Em mais uma colaboração para o Entrelinhas, o professor Wagner Iglecias comenta as barbaridades ditas pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso no Congresso do PSDB. Vale a pena ler a íntegra do artigo:
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou de maneira polêmica o recente congresso do PSDB. Afirmou que, a depender dos tucanos, se fará o possível e o impossível para que todos os brasileiros falem de forma correta a língua portuguesa. E que não sejam mais liderados por quem despreza a educação, a começar pela própria. A declaração foi tida como deselegante na seara governista, posto que foi tomada por todos como direcionada ao presidente Lula. E Lula, como se sabe, não tem nível elevado de escolaridade. Ressalte-se, no entanto, que o presidente-operário já forneceu munição a seus adversários no passado quando admitiu sua paciência relativamente pequena para com os livros.
Mas há que se reconhecer que Fernando Henrique acertou. É sim verdade que Lula não domina tão bem as regras formais da língua portuguesa. Comete erros de concordância, suprime os esses nos finais de palavras no plural e ainda por cima tem o cacoete de colocar um “sabe” em meio a muitas de suas frases. O problema de FHC, neste caso, é que, com críticas como a que fez, ele apenas reitera para sua pessoa e para seu partido a imagem de arrogância e elitismo que marca o tucanato. Porque Lula, se fala mal o português, está nisso acompanhado por milhões de brasileiros, de origem popular como ele. Atacar o português ou a escolaridade de Lula nunca foi boa estratégia, pois ao fazê-lo corre-se o risco de se ofender o brasileiro humilde, que também derrapa no idioma e também teve pouca chance de freqüentar a escola.
A fala de Fernando Henrique foi sintomática de um partido cujos cardeais expressam-se bem não apenas em português mas também em outras línguas, mas que há tempos não consegue falar o idioma do povo. Goste-se ou não do sapo barbudo o fato é que ele sabe como ninguém falar aos ouvidos dos mais pobres. Some-se a isto os bolsas-famílias, o aumento do volume de crédito popular e a atual elevação do padrão de consumo da base da pirâmide social brasileira e se começa a entender a sintonia e o apoio maciços que Lula tem junto ao povão. Quando Fernando Henrique depreciou o jeito errado com que Lula usa a língua formal ele apenas interpôs mais um obstáculo para que seu partido reconquiste os corações e as mentes das classes populares. Diz o ditado popular que Deus escreve certo, mas por linhas tortas. Fernando Henrique não é Deus, mas para muita gente ele falou o certo em relação a Lula. O problema, para ele e para os seus, é que o fez de forma completamente torta.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso encerrou de maneira polêmica o recente congresso do PSDB. Afirmou que, a depender dos tucanos, se fará o possível e o impossível para que todos os brasileiros falem de forma correta a língua portuguesa. E que não sejam mais liderados por quem despreza a educação, a começar pela própria. A declaração foi tida como deselegante na seara governista, posto que foi tomada por todos como direcionada ao presidente Lula. E Lula, como se sabe, não tem nível elevado de escolaridade. Ressalte-se, no entanto, que o presidente-operário já forneceu munição a seus adversários no passado quando admitiu sua paciência relativamente pequena para com os livros.
Mas há que se reconhecer que Fernando Henrique acertou. É sim verdade que Lula não domina tão bem as regras formais da língua portuguesa. Comete erros de concordância, suprime os esses nos finais de palavras no plural e ainda por cima tem o cacoete de colocar um “sabe” em meio a muitas de suas frases. O problema de FHC, neste caso, é que, com críticas como a que fez, ele apenas reitera para sua pessoa e para seu partido a imagem de arrogância e elitismo que marca o tucanato. Porque Lula, se fala mal o português, está nisso acompanhado por milhões de brasileiros, de origem popular como ele. Atacar o português ou a escolaridade de Lula nunca foi boa estratégia, pois ao fazê-lo corre-se o risco de se ofender o brasileiro humilde, que também derrapa no idioma e também teve pouca chance de freqüentar a escola.
A fala de Fernando Henrique foi sintomática de um partido cujos cardeais expressam-se bem não apenas em português mas também em outras línguas, mas que há tempos não consegue falar o idioma do povo. Goste-se ou não do sapo barbudo o fato é que ele sabe como ninguém falar aos ouvidos dos mais pobres. Some-se a isto os bolsas-famílias, o aumento do volume de crédito popular e a atual elevação do padrão de consumo da base da pirâmide social brasileira e se começa a entender a sintonia e o apoio maciços que Lula tem junto ao povão. Quando Fernando Henrique depreciou o jeito errado com que Lula usa a língua formal ele apenas interpôs mais um obstáculo para que seu partido reconquiste os corações e as mentes das classes populares. Diz o ditado popular que Deus escreve certo, mas por linhas tortas. Fernando Henrique não é Deus, mas para muita gente ele falou o certo em relação a Lula. O problema, para ele e para os seus, é que o fez de forma completamente torta.
Wagner Iglecias é doutor em Sociologia e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.
Aliás, se há centenas de milhares de brasileiros que não se expressam bem em português, registre-se que oito anos de governo do "príncipe" não foram capazes de melhorar essa condição. Ou será que, em 2000, a massa era muito mais letrada do que é hoje? Foram o Lula e seus aliados (os Sarney da vida, por exemplo) que arrasaram a educação no Brasil, ou Fernando Henrique e seus aliados (outros coronéis, outras dinastias) deram sua inestimável contribuição?
ResponderExcluirO ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que quer "brasileiros melhor educados, e não liderados por gente que despreza a educação, a começar pela própria".
ResponderExcluirDe acordo com a norma culta da língua, o correto seria dizer "brasileiros mais bem educados".
Acho que é o roto falando do esfarrapado.