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“Não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”

Posto aqui o texto que escrevi para os pais do Thiago Nery, cuja vida foi roubada na última quarta-feira. Em nome de todo um grupo, mas é um texto que me representa profundamente.

“Não sou eu quem me navega
Quem me navega é o mar”
Paulinho da Viola

Queridos Marcos e Ana, pais do Thiago Nery,
Nós, pais de todos os colegas do Thiago no Colégio Santa Cruz, decidimos escrever para vocês e compartilhar a dor que nós, cada um a sua maneira, sentimos na semana passada ao saber do acidente que levou o Thiago embora. Muitos de nós choramos e na última quarta-feira fizemos, às 22h30, uma corrente de oração.
A vida é frágil, passa em um piscar de olhos, precisamos a todo momento lembrar que temos que nos ajudar, ajudar o outro, sobretudo ajudar os que sofrem. Não conseguimos nem imaginar a dor de vocês, mas estamos juntos neste luto.
O Santa nos une e traz em sua essência o valor da amizade, da relação próxima com os professores, que ficaram com eles até o final na noite fatídica do acidente, como que para dizer: estamos aqui, juntos, compartilhando da mesma dor, abraçaram um a um, na tentativa de consolá-los de algo que não tinha consolo... mas que tinha amor, muito amor!
Gostaríamos de expressar a nossa inconformidade com o que aconteceu e toda a nossa solidariedade, nosso profundo sentimento de pesar e de compreensão e amor, sentimentos que trazemos neste momento para tentar algum consolo.
A vida, essa nossa rápida passagem pela Terra, é efêmera, mas no tempo em que aqui estamos, como lembra Eclesiastes 3, tudo tem o seu tempo determinado: há tempo para todo o propósito debaixo do céu. Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou. Thiago, Marcos e Ana, teve o seu tempo, plantou e colheu, viveu uma vida plena e realizou sonhos. Nós, que de alguma maneira acompanhamos sua passagem, somos testemunhas desta trajetória, da felicidade que ele trouxe para sua família e para muitos de nossos filhos.
Em luto, compartilhamos por fim nossa tristeza e a nossa solidariedade com vocês, com os avós do Thiago e com todos os amigos da família. E citamos Fernando Sabino, escritor brasileiro, autor de Encontro Marcado:
De tudo, ficam três coisas:
A certeza de que estamos sempre começando
A certeza de que precisamos continuar
E a certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.
Portanto, devemos fazer da interrupção um caminho novo
da queda, um passo de dança
do medo, uma escada
do sonho, uma ponte
E da procura, um encontro


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