Filhotes da série Breaking Bad restauram a fé no cinema e na humanidade
(Advertência: se o leitor ainda não viu a série, esta resenha contém spoiler sobre ela.) El Camino, a breaking bad movie, é um grande filme, mas esta não é a notícia, visto que está sendo aclamado por toda parte. A atuação magistral de Aaron Paul no papel do protagonista Jesse Pinkman, o filme começa onde Breaking Bad termina, e isto não é nem de longe um spoiler, também não é a grande novidade da fita. Os coadjuvantes Jonathan Banks (Mike), impagável sempre, e a dupla de jerks Charles Baker (Skinny Pete) e Matt Jones (Badger), fiéis e atrapalhados escudeiros de Pinkman na trama, dão show, assim como a direção e o roteiro, ao cargo de Vince Gilligan, o criador de Breaking Bad. O que de fato espanta, encanta, provoca perplexidade e reflexão, ao final das duas horas e mais exatos dois minutos de duração, é a capacidade do diretor e atores na construção de uma narrativa contemporânea, atual, forte, incisiva, com muita crítica social e política, apresentando um painel multifacetado da sociedade norte-americana, no fundo da sociedade ocidental. E o que fica deste painel, infelizmente, não é bom, não é saudável nem legal, é o retrato da barbárie em que o mundo se enfiou, deliberadamente, conscientemente.
O futuro que nos espera – e quem tem filhos, como tenho, pensa mais nisto -, é o resultado de escolhas equivocadas, não apenas dos governantes ou de quem os escolhe, mas das pessoas em seu dia a dia. Jesse, curiosamente, taxado como bandido e caçado implacavelmente pelas forças policiais do estado americano, em todos os níveis, é uma doce criatura, que teve sua infância roubada pela droga, que depois foi sua redenção no encontro com Walter White, o que lhe permitiu recursos para sobreviver.
A relação de Jesse com os seus amigos junkys e trapalhões é a única manifestação de solidariedade, amizade verdadeira, até de amor, que vemos no filme e vimos na série – Walter White também era assim, amava a esposa e a família, nutria por Jesse um sentimento quase paternal, e se auto impunha uma conduta do tipo 8 ou 80, acabando morto por este motivo, depois de tantas idas e vindas, quase sempre com Jesse ao seu lado.
Tudo somado, El Camino não é apensas diversão garantida – o filme é muito engraçado, um certo humor negro britânico -, mas é também food for toughts, como dizem os britânicos. Ele convida à reflexão sobre este mundão de Deus que parece não ter jeito, mas deixa, na figura de Pinkman, uma pontinha de esperança na redenção deste projeto de civilização que parece condenado à falência, ao inevitável fracasso, decadência paulatina. Em tempos de Trump presidente dos Estados Unidos, mas fraco como jamais foi,acossado por um processo de impeachment provocado por uma atitude idiota, não deixa de ser um alento. Portanto, bora assistir o filmaço do ano. #ficaadica Por Luiz Antonio Magalhães em 22/10/19.
(Advertência: se o leitor ainda não viu a série, esta resenha contém spoiler sobre ela.) El Camino, a breaking bad movie, é um grande filme, mas esta não é a notícia, visto que está sendo aclamado por toda parte. A atuação magistral de Aaron Paul no papel do protagonista Jesse Pinkman, o filme começa onde Breaking Bad termina, e isto não é nem de longe um spoiler, também não é a grande novidade da fita. Os coadjuvantes Jonathan Banks (Mike), impagável sempre, e a dupla de jerks Charles Baker (Skinny Pete) e Matt Jones (Badger), fiéis e atrapalhados escudeiros de Pinkman na trama, dão show, assim como a direção e o roteiro, ao cargo de Vince Gilligan, o criador de Breaking Bad. O que de fato espanta, encanta, provoca perplexidade e reflexão, ao final das duas horas e mais exatos dois minutos de duração, é a capacidade do diretor e atores na construção de uma narrativa contemporânea, atual, forte, incisiva, com muita crítica social e política, apresentando um painel multifacetado da sociedade norte-americana, no fundo da sociedade ocidental. E o que fica deste painel, infelizmente, não é bom, não é saudável nem legal, é o retrato da barbárie em que o mundo se enfiou, deliberadamente, conscientemente.
O futuro que nos espera – e quem tem filhos, como tenho, pensa mais nisto -, é o resultado de escolhas equivocadas, não apenas dos governantes ou de quem os escolhe, mas das pessoas em seu dia a dia. Jesse, curiosamente, taxado como bandido e caçado implacavelmente pelas forças policiais do estado americano, em todos os níveis, é uma doce criatura, que teve sua infância roubada pela droga, que depois foi sua redenção no encontro com Walter White, o que lhe permitiu recursos para sobreviver.
A relação de Jesse com os seus amigos junkys e trapalhões é a única manifestação de solidariedade, amizade verdadeira, até de amor, que vemos no filme e vimos na série – Walter White também era assim, amava a esposa e a família, nutria por Jesse um sentimento quase paternal, e se auto impunha uma conduta do tipo 8 ou 80, acabando morto por este motivo, depois de tantas idas e vindas, quase sempre com Jesse ao seu lado.
Tudo somado, El Camino não é apensas diversão garantida – o filme é muito engraçado, um certo humor negro britânico -, mas é também food for toughts, como dizem os britânicos. Ele convida à reflexão sobre este mundão de Deus que parece não ter jeito, mas deixa, na figura de Pinkman, uma pontinha de esperança na redenção deste projeto de civilização que parece condenado à falência, ao inevitável fracasso, decadência paulatina. Em tempos de Trump presidente dos Estados Unidos, mas fraco como jamais foi,acossado por um processo de impeachment provocado por uma atitude idiota, não deixa de ser um alento. Portanto, bora assistir o filmaço do ano. #ficaadica Por Luiz Antonio Magalhães em 22/10/19.
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