Pular para o conteúdo principal

Ombudsman: Folha protege José Serra

A coluna deste domingo do ombudsman da Folha, Mário Magalhães, merece ser lida na íntegra – e vai reproduzida abaixo para quem não é assinante do jornal ou do UOL. Com alguma sutileza, mas não muita, o ombudsman prova que a "redação", como ele gosta de dizer, protegeu o então ministro da Saúde José Serra (PSDB), hoje governador de São Paulo. Não é a primeira vez que Magalhães revela a proteção da "redação" ao ex-colunista do jornal. Este blog já apelidou o diário da Barão de Limeira de Folha de São Serra. Mário Magalhães, o melhor ombudsman que a Folha já teve, está bem atento ao tema. Este blog aposta que ele não terá seu mandato renovado pela Direção de Redação.

Jornalismo febril


Se crianças começam a assuntar sobre a vacinação contra a febre amarela, é sinal de que o temor da doença -e da injeção- se disseminou.
Não é para menos: no princípio do ano, parcela expressiva do jornalismo sugeriu que o mal ameaça o país. A Folha não ficou de fora. Como se vê ao lado, do dia 8 até a quinta-feira passada o assunto ganhou espaço na primeira página, 14 presenças em 17 dias.
Há mesmo interesse público em saber que houve contaminação em áreas rurais. A morte em decorrência de picada de mosquito na floresta é tão trágica como a de alguém infectado nas cidades.
Acontece que desde 1942 não se conhece no Brasil transmissão de febre amarela em reduto urbano. A informação foi veiculada, mas o tom predominante, mostram os títulos da capa, foi o de escalada.
Sob uma manchete, o jornal relativizou a opinião do ministro da Saúde: "No dia em que o número de notificações de casos suspeitos de febre amarela no país subiu de 15 para 24, (...) José Gomes Temporão foi à TV fazer um pronunciamento (...) para dizer que não há risco de epidemia".
Não cabe ao jornalismo sabujar autoridades, mas não é seu papel alarmar. Quando consultou quem entende, a Folha prestou bons serviços.
Na contramão de leigos que proclamavam a urgência de imunização universal, infectologistas a condenaram.
Até a quinta, contavam-se dez mortos por febre amarela silvestre, desde 30 de dezembro. Todos a teriam contraído na mata de Goiás.
O exagero da Folha em 2008 contrasta com outro, o de 2001, quando os 22 óbitos se concentraram no primeiro trimestre. Em nenhum dia daquele ano a primeira página se referiu à moléstia.
Em março, notinha de rodapé com oito linhas noticiou: "Morre a 15ª vítima da febre amarela". Outra nota anunciara semanas antes as 39 mortes do ano anterior (mais uma se somaria à estatística).
Os registros não trouxeram a opinião do então ministro da Saúde, José Serra. Em 2000, nenhum título da capa falou em morte pela doença.
A Redação discorda: "Os números dos anos recentes justificam a cobertura que a Folha vem dando à febre amarela. Em 2004 e 2005, houve três mortes confirmadas em cada ano; em 2006, foram duas mortes; em 2007, cinco".
"Em 2008, apenas no primeiro mês do ano, já há dez mortes confirmadas (uma delas ocorrida em 30 de dezembro, mas só confirmada agora). Acresce que a Folha tem dado amplo espaço a autoridades e especialistas, com diferentes visões sobre a dimensão do problema. E a única manchete relativa ao tema tratou do pronunciamento do ministro da Saúde em que ele procurava tranqüilizar a população."
Não entendi por que os números de 2000 e 2001 não "justificaram" destaque. Sobre isso, minhas perguntas não mereceram respostas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...