Pular para o conteúdo principal

Fome, o efeito mais nefasto da pandemia

Abertura da Newsletter da LAM Comunicação. 


Um dos efeitos mais cruéis da pandemia da Covid-19 no Brasil é o recrudescimento de um fenômeno que havia sido minimizado por políticas públicas desde a gestão FHC: a fome. Quem anda pelas metrópoles brasileira já consegue identificar o aumento de pedintes nas ruas, muitos com cartazes reportando estar sem emprego e renda, precisando de ajuda para comer.

No ano passado, o auxílio emergencial de R$ 600 mensais garantiu alimentação para muitos brasileiros e a redução do valor neste ano está deixando uma parcela relevante da população a ter dificuldades para sobreviver. Ainda que a economia venha a se recuperar com o retorno das atividades, a situação já gerou o lançamento de alguns movimentos de arrecadação de recursos e comida, como o liderado pela ONG Gerando Falcões, que lida com a situação em favelas e já conseguiu mais de R$ 15 milhões em poucas semanas de campanha.

O Brasil é um país complexo e muito desigual. Quase 15 milhões de pessoas estão sem emprego e ao mesmo tempo falta mão de obra para alguns segmentos, em especial o de tecnologia. Enquanto pessoas passam fome, o mercado de luxo teve os melhores resultados no ano passado: com a impossibilidade de viajar com a frequência do período pré-coronavírus, a elite gastou por aqui mesmo, conforme revelam dados e a entrevista do arquiteto Arthur Casas ao Valor – a demanda em seu escritório, voltado para projetos de alto luxo, aumentou 30% no ano passado. 

No fundo, a pandemia escancara antigos problemas do país, que nunca conseguiu resolver a questão da desigualdade social. Os programas sociais iniciados por Fernando Henrique Cardoso e continuado pelas gestões do PT foram importantes e tiveram resultados significativos, parte deles ainda está em vigor com Bolsonaro no poder, outros foram abandonados, como a política de reajuste do salário mínimo. 

Não há consenso entre os economistas sobre o que poderia ser feito para avançar mais rapidamente na solução deste problema histórico, mas algumas medidas simples poderiam ajudar, como uma tributação mais justa, que taxasse grandes fortunas e dividendos. Muitos empresários já tomaram para si a tarefa por iniciativa própria, doando recursos para campanhas de doação, porém se esta não for uma prática sistemática, continuaremos longe de solucionar a questão. 

Neste momento de emergência, as campanhas de solidariedade como a da Gerando Falcões podem até minimizar um pouco o sofrimento, mas não vão resolver de forma definitiva a fome no Brasil. Quando o ex-presidente Lula assumiu o governo em 2003, criou o programa Fome Zero, que também não funcionou até mudar de formato e se transformar no Bolsa Família. O que o país precisa agora é de um esforço contundente para alimentar todos os brasileiros, recursos para isto existem, basta priorizar a questão. (por Luiz Antonio Magalhães em 18/4/21)  



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Um pai

Bruno Covas, prefeito de São Paulo, morreu vivendo. Morreu criando novas lembranças. Morreu não deixando o câncer levar a sua vontade de resistir.  Mesmo em estado grave, mesmo em tratamento oncológico, juntou todas as suas forças para assistir ao jogo do seu time Santos, na final da Libertadores, no Maracanã, ao lado do filho.  Foi aquela loucura por carinho a alguém, superando o desgaste da viagem e o suor frio dos remédios.  Na época, ele acabou criticado nas redes sociais por ter se exposto. Afinal, o que é o futebol perto da morte?  Nada, mas não era somente futebol, mas o amor ao seu adolescente Tomás, de 15 anos, cultivado pela torcida em comum. Não vibravam unicamente pelos jogadores, e sim pela amizade invencível entre eles, escreve Fabrício Carpinejar em texto publicado nas redes sociais. Linda homenagem, vale muito a leitura, continua a seguir.  Nos noventa minutos, Bruno Covas defendia o seu legado, a sua memória antes do adeus definitivo, para que s...

Dica da Semana: Tarso de Castro, 75k de músculos e fúria, livro

Tom Cardoso faz justiça a um grande jornalista  Se vivo estivesse, o gaúcho Tarso de Castro certamente estaria indignado com o que se passa no Brasil e no mundo. Irreverente, gênio, mulherengo, brizolista entusiasmado e sobretudo um libertário, Tarso não suportaria esses tempos de ascensão de valores conservadores. O colunista que assina esta dica decidiu ser jornalista muito cedo, aos 12 anos de idade, justamente pela admiração que nutria por Tarso, então colunista da Folha de S. Paulo. Lia diariamente tudo que ele escrevia, nem sempre entendia algumas tiradas e ironias, mas acompanhou a trajetória até sua morte precoce, em 1991, aos 49 anos, de cirrose hepática, decorrente, claro, do alcoolismo que nunca admitiu tratar. O livro de Tom Cardoso recupera este personagem fundamental na história do jornalismo brasileiro, senão pela obra completa, mas pelo fato de ter fundado, em 1969, o jornal Pasquim, que veio a se transformar no baluarte da resistência à ditadura militar no perío...

Dica da semana: Nine Perfect Strangers, série

Joia no Prime traz drama perturbador que consagra Nicole Kidman  Dizer que o tempo não passou para Nicole Kidman seria tão leviano quanto irresponsável. E isso é bom. No charme (ainda fatal) de seus 54 anos, a australiana mostra que tem muita lenha para queimar e escancara o quanto as décadas de experiência lhe fizeram bem, principalmente para composição de personagens mais complexas e maduras. Nada de gatinhas vulneráveis. Ancorando a nova série Nine Perfect Strangers, disponível na Amazon Prime Video, a eterna suicide blonde de Hollywood – ok, vamos dividir o posto com Sharon Stone – empresta toda sua aura de diva para dar vida à mística Masha, uma espécie de guru dos novos tempos que desenvolveu uma técnica terapêutica polêmica, pouco acessível e para lá de exclusiva. Em um lúdico e misterioso retiro, a “Tranquillum House”, a exotérica propõe uma nova abordagem de tratamento para condições mentais e psicossociais manifestadas de diferentes formas em cada um dos nove estranhos, “...