Vale a pena ler o artigo abaixo, do blog Verbo Solto, do jornalista Luiz Weis. A opinião é ainda mais interessante quando se sabe que Weis é ele mesmo editorialista do jornal O Estado de S. Paulo. A seguir, a íntegra do texto:
Jogo jogado no Times
Onze dias antes do que os americanos chamam Super-Terça, ou Terça-Tsunami – as eleições primárias numa vintena de Estados para a escolha dos delegados democratas e republicanos às convenções nacionais que indicarão os respectivos candidatos à Casa Branca, em novembro deste ano – o New York Times põe hoje as cartas na mesa.
Anuncia que endossa as candidaturas da senadora Hillary Clinton (democrata) e do senador John McCain (republicano). Explica por que em dois textos – o primeiro com 1147 palavras, o outro com 737.
Não, aparentemente, que McCain mereça menos espaço que Hillary – as razões do apoio, em cada caso, ocuparam o que tinham de ocupar. Dois textos de igual tamanho, o jornal parece dizer, configurariam uma igualdade abstrata.
O interessante, para o observador de mídia, é que em nenhum momento se lê que “o jornal” é que apoia a mulher do ex-presidente Clinton e o ex-prisioneiro de guerra no Vietnã.
Numa prova de escrúpulo, o endosso vem do editorial board do NYT – o seu comitê editorial ou editoria de editoriais. Presumivelmente, os responsáveis pelas opiniões do jornal têm afinidades políticas e outras tantas com os controladores da empresa que o edita, em especial com o publisher Arthur Ochs Sulzberger Jr, filho do publisher anterior, Arthur Ochs Sulzberger, por sua vez filho do publisher anterior, Arthur Hays Sulzberger – tudo em família desde 1896.
Mas os editorial boards dos grandes jornais dos Estados Unidos e de outros países com a mesma tradição têm uma autonomia de dar inveja ao pessoal das páginas editoriais brasileiras – pago em primeiro lugar para pôr em letra de forma o que o dono do jornal acha da vida e de suas implicações, como se diz. Da rédea curta não escapam nem os seus editores, que operam mais como principais redatores e fechadores do espaço.
Perde com isso o leitor porque o resultado peca pela falta de matiz, mão leve e diversidade. Com as proverbiais raras exceções, na mídia brasileira editorial é monolito.
Por exemplo. Se estivessemos em 2010 e os dois principais partidos brasileiros estivessem escolhendo à americana os seus candidatos à sucessão de Lula, e um dos grandes jornais achasse que era o caso de endossar um de cada lado, não seria um “comitê editorial” que escolheria os seus preferidos e assumiria o apoio. Seria o dono da publicação, sob o eufemismo “nós”, ou o nome do jornal.
Sem falar que o apoio manifesto dos jornais americanos (ou britânicos) a candidatos a cargos eletivos - prática tradicional por ali – pouco tende a influir no noticiário eleitoral: as redações continuariam a ir atrás dos podres dos candidatos e suas campanhas.
O caso clássico é o do Wall Street Journal (pelo menos até ser comprado pelo megaempresário de mídia Rupert Murdoch). Invariavelmente, o seu “comitê editorial” apoia candidatos republicanos ou o mais conservador dos candidatos democratas.
Mas ninguém que se interesse de perto por política nos Estados Unidos pode acompanhar uma disputa presidencial sem ler, com alguma frequência, o Journal – pela isenção, qualidade e desassombro do seu noticiário político.
Aqui, a norma não escrita dos jornalões manda tratar diferentemente os políticos – colher de chá para os “nossos”, pimenta malagueta para os outros. É uma versão simplificada de como as coisas funcionam na imprensa brasileira. Mas não é uma invenção.
Os curiosos em saber por que o NYT vai de Hillary e McCain nas primárias, basta clicar aqui e aqui.
Jogo jogado no Times
Onze dias antes do que os americanos chamam Super-Terça, ou Terça-Tsunami – as eleições primárias numa vintena de Estados para a escolha dos delegados democratas e republicanos às convenções nacionais que indicarão os respectivos candidatos à Casa Branca, em novembro deste ano – o New York Times põe hoje as cartas na mesa.
Anuncia que endossa as candidaturas da senadora Hillary Clinton (democrata) e do senador John McCain (republicano). Explica por que em dois textos – o primeiro com 1147 palavras, o outro com 737.
Não, aparentemente, que McCain mereça menos espaço que Hillary – as razões do apoio, em cada caso, ocuparam o que tinham de ocupar. Dois textos de igual tamanho, o jornal parece dizer, configurariam uma igualdade abstrata.
O interessante, para o observador de mídia, é que em nenhum momento se lê que “o jornal” é que apoia a mulher do ex-presidente Clinton e o ex-prisioneiro de guerra no Vietnã.
Numa prova de escrúpulo, o endosso vem do editorial board do NYT – o seu comitê editorial ou editoria de editoriais. Presumivelmente, os responsáveis pelas opiniões do jornal têm afinidades políticas e outras tantas com os controladores da empresa que o edita, em especial com o publisher Arthur Ochs Sulzberger Jr, filho do publisher anterior, Arthur Ochs Sulzberger, por sua vez filho do publisher anterior, Arthur Hays Sulzberger – tudo em família desde 1896.
Mas os editorial boards dos grandes jornais dos Estados Unidos e de outros países com a mesma tradição têm uma autonomia de dar inveja ao pessoal das páginas editoriais brasileiras – pago em primeiro lugar para pôr em letra de forma o que o dono do jornal acha da vida e de suas implicações, como se diz. Da rédea curta não escapam nem os seus editores, que operam mais como principais redatores e fechadores do espaço.
Perde com isso o leitor porque o resultado peca pela falta de matiz, mão leve e diversidade. Com as proverbiais raras exceções, na mídia brasileira editorial é monolito.
Por exemplo. Se estivessemos em 2010 e os dois principais partidos brasileiros estivessem escolhendo à americana os seus candidatos à sucessão de Lula, e um dos grandes jornais achasse que era o caso de endossar um de cada lado, não seria um “comitê editorial” que escolheria os seus preferidos e assumiria o apoio. Seria o dono da publicação, sob o eufemismo “nós”, ou o nome do jornal.
Sem falar que o apoio manifesto dos jornais americanos (ou britânicos) a candidatos a cargos eletivos - prática tradicional por ali – pouco tende a influir no noticiário eleitoral: as redações continuariam a ir atrás dos podres dos candidatos e suas campanhas.
O caso clássico é o do Wall Street Journal (pelo menos até ser comprado pelo megaempresário de mídia Rupert Murdoch). Invariavelmente, o seu “comitê editorial” apoia candidatos republicanos ou o mais conservador dos candidatos democratas.
Mas ninguém que se interesse de perto por política nos Estados Unidos pode acompanhar uma disputa presidencial sem ler, com alguma frequência, o Journal – pela isenção, qualidade e desassombro do seu noticiário político.
Aqui, a norma não escrita dos jornalões manda tratar diferentemente os políticos – colher de chá para os “nossos”, pimenta malagueta para os outros. É uma versão simplificada de como as coisas funcionam na imprensa brasileira. Mas não é uma invenção.
Os curiosos em saber por que o NYT vai de Hillary e McCain nas primárias, basta clicar aqui e aqui.
O comentario do Azenha sobre este assunto também é bastante interessante.
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