Em mais uma colaboração para o blog, o professor Wagner Iglecias comenta as articulações pelo terceiro mandato do presidente Lula. A seguir, a íntegra do artigo:
Diz o ditado popular que um é pouco, dois é bom e três é demais. Embora o sistema político brasileiro hoje gravite (a favor ou contra) em torno de Lula, e tenha em Lula o seu referencial definidor, é dificil supor que o presidente-operário venha a ser candidato a sua própria sucessão. Afinal, Lula sabe que não seria baixo o custo de descolar, via alteração constitucional, a possibilidade de se por fim ao limite de reeleições para os comandantes do Poder Executivo.
Apesar disto, os setores anti-lulistas se apavoram com a possibilidade de um terceiro mandato para o presidente. Sabem muito bem que ele provavelmente seria um fortíssimo candidato em 2010. Tome-se como exemplo as pesquisas de opinião, que têm demonstrado, há tempos, uma popularidade quase inabalável de Lula, especialmente junto ao povão, o grosso do eleitorado. Ou seja, com Lula na parada novamente a oposição poderia ver adiado mais uma vez seu sonho de retomar a presidência da república.
No jogo de cena visando 2010 os oposicionistas não se cansam, além de alertar para o perigo de tentações chavistas aqui e ali, de dizer que o petismo não tem candidato viável para disputar a sucessão presidencial. E que por isso mesmo, inclusive para manter cargos e posições de poder, o PT forçaria a barra pela mudança na Constituição.
Bobagem. A oposição sabe que o governo de Lula é impulsionado, sim, pelo carisma pessoal do presidente, mas que não se assenta exclusivamente nisto. Quem for candidato pela coalizão governista em 2010 certamente terá o que mostrar na campanha eleitoral. Estará defendendo a continuidade de um governo que terá tido erros e acertos, mas também realizações, especialmente para os mais pobres.
Independentemente das eventuais articulações de bastidores, pró e contra a alteração constitucional, e do desfecho da coisa, Lula não deveria pleitear um terceiro mandato de jeito algum. Em primeiro lugar porque a alternância no poder, de partidos e de pessoas, é saudável e fundamental para o regime democrático. E em segundo lugar porque é deplorável lançar mão de posição de poder para mudar as regras do jogo com o jogo em andamento, especialmente se isso for feito em benefício próprio.
Lula sabe que entrará para a História com algumas glórias e com alguns revezes, mas sabe também que ficará melhor na foto sem uma manobra deste tipo. De mais a mais, se fizer um bom segundo mandato e chegar à eleição de seu sucessor com bons índices de popularidade, Lula poderá pleitear um retorno ao Palácio do Planalto em 2014, possibilidade que a lei lhe faculta. Restará, numa hipótese destas, saber se o eleitorado o levaria novamente ao poder, já com quase 70 anos de idade, ou preferiria impulsionar a renovação geracional da política brasileira.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Diz o ditado popular que um é pouco, dois é bom e três é demais. Embora o sistema político brasileiro hoje gravite (a favor ou contra) em torno de Lula, e tenha em Lula o seu referencial definidor, é dificil supor que o presidente-operário venha a ser candidato a sua própria sucessão. Afinal, Lula sabe que não seria baixo o custo de descolar, via alteração constitucional, a possibilidade de se por fim ao limite de reeleições para os comandantes do Poder Executivo.
Apesar disto, os setores anti-lulistas se apavoram com a possibilidade de um terceiro mandato para o presidente. Sabem muito bem que ele provavelmente seria um fortíssimo candidato em 2010. Tome-se como exemplo as pesquisas de opinião, que têm demonstrado, há tempos, uma popularidade quase inabalável de Lula, especialmente junto ao povão, o grosso do eleitorado. Ou seja, com Lula na parada novamente a oposição poderia ver adiado mais uma vez seu sonho de retomar a presidência da república.
No jogo de cena visando 2010 os oposicionistas não se cansam, além de alertar para o perigo de tentações chavistas aqui e ali, de dizer que o petismo não tem candidato viável para disputar a sucessão presidencial. E que por isso mesmo, inclusive para manter cargos e posições de poder, o PT forçaria a barra pela mudança na Constituição.
Bobagem. A oposição sabe que o governo de Lula é impulsionado, sim, pelo carisma pessoal do presidente, mas que não se assenta exclusivamente nisto. Quem for candidato pela coalizão governista em 2010 certamente terá o que mostrar na campanha eleitoral. Estará defendendo a continuidade de um governo que terá tido erros e acertos, mas também realizações, especialmente para os mais pobres.
Independentemente das eventuais articulações de bastidores, pró e contra a alteração constitucional, e do desfecho da coisa, Lula não deveria pleitear um terceiro mandato de jeito algum. Em primeiro lugar porque a alternância no poder, de partidos e de pessoas, é saudável e fundamental para o regime democrático. E em segundo lugar porque é deplorável lançar mão de posição de poder para mudar as regras do jogo com o jogo em andamento, especialmente se isso for feito em benefício próprio.
Lula sabe que entrará para a História com algumas glórias e com alguns revezes, mas sabe também que ficará melhor na foto sem uma manobra deste tipo. De mais a mais, se fizer um bom segundo mandato e chegar à eleição de seu sucessor com bons índices de popularidade, Lula poderá pleitear um retorno ao Palácio do Planalto em 2014, possibilidade que a lei lhe faculta. Restará, numa hipótese destas, saber se o eleitorado o levaria novamente ao poder, já com quase 70 anos de idade, ou preferiria impulsionar a renovação geracional da política brasileira.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
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