compra do seu automóvel, mas é imperativo fornecer informações claras de como funcionam os financiamentos e estimular o consumo responsável para evitarmos surpresas no futuro.

    ResponderExcluir
  3. Tem um problema seríssimo nessa história. Então agora pobre consegue comprar carro em 99 vezes - e o nosso sistema de mobilidade e transporte vai pro saco de uma vez. Já não anda agora... Vamos continuar investindo em obras viárias caríssimas para acomodar o inacomodável? Carro já é o sonho de consumo das classes A, B, C, D... Mas A e B não precisam se preocupar com poupança, crédito e capacidade de endividamento. C e D sim. O país tem um déficit de 9 milhões de moradias. Para suprimi-lo, setor público e privado precisam oferecer moradias boas (mesmo) e baratas e... crédito. Com o pessoal pendurado nos carnês das Casas Bahia e, agora, das vendedoras de automóvel, fica mais difícil. Eu preferia que o andar de baixo pudesse ter moradia confortável, decente, em lugares centrais (para não precisar tanto de carro!) do que o bendito carro para se sentir integrado ao sistema - e ficar parado nos monstruosos congestionamentos, perdendo tempo de vida, apenas com mais conforto do que no ônibus ao lado. PS: e se o povo quiser Lula de novo porque agora pode comprar carro, tá louco... É a versão atual e "melhorada" do "iogurte e dentadura" do Fernando Henrique?

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...