Qualquer semelhança entre a minissérie “Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil” e o macabro hotel da quinta temporada de “American Horror Story” não é mera coincidência. A série de Ryan Murphy de fato se inspirou no Hotel Cecil e seu longo histórico de tragédias, aqui recapitulado. Mortes chocantes ocorrem em suas dependências desde a década de 1920, quando um pai de família deu um tiro na cabeça após tentar se reconciliar com a mulher. Seguiram-se outros suicídios, múltiplas mortes inexplicáveis e pelo menos dois assassinatos, a exemplo do caso de Dorothy Purcell, uma jovem de 19 anos que atirou seu bebê recém-nascido pela janela. Foi também no Hotel Cecil onde a atriz Elizabeth Short (1924-1947), conhecida como a Dália Negra, foi vista pela última vez, resenha Luciano Buarque de Holanda no Valor, em texto publicado sexta, 16/4. Continua a seguir.
Atualmente fechado para reformas, o Cecil já foi sinônimo de luxo e glamour, com sua imponente fachada em estilo belas-artes erguendo-se no coração de Hollywood, bem no centro de Los Angeles. Mas esse auge durou pouco.
Em 1929, apenas cinco anos após sua inauguração, o hotel sofreu seu primeiro baque com a chegada da Grande Depressão. Ainda levaria décadas, no entanto, até se tornar o monumental cortiço visto no filme dos irmãos Coen “Barton Fink - Delírios de Hollywood” (1991).
Num dos seus períodos mais críticos, nos anos 1980, o entorno do hotel era um imenso reduto de desabrigados, equivalente à Cracolândia de São Paulo - uma área conhecida como Skid Row.
Traficantes, viciados e prostitutas, então, formavam parte substancial de sua clientela. Nessa mesma época, o Cecil abrigou ninguém menos que Richard Ramirez (196-2013), o “perseguidor noturno”, infame assassino serial retratado em outra minissérie da Netflix, “Night Stalker”. Dizem que ele era visto voltando ao seu quarto todo coberto de sangue. Ninguém se importava.
Parte dessa área foi razoavelmente revitalizada, mas a reputação do Cecil não melhorou - pelo contrário. Isso por conta do caso Elisa Lam, amplamente noticiado em 2013. Não foi apenas a primeira morte registrada no hotel na era digital, como também a mais bizarra e perturbadora de todas.
É o tema central de “Mistério e Morte no Hotel Cecil”, minissérie documental dividida em quatro episódios, com direção do vencedor do Emmy Joe Berlinger (“Paradise Lost”, “Conversando com um Serial Killer: Ted Bundy”), um expert em retratos de crimes reais.
Estudante canadense, Elisa Lam pôde viajar sozinha à Califórnia sob a condição de que telefonaria aos pais diariamente. No dia 1º de fevereiro, justamente quando deveria fazer o “check-out” no Cecil, porém, ela não deu notícias.
Alarmados, os pais contataram a polícia de Los Angeles, que dentro de alguns dias reuniria a imprensa para oficializar o início das buscas. Antes de ser encontrada em decomposição na caixa d’água do hotel, um vídeo mostrando suas últimas imagens em vida tornou-se viral na internet.
Embora já muito difundido no YouTube, o vídeo ainda é o momento mais eletrizante do documentário. Captadas por uma câmera de segurança, as imagens mostram Elisa comportando-se de forma errática enquanto espera um elevador, apertando repetidamente os botões.
Num dado momento, ela sai do elevador e passa a gesticular de modo estranho. Um dos entrevistados de “Mistério e Morte no Hotel Cecil” nota que ela parece estar conjurando um espírito.
Sinistro, o caso é envolto em especulações e teorias conspiratórias, muitas delas de teor sobrenatural. Joe Berlinger escuta vários lados e não evita o sensacionalismo barato, mas é difícil não sentir o impacto da narrativa.
Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil. EUA - 2021. Dir.: Joe Berlinger. Onde: Netflix / BBB
AAA Excepcional / AA+ Alta qualidade / BBB Acima da média / BB+ Moderado / CCC Baixa qualidade / C Alto risco
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