Pular para o conteúdo principal

Arroz em alta, queimadas e a resiliência de Bolsonaro

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação. Boa leitura a todos.

Quando o ex-presidente Lula foi implicado no escândalo do Mensalão, ainda em seu primeiro mandato, a oposição sorriu extasiada. Era um consenso que ele não se reelegeria, assim como dois e dois são quatro. A estratégia do principal partido de oposição à época foi a de deixar o presidente “sangrar no cargo” e não a de pedir o seu afastamento. Tucanos são tucanos e a história mostrou que a estratégia foi desastrosa. Lula se reelegeu com facilidade porque a economia ia bem e as denúncias nunca colaram nele. Efeito teflon, nada grudava, nada mesmo, nem após o então candidato Geraldo Alckmin ter subido o tom e se portado de forma agressiva em um dos debates finais da campanha. Alckmin, como se sabe, obteve menos votos no segundo turno do que no primeiro, uma verdadeira façanha. 

Os tempos mudaram, mas agora o efeito teflon parece estar de volta com Jair Bolsonaro. Nada gruda no presidente. O preço do arroz disparou? Nada a ver com ele. Pantanal arde em chamas? A culpa é do fogo mesmo, não do governo. Bolsonaro se tornou um presidente resiliente, não tem Queiroz, Michele, milicianos, Marielle... Nada é com ele, é tudo evento aleatório, e assim Bolsonaro segue firme, construindo com consistência o caminho de sua reeleição, como esta coluna tem apontado faz tempo.

De todos os acontecimentos recentes, a disputa com o ex-ministro Moro e a vitória do presidente no embate foi fundamental para definir os rumos do governo. Se Moro realmente apresentasse provas (não é o forte dele) de interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, teria sido um revés forte para a moral do mandatário, em especial junto ao seu eleitorado cativo. Mas o ex-ministro não apresentou a bala de prata que dizia ter e na sequência sumiu no cenário político, passando a atuar nas sombras. 

Este foi o grande divisor de águas do atual governo até aqui. O Pantanal pode queimar, o arroz pode custar 40 reais o pacote e ainda que os filhos de Bolsonaro aprontem – e aprontam, a torto e direito -, nada gruda no presidente. A oposição segue tímida, Lula tentou um discurso no dia 7 de setembro para se reposicionar, mas depois sumiu, ou melhor, reapareceu ao lado de um Renan Calheiros convalescente no hospital, sem máscara, imagem que não ajuda muito, em especial na esquerda mais purista, com muitas restrições ao líder alagoano. Na soma de tudo, Jair Bolsonaro vai pavimentando o caminho para a sua reeleição, quem sabe já no primeiro turno. Quem viver, verá. (por Luiz Antonio Magalhães em 19/9/20)



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...