Pular para o conteúdo principal

Os presidenciáveis, por Luis Nassif

O artigo abaixo, publicado no blog do jornalista Luis Nassif, é uma análise interessante sobre o cenário para 2010. Vale a pena ler na íntegra, embora o autor destas Entrelinhas não concorde com tudo que vai abaixo.

Minha visão, à luz das inforomações atuais, sobre o potencial dos presidenciáveis.

Está sendo articulada uma frente de centro-esquerda, tacitamente apoiada por Lula, não necessariamente pelo PT. Os principais nomes são Aécio Neves, Ciro Gomes e Dilma Rousseff. Os movimentos são nítidos. Em Minas, por exemplo, o pacto Aécio-Pimentel reservou para um aliado de Ciro Gomes a candidatura a prefeito de Belo Horizonte.

Neste momento, essa costura é o lance mais relevante da política brasileira com vistas a 2010.

Mas é importante entender o papel de cada ator político.

Com essa história do “dossiê-relatório-banco de dados”, a mídia mais uma vez forçou a barra e deu um grande foco ao atingido: a Ministra Dilma (estou me baseando na avaliação de Jutahy Magalhães, reproduzida na coluna da Eliana Cantanhêde, de que Dilma passou a ter visibilidade nas pesquisas eleitorais).

Mas – na minha opinião – Dilma não é candidata a presidente. Ela é a vice que todo candidato a presidente gostaria de ter, o coringa que garante a canastra.

Em Minas, Aécio mostrou a fórmula imbatível: um baita gestor, Antonio Anastasia, como vice-governador, conferindo-lhe o comando gerencial do Estado; e o governador atuando como agente político, fazendo as costuras. Lula repetiu a fórmula com Dilma, embora se envolva mais no dia-a-dia que Aécio.

Essa, em minha opinião, será a fórmula da candidatura de Lula à presidência: um animal político como candidato a presidente e Dilma como a avalista de gestão.

E aí se entra na questão central. O PT não tem um candidato a presidente. O grande nome do partido, hoje em dia, seria Patrus Ananias. Mas não para presidente. Patrus continua candidato a santo e a gestor da mais importante política do governo Lula: o Bolsa Família. Mas não tem perfil para o jogo pesado da política, a capacidade de endurecer e conceder, montar alianças.

Sem candidato, Lula terá que abrir a candidatura a alguém de fora do PT – é por aí que se entendem as manifestações do partido pelo 3º Mandato.

Nesse quadro, Aécio teria mais dificuldades de emplacar a dobradinha com Dilma, por ser um tucano – ainda que diferenciado do radicalismo tucano de São Paulo.

A figura mais forte passaria a ser Ciro Gomes. Pesa contra ele seu temperamento explosivo. Nas últimas eleições supunha-se que estivesse mais maduro, mas deixou-se levar pela emoção. Em 2010 estará quatro anos mais velho. Se persistir a polarização irracional mídia-governo, será certamente o candidato – e não propriamente para promover a conciliação.

Vejam bem: a Presidência da República, hoje em dia, é um poder fraco em qualquer democracia representativa. Está permanentemente suscetível a movimentos desestabilizadores da mídia com a oposição. No Brasil, ocorreu com Collor, em certa escala com FHC, em grande escala com Lula. Ocorre hoje na Argentina, com Cristina Kirschner. Ocorreu na Venezuela, com o neoliberal Carlos Andrés Peres e quase ocorreu com o nacional-populismo de Hugo Chávez.

FHC não caiu devido à sua habilidade política; Lula devido à habilidade política e ao carisma. O preço da sobrevivência foi a inércia na política econômica.

Ciro é antenado com temas contemporâneos, amadureceu desde os tempos desastrosos como Ministro da Fazenda, passa segurança de que tem estômago forte para agüentar tranco, e começou a enfrentar – como político – o poder mais barra pesada que esse país conheceu nas últimas décadas: o jornalismo difamatório de Veja.

Tem visão crítica sobre a política econômica, assim como José Serra. Mas não está amarrado aos compromissos que, dia a dia, fazem o discurso de Serra se diluir cada vez mais.

Se tivesse que fazer uma aposta, agora, seria em Ciro-Dilma como candidatos do governo; José Serra como candidato da oposição PSDB-DEM; Heloisa Helena, como candidata do protesto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...

No pior clube

O livro O Crepúsculo da Democracia, da escritora e jornalista norte-americana Anne Applebaum, começa numa festa de Réveillon. O local: Chobielin, na zona rural da Polônia. A data: a virada de 1999 para o ano 2000. O prato principal: ensopado de carne com beterrabas assadas, preparado por Applebaum e sua sogra. A escritora, que já recebeu o maior prêmio do jornalismo nos Estados Unidos, o Pulitzer, é casada com um político polonês, Radosław Sikorski – na época, ele ocupava o cargo de ministro do Interior em seu país. Os convidados: escritores, jornalistas, diplomatas e políticos. Segundo Applebaum, eles se definiam, em sua maioria, como “liberais” – “pró-Europa, pró-estado de direito, pró-mercado” – oscilando entre a centro-direita e a centro-esquerda. Como costuma ocorrer nas festas de Réveillon, todos estavam meio altos e muito otimistas em relação ao futuro. Todos, é claro, eram defensores da democracia – o regime que, no limiar do século XXI, parecia ser o destino inevitável de toda...