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Robert De Niro e Al Pacino: “Filme ‘O Irlandês’ completa nosso círculo profissional”

Não vi e já gostei. Na opinião deste blogueiro, De Niro e Pacino são, ao lado de Jack Nicholson, os maiores atores em atividade no mundo. E Scorsese é seguramente um diretor acima, muito acima, da média, como Spilberg e Woody Allen. Portanto, mesmo sem ter assistido, recomendo vivamente o filme "O Irlandês", não tem erro...
Abaixo a íntegra da matéria do El País sobre o filme.

Os dois atores se juntam a Martin Scorsese em outra história sobre a máfia. Em uma entrevista em Londres, confessam que é difícil que isso volte a acontecer em um projeto parecido

Madri 14 NOV 2019 - 17:35 BRT

No final dos anos sessenta, em 1968 ou, mais provavelmente, em 1969, Al Pacino descia com a namorada pela rua 14 em direção ao cruzamento da Avenida B, no East Village nova-iorquino, quando se chocou com Robert De Niro. Literalmente. De Niro só tinha atuado em um punhado de filmes de baixo orçamento. Pacino, três anos mais velho, já era uma estrela no teatro nova-iorquino, depois de ter passado pelo Actors Studio, e havia trabalhado com John Cazale, outro mito da interpretação. Em 1969, ganhou seu primeiro Tony. De Niro se lembra perfeitamente do encontrão. Pacino não é capaz de colocar uma data àquele momento, mas conhecia a fama crescente de De Niro. E define o que sentiu naquele primeiro cara a cara: “Pensei que ele iria longe. Tinha carisma. Era óbvio”.
E aqui estão meio século depois, como se fosse a comemoração de suas bodas de ouro, Pacino (79 anos) e De Niro (76 anos), glórias nova-iorquinas do Bronx e de Little Italy. Festival de cinema de Londres. O Irlandês, o filme de Martin Scorsese, é exibido pela primeira vez na Europa. No quarto de hotel, onde um grupo de jornalistas os espera, Pacino entra, com seu habitual bling-bling de joias, a camisa aberta quase até o umbigo e a sensação de que a idade o atropelou nos últimos dois anos. “Olá, bom dia”. Atrás aparece De Niro, mais polido na maneira de se vestir e com aspecto muito mais juvenil. Pacino diminuiu o volume de sua verborreia costumeira e usa um tom quase inaudível; De Niro ao menos aumentou o número de palavras por frase, superando em alguma sentença seus típicos monossílabos. Os dois encabeçam a nova contribuição de Scorsese ao cinema de mafiosos: a história de Frank, o irlandês, Sheeran, um motorista de caminhão que entrou na máfia nos anos cinquenta por causa de sua relação com a família Bufalino, que controlava Filadélfia e Detroit. Entre seus amigos estava Jimmy Hoffa, o sindicalista mais famoso da história dos Estados Unidos, que desapareceu em 1975 sem deixar rasto. O primeiro é encarnado por De Niro; o segundo, por Pacino. E Joe Pesci, aposentado faz quase uma década da interpretação, faz um excepcional Russell Bufalino.
O Irlandês estreou nos cinemas dos EUA na sexta-feira passada. No Brasil poderá ser visto em poucas salas de apenas 15 cidades –as únicas que aceitaram as condições da Netflix– a partir de 14 novembro e na plataforma digital a partir de 27 de novembro. “Foi um trabalho feliz”, reconhece Pacino. “Nos conhecemos há muito tempo. Não nos vemos com frequência, mas nos sentimos próximos. Chegamos à fama quase ao mesmo tempo, vivemos experiências semelhantes. E obviamente recebemos ofertas similares no cinema. Eu nos definiria como camaradas”. E lembra que, no primeiro filme em que trabalharam juntos, O Poderoso Chefão – Parte II, não apareceram ao mesmo tempo na tela. “Então vieram Fogo contra Fogo e mais algumas coisas, como As Duas Faces da Lei [da qual nenhum deles tem boas lembranças]... Enfim, para mim, O Irlandês completa nosso círculo profissional”.
O thriller de Scorsese não é mais um filme. E por isso ambos estufam o peito com seu trabalho. “Tivemos a sorte de estarmos disponíveis para filmar”, admite De Niro. Porque O Irlandês sofreu incontáveis atrasos durante anos, causados pelo seu orçamento –enorme para um filme de Scorsese– de 175 milhões de dólares (cerca de 730 milhões de reais), necessário para rejuvenescer digitalmente os rostos dos protagonistas. No caso de Sheeran/De Niro, vai desde seus 24 anos, quando se tornou um assassino impiedoso na Segunda Guerra Mundial, até os 83, quando morreu. “Li o livro sobre Sheeran quando foi publicado [em 2004] e achei ideal para todos nós. Eu o passei a Marty”, lembra De Niro. Isso foi há muitos anos; inclusive fizeram uma leitura do roteiro em 2012. Pacino estreia sob as ordens de Scorsese, embora durante algum tempo tenham tentado levantar um projeto: a biografia do artista italiano Amedeo Modigliani. “Na interpretação existem coisas que escapam do seu controle”, reconhece o ator. “É por isso que é tão bom colaborar com outros intérpretes de talento, porque isso faz com que surjam coisas. Você soma sensibilidades, dá e recebe, permite que a centelha salte, e ainda mais nas mãos de um diretor como Scorsese, que te dá absoluta liberdade e confiança.”

Rejuvenescimento digital
O Irlandês também reflete sobre o envelhecimento. Como ambos lidam com isso? De Niro: “É a vida”. Pacino: “Estamos tão mal assim?”. Não querem se deter nesse ponto e tampouco estão muito preocupados com o legado que deixam. “Se você teve a sorte de estar na posição artística de que desfrutamos, um fato inimaginável quando éramos jovens”, responde De Niro, “algo você deixa, e eu gostaria de legar um mundo melhor, no qual as pessoas se ajudem mais umas às outras.” Pacino continua: “Eu nunca pensei que chegaríamos até aqui” e retorna à sua felicidade por ter trabalhado com Scorsese.
O Irlandês é um filme de gângsteres crepuscular no estilo, no gênero do western, de O Homem que Matou o Facínora? “Lembro-me muito bem de uma foto dos atores juntos, que foi um dos últimos filmes de John Wayne. E ao assisti-lo quando era garoto pensei que seria provavelmente a única vez em que veria Lee Marvin, Wayne e Jimmy Stewart juntos. Não quero fazer brincadeiras ou comparações, mas efetivamente existem muitas semelhanças”, sorri De Niro. E sobre o remorso que a violência provoca naqueles que a exercem durante a trama deste filme, algo nunca antes apontado no cinema de Scorsese, De Niro continua: “Pode ser. Eles têm de fazer o que fazem para sobreviver, quase inconscientemente”. Pacino abre um olho e diz: “Não tenho opinião. Estava apenas ouvindo Bob. Muito embora pense que tudo faz parte da visão de Scorsese”. Mas ele se entusiasma ao lembrar que a tecnologia não os incomodou muito nas filmagens –usaram uma espécie de pequenos botões colados ao rosto para a captura digital dos gestos– e que se esforçaram para fazer movimentos mais juvenis: “Na segunda vez em que você se senta e se levanta como um jovem, seu corpo estala e te lembra de que você tem 79 anos”. Para De Niro, “tudo ajudou a completar a visão de Scorsese”.
Eles voltarão a trabalhar juntos? Pacino brinca entre risos: “Nunca mais. Acabou-se”. De Niro: “Espero que surja um material forte. Mas, como este? Provavelmente não. É o que temos”



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