Pular para o conteúdo principal

Morre Henry Sobel

RIP, grande figura humana, papel importante na história do Brasil.
Morre Henry Sobel, 75, rabino símbolo da defesa dos direitos humanos no Brasil
Ele não resistiu a complicações associadas a um câncer no pulmão; enterro será em Nova Jersey
Morreu na manhã desta sexta-feira (22), em Miami, o rabino Henry Sobel, 75. Segundo sua assessoria, ele não resistiu a complicações associadas a um câncer no pulmão. O sepultamento será neste domingo, em Nova Jersey. Ele deixa a esposa e uma filha.
Rabino emérito da Congregação Israelita Paulista, Sobel teve forte atuação na defesa dos direitos humanos no Brasil. Quando o jornalista Vladimir Herzog foi assassinado, em 25 de outubro de 1975, o jovem rabino Sobel não engoliu a versão oficial da ditadura.
Enfrentando pressões, realizou o enterro do jornalista no centro do cemitério, se recusando a aceitar a alegação de suicídio —o que, segundo a religião judaica, o levaria a fazer o sepultamento nas margens do lugar.
Dias depois, Sobel liderou, junto com d. Paulo Evaristo Arns, então arcebispo de São Paulo, e Jaime Wright, pastor presbiteriano, o célebre ato ecumênico em homenagem a Herzog. A catedral da Sé ficou lotada e uma multidão tomou conta da praça, num silencioso e contundente protesto contra a ditadura.
​​Sobel também ficou marcado pelo episódio das gravatas --quando, em 2007, foi detido por causa do furto numa loja nos EUA. "Trinta e sete anos e puf! Fiz o impensável", desabafou, trêmulo, em um filme sobre a sua trajetória lançado em 2014.
À época, sofrendo de depressão e confuso com a medicação, o rabino encarou o precipício: foi afastado da direção da Congregação Israelita Paulista e passou a ser execrado e ridicularizado.
Segundo um dos depoimento no filme, setores conservadores do judaísmo, sempre insatisfeitos com a atuação aguerrida de Sobel, aproveitaram o episódio para tirá-lo de cena.
O rabino trocou São Paulo por Miami em 2013, após ter passado quase quatro décadas no país.


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue...

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...