Pular para o conteúdo principal

Fidelidade partidária e a
velha canção do Roberto

O que vai abaixo é o artigo do autor do blog para o Shoping News, encarte do DCI que circula às sextas-feiras. Em primeira mão para os leitores do Entrelinhas:

A decisão do Tribunal Superior Eleitoral de que todos os mandatos eletivos pertencem aos partidos e não aos políticos tem poder para mudar o jogo do Poder no Brasil. O Supremo Tribunal Federal deve resolver em breve a partir ou desde quando a regra tem validade, mas ainda que os ministros passem uma borracha no passado e digam que a fidelidade é obrigatória apenas a partir de agora, a mudança na política brasileira não vai ser pequena.

Em tese, a maior rigidez em relação à fidelidade partidária deve ter o efeito imediato de acabar com os partidos de aluguel - agremiações criadas apenas para receber, em época de eleições, candidatos de ocasião, gente que por um motivo ou por outro acaba sem espaço em seus próprios partidos.

A interpretação mais severa da Constituição no que diz respeito à fidelidade também pode ter influência na eleição presidencial de 2010. Um dos nomes cotados é do o hoje tucano Aécio Neves, de quem se dizia que poderia migrar para o PMDB e ser o nome abençoado pelo presidente Lula para a disputa. O TSE colocou uma pá de cal nesta discussão, porque agora Aécio até pode sair do PSDB, mas perderia o mandato de governador de Minas.

É bom lembrar, porém, que na decisão sobre o mandato dos deputados, e, agora, dos demais detentores de cargos públicos, os dois tribunais - TSE e STF - não levantaram impedimento para que as pessoas mudem de partido, como vem sendo divulgado. Trocar de partido é uma prerrogativa de todo filiado, que pode sair por mudar de pensamento ou por achar que o partido mudou de ideologia. No fundo, porém, o que deve acontecer agora é uma nova rodada da reforma política. Por pressão do Judiciário, o Legislativo deve se reunir e mudar a Constituição para adequá-la aos seus próprios caprichos. Como se sabe, deputados e senadores são seres românticos e certamente apreciam a velha canção do Roberto, aquela que dizia: "Falando sério/Eu não queria ter você por um programa / E apenas ser mais um na sua cama / Por uma noite apenas e nada mais." Dias piores virão...



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe