Pular para o conteúdo principal

Serra e a ingenuidade na política

A matéria abaixo, do excelente repórter José Alberto Bombig, da Folha de S. Paulo, revela que o governador José Serra (PSDB) estaria vetando a candidatura do prefeito Gilberto Kassab (DEM) ao governo de São Paulo para evitar que Geraldo Alckmin deixe o ninho tucano e dispute o palácio dos Bandeirantes por outra legenda. Ora, é óbvio que Serra prefere Kassab a Alckmin, mas também é evidente que ele está de olho mesmo é na sua própria campanha, não quer deixar Alckmin se desgarrar agora, pois sabe que o ex-governador é muito forte eleitoralmente. Bem, mas quando setembro passar e outubro chegar, o prazo para as mudanças de partido com vistas às próximas eleições terá se encerrado, e aí é que, como diz o presidente Lula, o bicho vai pegar. Se este blog estiver certo, Serra vai mandar Alckmin catar coquinho e acabará com o tal veto à candidatura Kassab. Na boa matéria de Bombig faltou este dado. O repórter sabe perfeitamente que política é isto aí, um veto hoje não significa nada amanhã. Alckmin também sabe disto e tenta construir sua candidatura amarrando o tucanato, mas da mesma maneira que conseguiu dar um xeque-mate em Serra na disputa interna em 2005/06, poderá tomar uma rasteira do atual governador a partir de outubro...

Veto a Kassab tem como objetivo evitar saída de Alckmin do PSDB

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
da Folha de S.Paulo

O veto do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), à articulação do prefeito Gilberto Kassab (DEM) para tentar concorrer ao governo do Estado no ano que vem foi um gesto do tucano na tentativa de evitar que Geraldo Alckmin deixe o PSDB até o final deste mês e concorra ao cargo por outro partido.
Líder disparado na mais recente pesquisa Datafolha, Alckmin, ex-governador e atual secretário do Desenvolvimento do governo Serra, recebeu sondagens de PSB, PTB e PV.
Os verdes estão dispostos a montar um palanque forte para Marina Silva, sua presidenciável, em São Paulo, e sonham contar com Alckmin.
PSB e PTB, apesar de integrarem a base de Serra, ainda avaliam apoiar o candidato (ou a candidata) do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O vereador de São Paulo Gabriel Chalita (PSDB), histórico aliado de Alckmin, já anunciou que estuda deixar o PSDB para concorrer ao Senado. A decisão foi entendida no Palácio dos Bandeirantes como um recado claro de que Alckmin poderá fazer o mesmo se não tiver garantia de que irá concorrer ao governo com o apoio de Serra.
No PSDB, Alckmin disputa com o secretário da Casa Civil paulista, Aloysio Nunes Ferreira, o direito de se candidatar. Desde meados deste ano, no entanto, Kassab também vem articulando uma pré-candidatura com o apoio de parte do grupo serrista.
A ideia do DEM seria lançar Alckmin ao Senado ou à Câmara dos Deputados, hipóteses que o tucano não cogita.
Kassab nega: "Todos sabem que eu ficarei até o final de meu mandato e que existe em São Paulo uma aliança do PSDB com o DEM".
Segundo tucanos, o potencial de estrago de uma candidatura de Alckmin por outro partido é considerado muito alto para os planos de Serra de disputar a Presidência. Isso ocorre porque Serra seria pressionado a concorrer à reeleição para diminuir os riscos de o PSDB deixar o poder em São Paulo.
Páreo
Negando que Serra tenha sugerido que abandonasse a disputa, Nunes Ferreira deixou claro que não desistiu ao dizer que só no ano que vem decidirá se disputa as convenções contra Alckmin.
Serra, por sua vez, negou que tenha negociado apoio a Alckmin. "Não houve essa conversa. Não estou tratando de sucessão. Até porque sou governador e vou começar a tratar de sucessão aqui agora?"

Comentários

  1. Sempre há uma maneira de mostrar que a coisa vai ruim. Saíram os dados do varejo, divulgados pelo IBGE, que apontam um elevado crescimento mesmo sobre o ano passado (época anterior à crise, do país bombando). Porém... olha o que é manchete do Estadão: "Vendas do setor automotivo caem 10,4% em julho ante junho". Esse Brazil que não tem jeito mesmo... Vai de mau a pior...

    ResponderExcluir

Postar um comentário

O Entrelinhas não censura comentaristas, mas não publica ofensas pessoais e comentários com uso de expressões chulas. Os comentários serão moderados, mas são sempre muito bem vindos.

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And