Vivemos tempos estranhos. Há uma semana, escrevi sobre a turba tresloucada que recebeu aos gritos de assassina uma criança violentada que se dirigia ao hospital para realizar um aborto permitido por lei. Thiago Amparo escreveu sobre a portaria editada pelo ministro interino da Saúde, criando obstáculos para que mulheres possam interromper gravidez nos casos previstos em lei, escreve a nova colunista da Folha, em artigo publicado no jornal dia 3/9. Continua a seguir.
Anteontem, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República disse, no Twitter, que “impor obrigações definitivamente não está nos planos” porque “o Governo do Brasil preza pela liberdade dos brasileiros”. Coitada da liberdade, explorada de forma tão oportunista.
Vale a pena lembrar que nós somos um país que criminaliza o porte de drogas para uso pessoal. É proibido (uma obrigação negativa) levar no bolso um cigarro de maconha. Proponho um exercício de imaginação: pense em duas pessoas numa aglomeração, uma infectada com coronavírus e outra levando o baseado no bolso. Qual das situações descritas apresenta mais risco para terceiros? Acertou quem escolheu a pessoa infectada.
No último dia 28, plenário virtual do STF decidiu, por unanimidade, julgar com repercussão geral o recurso extraordinário com agravo no qual se discute se os pais podem deixar de vacinar os seus filhos. De um lado, a autonomia privada contra imposições estatais. De outro, o dever do Estado de proteger a saúde das crianças e da coletividade. Bolsonaro indicará dois ministros para o Supremo. A discussão sobre a vacina chegou para ficar.
Heidi Larson, diretora do “The Vaccine Confidence Project”, em palestra disponibilizada online, alerta que, nas redes sociais, os grupos antivacina adotam uma postura ativa de busca de pessoas que estão em dúvida sobre vacinar ou não seus filhos e as recrutam 500 vezes mais rapidamente do que os pró-vacina.
Talvez o assunto seja um bom ensejo para que os 70% —lembram deles?— pensem em estratégias não autofágicas.
Gabriela Prioli é mestre em direito penal pela USP e professora na pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Anteontem, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República disse, no Twitter, que “impor obrigações definitivamente não está nos planos” porque “o Governo do Brasil preza pela liberdade dos brasileiros”. Coitada da liberdade, explorada de forma tão oportunista.
Vale a pena lembrar que nós somos um país que criminaliza o porte de drogas para uso pessoal. É proibido (uma obrigação negativa) levar no bolso um cigarro de maconha. Proponho um exercício de imaginação: pense em duas pessoas numa aglomeração, uma infectada com coronavírus e outra levando o baseado no bolso. Qual das situações descritas apresenta mais risco para terceiros? Acertou quem escolheu a pessoa infectada.
No último dia 28, plenário virtual do STF decidiu, por unanimidade, julgar com repercussão geral o recurso extraordinário com agravo no qual se discute se os pais podem deixar de vacinar os seus filhos. De um lado, a autonomia privada contra imposições estatais. De outro, o dever do Estado de proteger a saúde das crianças e da coletividade. Bolsonaro indicará dois ministros para o Supremo. A discussão sobre a vacina chegou para ficar.
Heidi Larson, diretora do “The Vaccine Confidence Project”, em palestra disponibilizada online, alerta que, nas redes sociais, os grupos antivacina adotam uma postura ativa de busca de pessoas que estão em dúvida sobre vacinar ou não seus filhos e as recrutam 500 vezes mais rapidamente do que os pró-vacina.
Talvez o assunto seja um bom ensejo para que os 70% —lembram deles?— pensem em estratégias não autofágicas.
Gabriela Prioli é mestre em direito penal pela USP e professora na pós-graduação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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