Pular para o conteúdo principal

Lugo eleito: agora só falta a Colômbia

Só não vê quem não quer: depois do retumbante fracasso do neoliberalismo na América Latina, os povos do continente foram mandando para casa, um a um, os governantes que realizaram, entre as décadas de 80 e a virada do século, as tais reformas neoliberais. No lugar de Cardoso, Menem, Fujimori e tantos outros menos votados, foram sendo substituídos por políticos à esquerda de seus antecessores. Sim, há os mais moderados, como no Chile e Brasil, e os mais radicais (Venezuela, Bolívia e Equador), mas o fato é que praticamente todo o continente foi varrido pela onda vermelha (ou rosa...) porque a população reprovou o que viu e viveu no final do século 20. Com a vitória do bispo Fernando Lugo no Paraguai, dos países importantes da América Latina, apenas a Colômbia ainda é governada por forças de direita (e, segundo as pesquisas, vai continuar sendo por mais um mandato, salvo surpresas).

No caso de Lugo, ainda não está claro se ele é do time dos radicais ou se a promessa de renegociar a energia de Itaipu era só bravata de campanha. No Brasil, os jornais conservadores já estão tratando o novo presidente paraguaio como uma versão piorada do "índio" Evo Morales, presidente da Bolívia. O preconceito contra os governantes mais radicais da América Latina (e contra o próprio PT, no Brasil) é antes de tudo um preconceito anti-povo: as tradicionais famílias controladoras dos grandes conglomerados de mídia do Brasil simplesmente não conseguem conceber um regime em que a massa ignara não se oriente pelas sábias palavras que seus jornalões publicam ou que seus telejornais martelam. O chato deste negócio de democracia é que com o tempo, a coisa funciona e o povão começa a levar a sério a idéia de ser dono dos seus próprios rumos. Para desespero da aristocracia midiática, aqui e no resto da América Latina também...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe