Pular para o conteúdo principal

Buraco é o primeiro teste de Serra

Tragédia à parte, a cratera aberta no bairro de Pinheiros, em São Paulo, é o primeiro teste de fogo para o governador José Serra (PSDB). Até agora, ele tem se portado bem, embora tenha sido um tanto lacônico em suas declarações à imprensa: esteve no local do acidente, mostrou estar no comando do processo, enfim, fez o papel que lhe cabe. O prefeito Gilberto Kassab (PFL), aliás, tem se mostrado um pouco mais presente, mas o fato é que Serra também tem aparecido e dado a cara para bater.

O jogo, no entanto, está só começando. Como bem lembrou o jornalista Fernando Rodrigues em seu blog, o desgaste será maior à medida que os mortos começarem a aparecer. Serão questionados os procedimentos adotados (a busca não começou tarde demais?) e a opinião pública vai querer saber direitinho de quem foi a culpa pelo desastre. Aí sim, o governador terá que mostrar habilidade.

Além dos mortos e dos vizinhos prejudicados pelo desabamento, Serra ainda terá que arcar com o desgaste de enventuais atrasos nas obras e precisará decidir sobre o modelo que foi adotado pelo seu antecessor Geraldo Alckmin para a construção do Metrô paulistano. As duas opções são complicadas politicamente: romper ou rever um contrato significa ir de encontro com tudo que os tucanos sempre pregaram, além do óbvio reconhecimento de que houve erro na adoção do modelo durante a gestão tucana de Alckmin; manter as coisas como estão implica na permanência do poder público mais distante do controle das obras em andamento. Conhecendo o caráter controlador de Serra, é bem possível que ele queira mudar o modelo, mas ainda é cedo para especular a respeito, pois o problema tem muitas variáveis e o contrato certamente possui cláusulas sobre procedimentos a responsabilidades em casos de acidentes.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Abaixo o cancelamento

A internet virou o novo tribunal da inquisição — e isso é péssimo Só se fala na rapper Karol Conká, que saiu do BBB, da Rede Globo, com a maior votação da história do programa. Rejeição de 99,17% não é pouca coisa. A questão de seu comportamento ter sido odioso aos olhos do público não é o principal para mim. Sou o primeiro a reconhecer que errei muitas vezes. Tive atitudes pavorosas com amigos e relacionamentos, das quais me arrependo até hoje. Se alguma das vezes em que derrapei como ser humano tivesse ido parar na internet, o que aconteceria? Talvez tivesse de aprender russo ou mandarim para recomeçar a carreira em paragens distantes. Todos nós já fizemos algo de que não nos orgulhamos, falamos bobagem, brincadeiras de mau gosto etc… Recentemente, o ator Armie Hammer, de Me Chame pelo Seu Nome, sofreu acusações de abuso contra mulheres. Finalmente, através do print de uma conversa, acabou sendo responsabilizado também por canibalismo. Pavoroso. Tudo isso foi parar na internet. Ergue

Rogério Andrade, o rei do bicho

No dia 23 de novembro do ano passado, o pai de Rodrigo Silva das Neves, cabo da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi ao batalhão da PM de Bangu, na Zona Oeste carioca, fazer um pedido. O homem, um subtenente bombeiro reformado, queria que os policiais do quartel parassem de bater na porta de sua casa à procura do filho — cuja prisão fora decretada na semana anterior, sob a acusação de ser um dos responsáveis pelo assassinato cinematográfico do bicheiro Fernando Iggnácio, executado com tiros de fuzil à luz do dia num heliporto da Barra da Tijuca. Quando soube que estava sendo procurado, o PM fugiu, virou desertor. Como morava numa das maiores favelas da região, a Vila Aliança, o pai de Neves estava preocupado com “ameaças e cobranças” de traficantes que dominam o local por causa da presença frequente de policiais. Antes de sair, no entanto, o bombeiro confidenciou aos agentes do Serviço Reservado do quartel que, “de fato, seu filho trabalhava como segurança do contraventor Rogério And

OCDE e o erro do governo na gestão das expectativas

O assunto do dia nas redes é a tal negativa dos Estados Unidos para a entrada do Brasil na OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Enquanto os oposicionistas aproveitam para tripudiar, os governistas tentam colocar panos quentes na questão, alegando que não houve propriamente um veto à presença do Brasil no clube dos grandes, a Série A das nações. Quem trabalha com comunicação corporativa frequentemente escuta a frase "é preciso gerenciar a expectativa dos clientes". O problema todo é que o governo do presidente Bolsonaro vendeu como grande vitória a entrada com apoio de Trump - que não era líquida e certa - do país na OCDE. Ou seja, gerenciou mal a expectativa do cliente, no caso, a opinião pública brasileira. Não deixa de ser irônico que a Argentina esteja entrando na frente, logo o país vizinho cujo próximo governo provavelmente não será dos mais alinhados a Trump. A questão toda é que o Brasil não "perdeu", como o pobre Fla-Flu que impe